Título: Das sete principais estatais elétricas, quatro são comandadas pelo PMDB
Autor: Agostine, Cristiane ; Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2009, Politica, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo para mediar os conflitos políticos gerados pelo apagão e manter intacta a partilha partidária do setor elétrico. Em véspera de ano eleitoral, o governo quer evitar desgaste com pemedebistas para preservar a aliança nacional com o partido para 2010. A intervenção do presidente Lula ocorrerá no caso de novos blecautes, como o que atingiu 18 Estados nesta semana. O presidente quer evitar que o apagão atinja a candidatura da ministra Dilma Rousseff e também a aliança que a apoiará.

O apagão gerou divergências entre PT e PMDB, com cobranças de petistas sobre o grupo político que controla o Ministério de Minas e Energia, chefiado pelo ministro Edison Lobão (PMDB), apadrinhado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB). Ontem, petistas e pemedebistas evitaram alimentar a discordância. Segundo um petista ligado ao setor elétrico, a ordem do presidente Lula é "não gerar crise com o PMDB".

O presidente Lula já teve de mediar conflitos entre pemedebistas ligados a Sarney e Lobão e o grupo vinculado à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia. Um exemplo é a indicação de José Antonio Muniz, afilhado político de Sarney à presidência da Eletrobrás. Dilma tinha como candidato ao cargo Flávio Decat de Moura - também do PMDB, que acabou ficando com a diretoria de distribuição da estatal. O presidente interveio e decidiu pela indicação de Muniz.

O controle do setor elétrico divide-se entre Sarney e Dilma. O pemedebista articula nomeações e indica os principais cargos nas estatais, enquanto a ministra monitora todas as empresas por meio de pessoas de sua confiança. Aliados de Dilma têm interlocução direta com o Palácio do Planalto e podem interferir no comando das estatais quando julgam necessário. Os casos mais notórios são do diretor de engenharia da Eletrobrás, Valter Cardeal, e do diretor de planejamento da Eletronorte, Adhemar Palocci (irmão do ex-ministro Antonio Palocci). Ligados ao PT e à ministra Dilma, ambos exercem um poder paralelo nas duas estatais. Até mesmo no Ministério de Minas e Energia, Dilma mantém ascendência sobre funcionários de segundo e terceiro escalões, exercendo o poder compartilhado com os pemedebistas.

O PMDB é o partido com mais diretorias no sistema Eletrobrás, que compreende Chesf, Furnas, Eletrosul, Eletronorte, Eletronuclear e CGTEE.

O setor elétrico estatal, que no governo Fernando Henrique Cardoso esteve sob o comando do PFL (hoje DEM) baiano, então liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães, tem, historicamente, forte presença da ala do PMDB liderada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), especialmente na região Norte.

No governo Lula, embora o Ministério de Minas e Energia tenha sido inicialmente entregue a Dilma, a ala pemedebista de Sarney já começou fortalecida, com Silas Rondeau, vindo da presidência da Eletronorte, comandando a Eletrobrás, holding federal de geração e distribuição de energia que tem sob seu guarda-chuva as gigantes Furnas, Eletronorte, Chesf e Eletrosul.

Com a queda de José Dirceu (PT) da Casa Civil, envolvido no episódio do mensalão, Lula puxou Dilma para a Casa Civil e abriu espaço para chegada do PMDB sarneyista ao topo do setor, assumindo o ministério. Rondeau caiu em 2007, acusado pela Polícia Federal de ter recebido propina de R$ 100 mil do empreiteiro Zuleido Veras, da construtora Gautama, e o governo deixa por vários meses em seu lugar, interinamente, o atual diretor-geral da Agência Nacional de Energia elétrica (Aneel), Nelson Hübner, que é muito próximo da ministra Dilma Rousseff.

Em janeiro de 2008, o senador Edison Lobão (PMDB-MA), outro membro destacado do clã Sarney, assumiu em definitivo o lugar deixado por Rondeau, dando continuidade à liderança do grupo sobre o setor. O organograma atual de partilha política da área de energia mostra esse comando do PMDB de Sarney, em muitos casos, compartilhado minoritariamente por presenças de petistas ligados à ministra Dilma. Há concessões locais, como é o caso de Furnas, entregue ao PMDB do Rio de Janeiro, tendo como principal mentor o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O atual presidente de Furnas, Carlos Nadalucci Filho, notabilizou-se pela tentativa de substituir, antes do final do mandato, o ex-presidente da Fundação Real Grandeza, fundo de pensão dos empregados de Furnas e Eletronorte, Sérgio Fontes.

Com a saída de Fábio Resende, homem de confiança do PT da diretoria de operações de Furnas, o governo indicou Luís Fernando Paroli Santos, ligado ao deputado Odair Cunha (PT-MG), para a diretoria de gestão corporativa. O sucessor de Resende é Cesar Ribeiro Zani, funcionário de carreira da estatal. A diretoria da estatal está dividida com indicações de Sarney e de Eduardo Cunha, mas há ainda influência de Dimas Toledo, ex-diretoria de engenharia da estatal que foi afastado depois de denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que havia um esquema de caixa dois na estatal em julho de 2005.

PT, PSB, PR e PRB também têm indicados políticos no sistema. PRB e PR têm influência em Furnas; PSB comanda a Companhia Hidrelétrica do S. Francisco (Chesf).

A Eletronorte é território do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), mas o conselho de administração da empresa tem entre seus membros Luiz Alberto Santos, funcionário de confiança de Dilma. Na Eletrobrás, o presidente, José Antônio Muniz, e o diretor financeiro, Astrogildo Quental, são ligados a Sarney. O diretor administrativo, Miguel Colasuonno, foi indicado pelo presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia. A presidência e a diretoria financeira são ocupadas por afilhados de Sarney. Também é dele a indicação do gestor das seis distribuidoras federalizadas em Estados das regiões Norte e Nordeste.