Título: Contas externas do Brasil têm em outubro o maior déficit do ano
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2009, Finanças, p. C2

O Brasil registrou, em outubro, o maior déficit mensal deste ano em suas transações correntes com o exterior. Mesmo com saldo positivo de US$ 1,328 bilhão na balança de comércio e de US$ 216 milhões nas transferências unilaterais, por causa das remessas de renda e dos gastos com serviços, o resultado total da conta corrente foi deficitário em US$ 2,911 bilhões no mês.

Com isso, o déficit acumulado no ano atingiu, em dez meses, US$ 14,788 bilhões, reforçando as expectativas de que o país terá saldo negativo em suas transações correntes pelo segundo ano consecutivo, após cinco anos seguidos de superávit . O saldo de outubro foi mais deficitário tanto em relação ao de setembro (negativo em US$ 2,311 bilhões) quanto em relação ao de igual mês de 2008 (negativo em US$ 1,239 bilhão).

Ao divulgar esses números, ontem, o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, fez duas ponderações. A primeira é que o déficit acumulado no ano ainda está menor que no mesmo período de 2008, quando alcançou US$ 24,122 bilhões. Outra é a qualidade do financiamento do déficit este ano, mais do que coberto por investimentos estrangeiros diretos (IED). O que torna, segundo ele, a situação externa " confortável". Nos dez primeiros meses de 2009, enquanto as transações correntes foram responsáveis por saídas líquidas de US$ 14,788 bilhões, o ingresso líquido de IED foi de US$ 19,25 bilhões. Para novembro, dados parciais indicam ingresso de mais US$ 800 milhões até dia 18. Do total líquido de investimentos diretos até outubro, US$ 14,356 bilhões correspondem à aquisições ou reforços de participações societárias e US$ 4,898 bilhões a empréstimos de matrizes estrangeiras para filiais no país.

Para efeitos da contabilidade externa , as operações intercompanhias são classificadas como investimentos diretos porque os pagamentos são, em geral, condicionados à geração de resultados positivos pela empresa tomadora. Portanto, diferente dos capitais especulativos, é um dinheiro que o credor mantém no Brasil principalmente em situações de dificuldade, mesmo que o prazo da operação vença. Em termos brutos, só os IED destinados a participações societárias injetaram mais de US$ 22,5 bilhões no Brasil nos dez primeiros meses de 2009. Por setor da economia, foram 47,2% para a indústria, com destaque para metalúrgicas (15,4%), montadoras de veículos (9,3%) , fabricantes de produtos químicos (4,9%) e atividades de industrialização de petróleo, de coque e de biocombustíveis (4,4%). O setor de serviços ficou com 39,9%, com destaque para atividades financeiras (7,9%), comércio (7,6%), seguros, resseguros e previdência complementar (5,6%) . O setor primário ficou com 12,8% do IED destinado a participações no capital de empresas.

Em relação ao déficit em transações correntes, os números do BC mostram que a queda vista na comparação dos dez primeiros meses de 2008 e 2009 deve-se, em parte, a alguma recuperação do saldo comercial, que subiu de US$ 20,92 bilhões para US$ 22,64 bilhões. Também contribuiu o fato de a balança de serviços e rendas ter apresentado resultado menos negativo (o déficit, nesse caso, recuou de US$ 48,415 bilhões para US$ 40,088 bilhões). Apesar de ter-se mantido positivo, o fluxo de transferências unilaterais, por sua vez, não contribuiu para queda do déficit corrente, pois recuou de US$ 3,37 bilhões para US$ 2,65 bilhões.

Na comparação dos meses de outubro, especificamente, o déficit corrente subiu de US$ 1,239 bilhões para US$ 2,911 bilhões principalmente pela elevação dos gastos líquidos com serviços e remessas de rendas. Nesse item, as despesas externas líquidas subiram de US$ 3 bilhões para US$ 4,456 bilhões. Apesar disso, o BC não acha necessário mudar a projeção de déficit para o ano de 2009, atualmente em US$ 18 bilhões, cerca de US$ 10 bilhões inferior ao de 2008.