Título: Irã recupera fôlego com alta do petróleo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2009, Internacional, p. A11

O Irã ganhou fôlego nos últimos meses com a recuperação dos preços do petróleo no mercado internacional. Entretanto, a crise econômica continua agravando as tensões dentro do país e dando vazão a atitudes incomuns de desafio ao poder central.

É com esse cenário doméstico de fundo, junto a um cenário de pressão internacional para que abandone seu programa nuclear, que o presidente Mahmoud Ahmadinejad chegou ao Brasil, numa visita por observadores internacionais como uma tentativa de criar novos parceiros e diversificar os investimentos.

No Irã, as autoridades fecharam o jornal de maior circulação no país, o "Hamshahri", por ter publicado a foto de um templo Bahai, religião considerada herética pelo governo. O regime iraniano, controlado por cléricos xiitas desde 1979, afirmou que a publicação da foto encorajaria turistas a visitar o templo. Ali Reza Mahak, diretor do jornal, disse que não recebeu ordens oficiais e estaria preparando a edição de terça-feira normalmente.

Esse tipo de desavença ilustra a distância que vem se formando entre a classe média iraniana, leitora típica do "Hamshahri", e o regime.

A maior parte da atividade econômica do país é controlada pelo Estado. A atividade do setor privado é normalmente limitada ao pequeno comércio, à produção agrícola e a algumas áreas de serviços. E, mesmo assim, há rígidos controles de preços e subsídios - que chegam a 30% do PIB do país -, o que joga contra o potencial de crescimento do setor privado.

O desemprego no ano passado foi de 12,5% e deve ultrapassar os 15% neste ano. O setor mais afetado foi o de mão de obra jovem, de melhor formação.

A inflação em 2008 foi de 25% e vem decrescendo até os 16% anualizados de outubro. Isso demonstra como o consumo interno vem caindo de modo acentuado.

O presidente Mahmoud Ahmadinejad até que tentou nos últimos anos implementar uma reforma parcial do sistema, acabando com alguns controles sobre o preço dos alimentos e diminuindo o subsídio ao combustível. Mas protestos violentos por parte da população mais pobre - sua base eleitoral - o fizeram adiar parte das medidas.

Ahmadinejad vem tendo uma ajuda da recuperação dos preços do petróleo, o que o ajuda a segurar programas sociais que a oposição chama de populistas.

O petróleo é responsável por mais de 80% das exportações do país. O Irã é o segundo maior exportador de petróleo da Opep (cartel internacional de exportadores) Atualmente, o barril chegando a US$ 80 o barril pode ser um alento, já que no fim do ano passado bateu em baixas de até US$ 40. O FMI estima que, com a melhora do preço do petróleo, o Irã vá registrar um crescimento de 1,5% neste ano e de 2,2% em 2010.

A situação econômica pode piore se forem adotadas as sanções que os EUA propõem para forçar o país a abandonar seu programa nuclear, entretanto, o Irã tem trunfos importantes, como sua relação com a Rússia e a China e seu papel importante na produção de petróleo mundial.

O maior parceiro econômico do Irã hoje é a China. Os iranianos são hoje o terceiro maior fornecedor de petróleo para os chineses, atrás apenas de Arábia Saudita e Angola. (Com agências internacionais)