Título: De olho no pré-sal, Petrobras diminui negócios na Argentina
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2009, Brasil, p. A4

A Petrobras está encolhendo sua participação na Argentina e anunciou ontem a venda à Bunge da unidade de fertilizantes que mantém no país. O negócio faz parte de uma estratégia da empresa de diminuir sua atuação em áreas que não considera prioritárias, principalmente no exterior, e guardar calibre para a exploração da camada de petróleo do pré-sal, que absorverá boa parte dos US$ 104,6 bilhões de investimentos em exploração e produção até 2013.

Além de sair da área de fertilizantes, a Petrobras reduziu dramaticamente sua fatia na revenda de combustíveis nos últimos meses e o mercado comenta a venda de uma de suas três refinarias no país vizinho, embora a empresa negue a intenção de negociar o ativo.

Localizada no município de Campana, na Província de Buenos Aires, a fábrica da Petrobras atende a mais de 70% do mercado argentino de fertilizantes líquidos e é uma herança da Pérez Companc, que ela comprou em 2002. Em nota enviada à noite para a Comissão Nacional de Valores (a CVM local), a estatal brasileira não informou o valor do negócio, mas disse que transferirá à Bunge os "ativos físicos, marcas, rede comercial e pessoal vinculado" à atividade de fertilizantes. De acordo com a nota, a decisão "responde à estratégia da companhia de avaliar recorrentemente a composição de seu portfólio de negócios e ativos a fim de identificar oportunidades que permitam maximizar o valor da companhia".

O Valor apurou que a Petrobras decidiu cortar custos na Argentina como parte da estratégia de reforçar sua atuação na exploração do pré-sal. O negócio com a Bunge coincide com um momento de retração da Petrobras no mercado de revenda de combustíveis. Nos nove primeiros meses, a participação da companhia despencou e ela se distanciou das três líderes (YPF, Esso e Shell) do setor.

Na comparação com igual período do ano passado, a Petrobras vendeu 18,1% a menos de gasolina comum, 4% a menos de gasolina aditivada e 27,1% a menos de óleo diesel - o último derivado é o mais consumido na Argentina, onde boa parte dos veículos de passageiros roda com ele e o etanol é praticamente inexistente. Fontes do mercado dizem que esse movimento é intencional e que a empresa estaria deixando de renovar contratos com postos de gasolina de pequeno e médio porte que usam a sua bandeira.

Outro negócio que desperta a atenção do mercado local é o futuro da refinaria de San Lorenzo, no norte do país, uma das três que a Petrobras detém na Argentina - as outras estão em Bahia Blanca ena Refinor, sendo que na última ela é minoritária, com 28,5% do capital. Na semana passada, o jornal "La Nación" garantiu que o empresário Cristóbal López, dono de cassinos e próximo ao casal Kirchner, firmou um acordo em que as partes teriam de 60 a 90 dias para concretizar a transferência societária da refinaria. A assessoria da Petrobras negou a informação. Por ser antiga, porém, o certo é que a refinaria de San Lorenzo só tem capacidade de processar petróleo mais leve, o que, segundo especialistas, exige um processo logístico caro para levar óleo pesado. A refinaria também precisaria de investimentos em modernização para adequar-se a novos padrões de qualidade dos combustíveis determinados pela Secretaria de Energia da Argentina.

Abatida pela crise mundial, a Petrobras teve prejuízo no primeiro trimestre de 2009, mas se recuperou e já acumula lucro líquido de 895 milhões de pesos (US$ 234 milhões) no ano - resultado ainda inferior ao registrado em 2008. Nos últimos anos, a produção da Petrobras Energia, como é conhecida a subsidiária argentina da estatal brasileira, aumentou sua produção de gás natural, mas reduziu em mais de 50% as vendas de petróleo.

Nesta semana, a Petrobras já havia admitido a possibilidade de deixar o Irã. Embora sua saída da Argentina seja completamente descartada, o encolhimento da empresa no país já se faz notar e ganhou impulso ontem com a venda da área de fertilizantes à Bunge.