Título: PT e PMDB trocam acusações sobre apagão
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2009, Política, p. A12

O apagão que atingiu 18 Estados na noite de terça-feira gerou desentendimentos entre PT e PMDB e reanimou a oposição a fazer críticas à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes mesmo de o governo explicar o motivo do blecaute, petistas demonstraram insatisfação com o grupo político que controla o Ministério de Minas e Energia, chefiado pelo ministro Edison Lobão (PMDB), todos apadrinhados do presidente do Senado, José Sarney. Em contrapartida, pemedebistas desvincularam-se do problema e cobraram esclarecimentos do governo federal.

Ontem, petistas cobraram no Congresso explicações de Lobão sobre o blecaute. "Quando Dilma [Rousseff] era ministra, não tivemos nenhum apagão", disse a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC). Antes de assumir a Casa Civil, a ministra Dilma Rousseff comandou o Ministério de Minas e Energia e mantém agora estreita ligação com o grupo de Sarney que atua na área da energia. Do plenário do Senado, o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), pediu a presença do ministro Lobão no Congresso, para esclarecer o problema. "Ele é responsável pela Pasta. Ocorreu na gestão dele e ele deve esclarecimentos à nação", declarou. "Esse caso não tem nenhuma relação direta com Dilma", disse Mercadante.

O PMDB, no entanto, cobrou respostas rápidas do governo sobre as causas do apagão, para evitar que o fato seja explorado politicamente pela oposição. A avaliação de dirigentes pemedebistas é que o episódio só não trará danos políticos ao governo se ficar provado que o apagão não foi causado por má gestão e se a população for tranquilizada quanto a salvaguardas do sistema. Mas, se houver dúvidas quanto a eficiência da atuação do governo, o apagão pode tornar-se arma eleitoral da oposição. "A opinião pública vai exigir uma resposta rápida do governo, que tem obrigação de dar uma satisfação cabal do que aconteceu, porque foi muito grave", avaliou o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). "Se as causas não forem descobertas, quem garante que não acontecerá de novo?", questionou.

Ao comentar o caso, Sarney disse que o apagão revelou uma "certa fragilidade do sistema de energia", atualmente comandado pelo grupo do PMDB ligado a ele e ao ministro Lobão. Fragilidade esta que o ministro Lobão contestou na entrevista coletiva em que explicou o apagão.

Apesar das divergências dentro da base governista, petistas e pemedebistas uniram-se para defender o governo das críticas da oposição e rejeitaram semelhança do blecaute com o ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso, que levou a um racionamento. "No governo FHC o que houve foi falta de energia, falta de investimento em energia. Agora, investimento é o que não falta. O que houve foi um acidente", disse o deputado Eduardo Cunha (RJ), integrante da cúpula do PMDB com ligações com o setor elétrico, em Furnas.

A oposição explorou fartamente o apagão, dez anos depois de o PT criticar o racionamento elétrico ocorrido no governo FHC. O deputado Luiz Carlos Aleluia (DEM-BA) responsabilizou diretamente a ministra Dilma pelo apagão. "Foi um erro da ministra. Ela é responsável. Ela garantiu que não haveria apagão. Com sua arrogância, desprezou engenheiros e ouviu economistas que desconhecem o sistema". Segundo ele, o que houve foi um "erro no planejamento operacional do sistema, que estava operando com excesso de risco". O acidente alegado pelo governo, de acordo com Aleluia, foi "irrelevante". O apagão só ocorreu, segundo ele, porque as usinas térmicas colocadas depois do apagão de 99 para aumentar a estabilidade do sistema estavam desligadas. "O governo federal é responsável por deixar que isso ocorra. Pagamos pelas usinas e não temos a energia. Esse é o modelo da Dilma", afirmou.

O líder do PPS na Câmara, Fernando Coruja (SC), afirmou que o apagão ajudará a "desconstruir" a imagem de Dilma como boa técnica e gestora. Para Coruja, o "blecaute pode ofuscar seriamente a candidatura dela porque é um macroincidente e que traz consequências internas e repercussões internacionais". Segundo Coruja, a ministra recebeu em julho recomendação do Tribunal de Contas da União para que fosse verificada a adequação da estrutura dos órgãos ligados ao setor elétrico, para planejamento e expansão do setor, para afastar os riscos de um apagão de energia. O documento alerta para o risco de "haver no futuro graves prejuízos à nação", se as providências não fossem tomadas. Coruja cobrou de Dilma explicações sobre que providências foram tomadas.

No Senado, os parlamentares devem votar hoje na Comissão de Infraestrutura requerimento apresentado pela oposição pedindo a convocação dos ministros Edison Lobão e Dilma Rousseff para prestar esclarecimentos sobre o apagão. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que os ministros precisam explicar se o nível de investimento no setor é compatível com a necessidade do país, como os investimentos estão sendo feito e qual é o cronograma de obras para o setor elétrico. Além disso, cobrou Virgílio, eles deverão informar que providências o governo está tomando para resolver os problemas do sistema elétrico.