Título: Recuperação começa mais lenta que o previsto nos EUA
Autor: Hilsenrath , Jon
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2009, Internacional, p. A13

O início da recuperação da economia americana foi mais fraco do que se acreditava, informou o governo, ao revisar a estimativa de crescimento no terceiro trimestre para refletir um déficit comercial maior do que o calculado inicialmente e um consumo menor.

O PIB dos Estados Unidos - a soma de sua produção de bens e serviços - cresceu a um ritmo anualizado e corrigido pela inflação de 2,8% no trimestre, enquanto o Departamento do Comércio havia calculado no mês passado que ele havia crescido 3,5%.

Com uma recuperação anêmica tomando forma, no início de novembro as autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, se viram às voltas com temores derivados de seus esforços para reanimar a economia. Um desses temores são os possíveis efeitos colaterais que podem surgir agora que o Fed já derrubou os juros para perto de zero e inundou o sistema financeiro com mais de US$ 1 trilhão em programas de empréstimo e compra de ativos.

As minutas da reunião de 3 e 4 de novembro mostram autoridades preocupadas com a possibilidade de que as políticas de estímulo fiscal do Fed possam "levar a riscos excessivos nos mercados financeiros ou a uma elevação das expectativas de inflação", que poderiam ser acompanhados por novas bolhas de ativos ou por uma forte desvalorização do dólar.

Num discurso semana passada em Nova York, o presidente do Fed, Ben Bernanke, disse que o banco central está observando de perto a oscilação do dólar. As minutas mostraram que os diretores do Fed viam a recente desvalorização da moeda como uma saída ordenada de investidores que no ano passado migraram em massa para ativos americanos em busca de segurança. Mas também notaram que o câmbio havia posto pressão de alta nos preços de commodities e produtos importados, o que "pode aumentar pressões inflacionárias".

Autoridades do Fed também discutiram, mostram as minutas, se o banco central deve vender em algum momento parte de sua vasta carteira de títulos ligados a empréstimos mobiliários e de obrigações do Tesouro. O Fed não está nem perto de retroceder em seu estímulo econômico, mas alguns diretores disseram que o banco central pode algum dia precisar vender ativos para reduzir o tamanho de seu balanço e o montante de dinheiro que injetou no sistema financeiro. Outros diretores do Fed argumentaram "que tais vendas poderiam levar a fortes altas dos juros de longo prazo", o que poderia enfraquecer crescimento econômico e o emprego.

Os diretores do Fed têm estabelecido as bases para uma saída das políticas há meses, mas muitos dos detalhes sobre como fazer isso continuam indefinidos.

"Os participantes concordaram em continuar a avaliar várias possíveis ferramentas de implementação de política e possíveis combinações e sequências em que elas podem ser usadas", mostraram as minutas da reunião.

Uma recuperação lenta implica que o Fed não está sob pressão para resolver essas questões. Em sua reunião de novembro, diretores do banco central aumentaram levemente suas previsões para o PIB de 2009 e 2010, em comparação com as previsões que fizeram em junho.

Membros do primeiro escalão do governo americano e o senador Kent Conrad, que chefia a comissão de orçamento do Senado, se reuniram ontem para discutir a criação de uma comissão bipartidária sobre o crescente déficit público. Assessores da Casa Branca ressaltaram que nenhuma decisão foi tomada quanto a essa comissão, que faria recomendações sobre como controlar o crescimento do sistema previdenciário e sobre tributação.

O déficit de 2009 nos EUA disparou e chegou a US$ 1,4 trilhão, o maior desde a Segunda Guerra.

O consumo das famílias, que responde por cerca de 70% da demanda na economia americana, aumentou a um ritmo anualizado de 2,9% no terceiro trimestre - menos que os 3,4% calculados previamente pelo Departamento do Comércio -, mesmo depois do impulso propiciado por estímulo governamental, como o programa de incentivo à troca de carros velhos por modelos mais econômicos.

Isso sugere que o consumo deve seguir fraco nas festas de fim de ano, ressaltando a dependência da economia dos gastos das empresas e do governo para conseguir produzir crescimento suficiente para melhorar o mercado de trabalho.

O relatório do Departamento de Comércio também mostrou que os lucros das empresas cresceram 10,6% no terceiro trimestre em relação ao segundo, a maior alta desde 2004. A maior parte desse ganho veio de um aumento de 36,4% nos lucros de empresas do setor financeiro, enquanto os lucros em outros setores cresceram 2%. Mesmo depois desse forte ganho, os lucros empresariais em geral ficaram 6,7% menores do que um ano antes.

A medida de inflação usada pelo Fed continuou baixa, o que dá ao banco central americano espaço para manter os juros baixos por um período prolongado.