Título: Apagão afeta rotina de indústrias de consumo intensivo de energia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2009, Brasil, p. A6

O apagão pegou de surpresa indústrias de consumo intensivo de energia, como a mineradora Vale, as siderúrgicas CSN e Gerdau e as petroquímicas Basf e Quattor. A CSN teve de desligar equipamentos secundários, como os de galvanização e reduzir ritmo de atividade dos alto-fornos, laminação, coqueria e aciaria. O complexo de Tubarão, da Vale, em Vitória, no Espírito Santo, parou, e a Basf paralisou o Complexo Químico de Guaratinguetá, em São Paulo.

As companhias ainda não calcularam as perdas de produção provadas pela falta de energia . Ricardo Lima, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace), disse que os setores siderúrgico, petroquímico e de papel e celulose consomem entre 200 Mw e 500 Mw de energia. "Não há geração própria que sustente este consumo", afirmou.

Em Volta Redonda, as altas chamas produzidas pela queima de gás dos fornos da coqueria da CSN, que haviam sido abafados para serem protegidos do blecaute, assustaram a população de Volta Redonda, como conta Edmilson Alvarenga, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos local. "O comentário de que a CSN estava pegando fogo foi geral", disse Alvarenga. A indústria de aço, que fica dentro da cidade, ficou toda apagada, ressaltando ainda mais o brilho das labaredas.

"Em geral, estes gases da coqueria são jogados na atmosfera. Mas, quando falta energia, eles são queimados dentro de válvulas de segurança. Foi este fogo que assustou as pessoas, mas não aconteceu nada sério, a não ser alguma perda de produção na companhia", informou o sindicalista.

Apesar de ter uma usina termelétrica com capacidade de 210 MW, a CSN tem um consumo de energia equivalente ao do Distrito Federal, em torno de 480 MW. Por isto, recebe também energia das hidrelétricas de Itá (130 Mw) e de Igarapava (167 Mw). Como elas pertencem ao Sistema Interligado Nacional, foram afetadas pelo apagão, obrigando a usina a reduzir sua produção. A CSN produz de 10 mil a 20 mil toneladas de aço bruto por dia, somando 5,6 milhões de toneladas anuais.

A Vale teve problemas de falta de energia no Sistema Sul, que inclui os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O Valor apurou que todo o complexo de Tubarão, incluindo o porto e as sete usinas pelotizadoras da companhia, foi paralisado pelo apagão. O consumo de energia deste complexo é muito alto, razão pela qual a Vale não dispõe de térmicas para abastecê-lo, como acontece em indústrias menores. A atividade das pelotizadoras já está sendo retomada. As perdas destas plantas ainda estão sendo contabilizadas pela Vale. Os embarques de minério não foram prejudicados, porque a Vale tem estoques.

A assessoria da Vale não informou sobre a Valesul. A empresa produz alumínio e está parcialmente paralisada desde o início da crise financeira, quando teve suas cubas desligadas. Segundo informaram sindicalistas , a Valesul não deve ter sido afetada pelo blecaute, porque está "praticamente parada". A indústria fluminense tinha 650 empregados, reduzidos agora a apenas cem.

Em nota, o grupo Gerdau divulgou nota, informando que suas unidades industriais sofreram interrupção de produção na região Sudeste. No entanto, não revelou quais foram prejudicadas pelo falta de energia e em que volume. Segundo o comunicado, as unidades voltaram a operar normalmente sem problemas no fornecimento de seus produtos. Analistas do setor siderúrgico destacaram que a Gerdau, fabricante de aços longos, é muito dependente de energia, pois usa a tecnologia de redução direta para produzir aço na base do forno elétrico, como acontece na Cosigua, unidade do Rio, onde fabrica aço de sucata.

As indústrias petroquímicas, que são grandes consumidoras de energia elétrica, também sofreram com o blecaute. A Basf foi uma das indústrias mais afetadas pelo apagão. Das 13 plantas da empresa, 12 foram obrigadas a parar a produção de polímeros, produtos químicos, medicamentos, tintas, catalisadores, entre outros. Segundo a assessoria da empresa, os geradores de emergência não têm capacidade para suportar a manutenção da produção por um período tão longo quanto o verificado durante o apagão de terça-feira.

A Basf ainda não conseguiu mensurar o prejuízo, mas confirmou a paralisação do Complexo Químico de Guaratinguetá, em São Paulo, o segundo maior centro de produtos para agricultura da empresa no mundo, com 13 unidades e fabricante de mais de 1.500 produtos para as mais diversas aplicações industriais.

Na petroquímica Quattor, o blecaute provocou o acionamento do sistema de segurança da Unidade Químicos Básicos, localizada no polo petroquímico do Grande ABC, em São Paulo. O fato gerou grande luminosidade decorrente da queima de gases, como aconteceu na CSN. Mas os sistemas de emergência garantiram a segurança das pessoas envolvidas no processo, dos moradores do entorno e da própria planta.