Título: Indústria vende menos, mas consegue reduzir déficit
Autor: Watanabe, Marta
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2009, Brasil, p. A4

Apesar do fraco desempenho das exportações de manufaturados em 2009, o déficit comercial da indústria de transformação no acumulado de janeiro a setembro de 2009 ficou em nível muito parecido com o do mesmo período de 2008. Com uma diferença de R$ 454 milhões, o déficit no acumulado até setembro está 4,26% maior na comparação com o ano passado. Há uma melhora no quadro em relação ao acumulado até junho, quando o déficit de 2009 era 20% maior que o de 2008, numa diferença absoluta de praticamente R$ 1 bilhão. Os dados são da Secretaria de Desenvolvimento da Produção. Essa diferença ocorreu, porque as exportações caíram fortemente, em 29%, mas as importações também se retraíram, em 25%. A melhora, porém, é considerada transitória.

Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), lembra que a redução do saldo negativo da indústria aconteceu em função do forte decréscimo de importações, muito ligado à queda do nível de atividade em 2009. O cenário para o próximo ano, no caso dos embarques de manufaturados, deve depender muito da competitividade de cada setor. Ele explica que as vendas ao exterior pela indústria dependem da recuperação de mercados que demandam produtos industrializados do Brasil, como Estados Unidos e América Latina. Ao mesmo tempo, as importações deverão crescer em ritmo mais acelerado, puxadas pelo crescimento do mercado interno.

A análise das entidades que representam setores industriais segue caminho semelhante. Alguns segmentos chegaram a ter uma queda muito maior nas importações do que nas exportações, o que deu origem a um déficit menor em 2009. No caso do setor de material elétrico e de comunicações, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento, o déficit caiu de US$ 10,17 bilhões para US$ 7,12 bilhões. As exportações caíram 27%, e as importações, 29%.

Os dados levantados pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) apontam no mesmo sentido. Segundo Cezar Luiz Rochel, gerente do departamento de economia da entidade, as exportações caíram 28% nos três primeiros trimestres de 2009, em relação ao mesmo período do ano passado. As importações recuaram 30%. O déficit, que em setembro de 2008 era de US$ 7,5 bilhões, diminuiu para US$ 5,4 bilhões no fim do terceiro trimestre deste ano.

Rochel diz que as importações caíram em razão da queda do nível de atividade da indústria nacional, que reduziu produção e não precisou comprar tantos insumos. Segundo dados da Abinee, cerca de 53% das importações da indústria elétrica e eletrônica são de componentes, sendo que 90% dessas compras são de produtos sem fabricação local. "Na verdade, a queda de superávit foi principalmente resultado da redução da corrente de comércio do setor."

As exportações caíram em razão da crise econômica mundial e da queda generalizada da demanda. "Também perdemos mercado, porque o câmbio tirou a competitividade do setor." Rochel diz que a expectativa é que o segmento feche o ano com déficit de US$ 15 bilhões, bem abaixo do saldo negativo de US$ 22 bilhões do ano passado.

"Não há um futuro muito promissor", diz o gerente da Abinee, quando analisa 2010. As importações do setor deverão crescer muito no ano que vem. Se cumprirmos as atuais previsões de crescimento real de 4,5% no próximo ano, diz, o mercado de elétricos e eletrônicos deve aumentar em 10%. As indústrias brasileiras voltarão a importar componentes, mas com o dólar baixo também haverá compra de produtos acabados estrangeiros. Rochel teme que os fabricantes nacionais percam participação de mercado para as importações. "A tendência é que o déficit volte a aumentar em 2010."

O setor químico é outro que reduziu o saldo negativo, com queda de US$ 12,63 bilhões para US$ 7,19 bilhões, de acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento. Segundo Renato Endres, diretor de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o que afetou o resultado foi principalmente a redução de importações, principalmente com os desembarques de bens intermediários para fertilizantes, em termos de valor e de volume. Segundo dados da associação, o "quantum" de importações de insumos para fertilizantes caiu 44%, enquanto as importações totais do setor caíram 33% no acumulado de janeiro a setembro de 2009 na comparação com igual período de 2008. A queda teria sido motivada em razão de altos estoques.

As exportações, porém, já estão se recuperando. Em janeiro e fevereiro, diz Rochel, os embarques do setor chegaram a sofrer redução em torno de 40%, mas a partir de agosto as vendas ao exterior apresentaram recuperação gradativa. "Em setembro, atingimos exportação de US$ 1bilhão, valor muito semelhante ao do mesmo mês do ano passado", conta. A expectativa do setor, diz, é que no último trimestre as exportações fiquem em patamar muito parecido em relação aos três últimos meses de 2008. Com essa recuperação, diz, o setor deverá chegar com exportações de US$ 12 bilhões até o fim de 2009, numa cifra parecida com a do ano passado. Como as importações caíram em 2009, porém, o déficit deverá ser menor. Em 2009, acredita, o setor terá US$ 17 bilhões de saldo negativo, abaixo dos US$ 23 bilhões de 2008.

Em 2010, porém, diz Rochel, o déficit deverá aumentar novamente. "As exportações já estão se recuperando este ano e não devem crescer muito mais em 2010. As importações de insumos, porém, deverão ser retomadas, principalmente pelos fabricantes de fertilizantes."

Com queda de 14% nas importações e de 35% nas exportações, o setor têxtil e de confecção terminou o acumulado até setembro com déficit de US$ 1,5 bilhão, igual valor do mesmo período do ano passado. Os números foram levantados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Segundo Aguinaldo Diniz Filho, presidente da entidade, o setor não prevê uma recuperação tão breve das exportações. Ele conta que 38% das exportações do setor são para a Argentina, mercado que ainda não se recuperou.

A perspectiva de aumento de produção para o próximo ano está focada no aumento do consumo interno. "Cerca de 93% do que a indústria têxtil brasileira produz é consumido internamente e no próximo ano o mercado nacional deverá possibilitar a ocupação de capacidade ociosa." O dólar baixo, porém, deverá provocar forte concorrência com as importações.