Título: Meirelles diz que fica no cargo e agrada mercado
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2009, Finanças, p. C3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, acalmou os mercados financeiros, ontem, ao afirmar que poderá ficar no cargo até o final de 2010. Como Meirelles fica, segundo economistas de bancos e gestores de fundos, a troca do diretor de política monetária, Mário Torós, por Aldo Mendes, ex-Banco do Brasil, ganha quase nenhuma relevância. Os juros caíram com força nos mercados futuros. Os contratos para vencimento em janeiro de 2011 foram a 10,18% ao ano, um tombo de 0,77% em um só dia.

Quando o nome de Mendes foi anunciado, após o fechamento do mercado, anteontem, investidores e analistas de banco correram ao Google ver quem era aquele ilustre desconhecido. Diante da incerteza, relatório de um banco estrangeiro chegou a recomendar logo pela manhã o desmonte de posições compradas em reais contra o dólar. O fato de Mendes vir do BB levantou suspeita de que ele poderia ter perfil estatizante. Falta de experiência e sua posição contra a independência do BC, expressa nos anos 90, foram considerados outros pontos fracos.

Os pontos fortes apontados são sua indicação ao cargo no BC pelo ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, segundo rumores, e sua ascensão à diretoria de finanças, mercados de capitais e relações com investidores do BB justamente durante a gestão de Pedro Malan no Ministério da Fazenda, em 2001. E o próprio referendo de Meirelles ao seu nome ontem em entrevista em Brasília.

Contribuíram também para acalmar os mercados as afirmações de Meirelles de que não estão previstas mais mudanças na diretoria do BC enquanto ele estiver no cargo. Segundo ele, os diretores de política econômica, Mário Mesquita, e de liquidações, Gustavo do Vale, manifestaram "interesse e concordância" em ficar no cargo enquanto durar sua gestão.

A permanência de Mesquita tranquilizou os investidores, pois, segundo lembrou gestor de fundos, é a diretoria de política econômica do BC a maior responsável pela elaboração de políticas. A diretoria de política monetária é mais relevante em períodos de crise, pois é lá que ficam os operadores do BC, como explicitou a entrevista de Torós ao Valor.

Economista lembrou da dificuldade para achar um substituto para Torós em um governo em final de mandato. Nessas circunstâncias, encontrar um bom técnico parece suficiente. O time de funcionários do BC, alegou outro analista, é capaz de dar conta das tarefas durante a calmaria.

Pode ser que Mendes assuma só no ano que vem. Meirelles levou ontem a indicação de seu para o presidente Lula que, por sua vez, deverá encaminhar a sugestão para o Senado. Ele terá de ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e seu nome terá de ser aprovado em plenário. É possível não haver tempo para que Mendes participe da reunião do Comitê de Política Monetária nos dias 8 e 9.

"Hoje, a maior probabilidade é que eu atenda o convite do presidente Lula e fique no BC até o fim de 2010", disse Meirelles, para depois realçar que "existe outra possibilidade, que eu vou considerar com seriedade em março", quando expira o prazo para que ele deixe o BC para disputar as eleições. O mercado preferiria ver Meirelles até o fim no BC, para facilitar a transição do governo. Nessa hipótese, ele poderia ser ministro em um governo de Dilma Rouseff. Não está descartado que ele se candidate ao governo de Goiás ou à vice-presidência da República na chapa de Dilma. (Com agências)