Título: Baixo carbono: alto crescimento?
Autor: Diop, Makhtar
Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2010, Opinião, p. 15

Diretor do Banco Mundial para o Brasil

Em todo o mundo, as emissões de gases que causam o efeito estufa estão proximamente relacionadas à atividade econômica. É consenso científico que o processo de mudança climática resulta da acumulação de gases na atmosfera, principalmente o gás carbônico, em correlação direta com a atividade humana.

Parece certo, então, que esforços para reduzir as emissões e controlar a mudança climática necessariamente diminuiriam ou mesmo impediriam o desenvolvimento. Isso seria uma catástrofe, tanto para países como o Brasil, em franco processo de crescimento e redução da pobreza, quanto para as nações mais pobres do mundo, que veriam suas perspectivas de desenvolvimento minguarem ainda mais.

Um estudo do Banco Mundial lançado em Brasília nesta semana aponta que, pelo menos no caso do Brasil, não há oposição entre crescimento e desenvolvimento limpo. Esforços para tornar a economia brasileira mais verde não diminuiriam o crescimento do PIB. A análise, que envolveu numerosos pesquisadores e centros de estudos brasileiros e estrangeiros, desenvolve um cenário econômico de baixo carbono e analisa seus custos e impactos. O estudo enfoca os quatro setores que concentram as emissões brasileiras: desmatamento e uso da terra, energia, transportes e manejo de resíduos.

Entre 2010 e 2030, o Brasil teria como reduzir em até 37% as emissões brutas de gases que causam o efeito estufa, mantendo os atuais objetivos de desenvolvimento programados pelo governo para o período. Isso é equivalente a retirar todos os carros do mundo de circulação por três anos.

A consolidação desse cenário de baixo carbono é um grande desafio, exigindo investimentos adicionais da ordem de U$ 400 bilhões ao longo do período. Contudo, a economia do Brasil não seria afetada negativamente por esses esforços. Os resultados indicam um impulso adicional positivo (porém pequeno) no crescimento do PIB anual, assim como no emprego. Além disso, os custos podem ser reduzidos, pois o cenário envolve numerosas oportunidades de mitigação que podem ser implantadas separadamente. O elemento-chave para a redução das emissões é a redução drástica do desmatamento, algo que o Brasil já vem conseguindo fazer.

Como detentor da maior floresta tropical do mundo, o Brasil tem um perfil diferenciado de emissões de gases de efeito estufa. O país é um importante emissor de CO2 no contexto mundial, resultado em grande parte de mudanças no uso do solo, como desmatamentos e queimadas. Contudo, essas emissões caíram mais de 60% nos últimos anos com o combate ao desmatamento na Amazônia.

Excetuado isso, o Brasil emite muito menos, proporcionalmente ao tamanho de sua economia, do que os países industrializados ou mesmo os outros membros do grupo Bric. Isso porque o país desenvolveu uma matriz energética entre as mais limpas do mundo, 80% baseada na hidroeletricidade e com soluções inovadoras na área de biocombustíveis.

Independentemente da frustração da cúpula do clima em Copenhague, ou das expectativas para a próxima reunião no México, parece óbvio que caminhamos para um mundo onde a economia, o meio ambiente e o desenvolvimento estarão muito mais interligados do que hoje, e onde considerações sobre as mudanças climáticas serão incluídas em todos os setores da economia e da sociedade.

Como demonstra o estudo do Banco Mundial, o Brasil tem várias oportunidades para a mitigação e remoção das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera a custos relativamente baixos. Isso posiciona o país como um dos líderes nas negociações deste ano no México.

O protagonismo internacional do Brasil, como superpotência ambiental e líder em soluções de redução de emissões, é fundamental para orientar o debate global ¿ até porque é provável que o Brasil venha a sofrer de forma significativa com os efeitos adversos da mudança climática. O país tem deixado claro o interesse em participar voluntariamente do esforço mundial para mitigar as emissões e ajudar a avançar o debate internacional, inclusive propondo metas para reduzir emissões.

O mundo desenvolvido é responsável pela maior parte das causas por trás das mudanças climáticas e precisa contribuir direta e proporcionalmente para solucionar o problema. O Brasil e outros países em desenvolvimento vêm fazendo a sua parte. Nesse contexto, o Banco Mundial busca apoiar a tomada de decisões que serão determinantes para a vida no planeta por muitos anos.