Título: Com ou sem acordo, dinheiro é impasse no clima
Autor: Chiaretti , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2009, Internacional, p. A12

Depois de aparentemente sepultar o acordo climático de Copenhague no fim de semana, Estados Unidos e China sinalizaram ontem a intenção de obter um acordo amplo em dezembro. Esta ambiguidade está deixando perplexos negociadores do mundo todo. Hoje, a 18 dias do evento, não está claro o que esperar de Copenhague. Mas a medida do acordo é o comprometimento em dinheiro - e isso continua a ser o grande impasse.

A declaração conjunta do chamado G-2 - o encontro bilateral EUA e China - diz que os dois maiores emissores do mundo não esperam um "acordo parcial ou uma declaração política, mas um acordo que cubra todos os tópicos das negociações e que tenha efeito operacional imediato." Ou seja, parece exatamente o que a grande maioria dos países quer.

Mas o "efeito operacional imediato" tem outra leitura. O tal "acordo político" que o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Loekke Rasmussen, está costurando (e que ninguém tem muito claro o que significa, a não ser seus assessores mais próximos) seria implementado a partir de 1 de janeiro de 2010. Depois disso, em seis meses a um ano, o mundo assinaria um acordo climático completo, e com obrigações internacionais (o tal "legally binding").

A dificuldade em entender o que está sendo proposto por Rasmussen - e que foi abraçado pelos presidentes Barack Obama e Hu Jintao no domingo - é o tal "acordo político vinculante". Esta figura não existe na linguagem internacional que fala em acordos, protocolos, tratados e convenções. Yvo De Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima, disse ao Valor em Barcelona, que "não tem ideia" do que signifique.

Um diplomata dinamarquês dá uma pista: "É um acordo onde os líderes se comprometerão a fazer o melhor possível e que pode incluir metas de cortes de emissão e finanças". Ele amarraria o cronograma à frente e seguiria a moldura proposta pela ONU, com um mecanismo de transferência de tecnologia, por exemplo. "Copenhague seria uma etapa intermediária e não o objetivo final. Mas não seria um fracasso", continua.

Pode ser um acordo vago, mas que justifique a ida dos chefes de Estado que devem voar para lá. Gordon Brown (Reino Unido), Nicolas Sarkozy (França), Angela Merkel (Alemanha) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm dito que irão. "O custo político será muito alto se eles não se acertarem em nada", diz o dinamarquês.

Na semana passada, em Washington, uma reunião do GEF (Global Environment Facility), o mais famoso fundo ambiental do mundo, indicou que a fonte está seca. Os países ricos não demonstraram a menor disposição em colocar mais dinheiro ali.

Todos se perguntam se é possível salvar Copenhague. Mais de 15 mil pessoas são esperadas, os hotéis estão lotados desde junho até o sul da Suécia. Gastou-se muito na CoP-15 e a ministra do Clima e Energia dinamarquesa Connie Hedegaard continua mostrando disposição em conseguir o melhor acordo possível. É bom lembrar que antes de enterrar Copenhague, as negociações internacionais do clima seguem um único padrão: é preciso sempre estar pronto para o inesperado.