Título: Eletronuclear decreta "estado de emergência" em Angra 1 e 2
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2009, Brasil, p. A8

Pela primeira vez, a Eletronuclear decretou "estado de alerta" nas usinas Angra 1 e Angra 2, em decorrência da demora no retorno do abastecimento externo de energia elétrica para permitir o funcionamento do "sistema primário" de refrigeração dos reatores. Por falta de energia externa as usinas foram obrigadas a parar, seguindo normas de segurança. O diretor de Operações da Eletronuclear, Pedro Figueiredo, disse não houve risco para a população.

As usinas Angra 1 e 2, que integram o Sistema Interligado Nacional (SIN), fornecendo no conjunto até 1.950 megawatts de energia, não possuem sistema próprio de geração para funcionamento da totalidade dos seus motores auxiliares (os que movimentam as utilidades das próprias usinas). Dependem de energia fornecida a partir de subestação de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, por meio de uma linha de 138 kilovolts (kV).

Figueiredo explicou que, quando fornecimento externo foi interrompido, as usinas pararam a geração de energia, sendo desconectadas do SIN. A partir daí, foram acionados os geradores a diesel do complexo para manter em funcionamento emergencial os equipamentos das duas usinas.

Como a geração a diesel não é suficiente para acionar a refrigeração dos reatores, eles passaram a ser resfriados pelo que a subsidiária da Eletrobrás chama de "circulação natural". Figueiredo explicou que essa forma de arrefecimento funciona como se o reator fosse posto sobre uma superfície líquida sobre a qual fica girando, reduzindo a temperatura da parte em contato com o líquido.

Embora, segundo ele, essa forma de refrigeração seja adotada universalmente para tais situações e não ofereça perigo, desde que haja diesel para os geradores, trata-se de condição operacional incomum. Por isso, seguindo normas internacionais de segurança, a empresa foi obrigada a decretar inicialmente "estado de evento não usual", ENU, no jargão setorial.

Com a demora no retorno da energia externa para restabelecer a normalidade, a empresa decidiu, às 23h15, elevar a classificação para "estado de alerta", segundo Figueiredo, dada a falta de perspectiva de retorno da energia do SIN. A volta da linha de 138 kV permitiu o retorno a ENU às 0h36 em Angra 1 e 0h55 em Angra 2. Somente após a volta da energia geral o ENU foi encerrado, às 2h05 em Angra 1 e às 4h10 em Angra 2. Figueiredo disse que há quatro anos houve outro evento no qual as duas usinas ficaram sem energia por quatro horas, mas não chegou a ser decretado estado de emergência.

Ele disse ainda que a Prefeitura de Angra dos Reis e a Defesa Civil Estadual foram avisadas da situação, mas com a recomendação de que não havia necessidade de nenhuma providência especial. Uma mobilização só seria necessária em um estado de emergência geral, quarta classificação em uma série que começa pelo ENU, passa pelo estado de alerta e estado de emergência de área.

Figueiredo disse ainda que Angra 2 precisa de dois geradores a diesel para funcionamento emergencial, mas dispõe de oito (quatro grandes e quatro pequenos). Já Angra 1 precisa de um, mas tem quatro. Além disso, segundo ele, a empresa opera com estoque de diesel para oito dias. A Eletronuclear informou que Angra 1 retomou a operação às 17h50 e Angra 2, às 19h de ontem. Ele disse que está em estudo a instalação de sistemas de geração própria mais potentes para que as usinas possam ter funcionamento interno pleno.