Título: MST cobra ação do Palácio do Planalto contra CPI
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2009, Política, p. A10

Os movimentos sociais de trabalhadores do campo cobraram ontem do governo uma posição mais firme em defesa de novas ações para o processo de reforma agrária. Liderados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), as 51 entidades representadas no Fórum Nacional da Reforma Agrária reivindicaram uma "ação efetiva" do governo contra a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito criada para investigar repasses de verbas federais a cooperativas ligadas ao MST.

"A CPI é só um mecanismo para paralisar as ações de reforma agrária e tirar do Executivo as ações da reforma agrária", disse o coordenador nacional do MST, José Batista de Oliveira. "É para continuar a grilagem, a apropriação da terra e as práticas do trabalho escravo". Os movimentos saíram otimistas do encontro com os ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e o chefe do gabinete pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho. "Ouvimos do governo que permanece o compromisso de seguir as ações e as demandas de todos. É um sinal claro do governo. CPI é ação de quem quer barrar essas ações", disse o coordenador do MST.

O fórum dos movimentos ligados ao campo também também cobrou do governo a anunciada revisão dos índices de produtividade agropecuária para fins de reforma agrária. E alertaram os ministros sobre a tentativa do Congresso de retirar do Executivo a prerrogativa de atualizar os parâmetros de produção no campo. "Queremos a atualização dos índices e não há opinião diferente do que foi assumido pelo presidente. É do interesse do governo", disse Oliveira. "Fomos colocar pressão pela manutenção dos compromissos assumidos pelo governo e exigir a continuidade das ações de reforma agrária".

Os movimentos também pediram ao governo um compromisso formal pelo assentamento de pelo menos 90 mil famílias acampadas em várias regiões do país. "O governo tem que acelerar o assentamento. Esse é o único motivo das invasões", afirmou José Batista de Oliveira. O fórum das entidades do segmento também cobraram a liberação de recursos para novos assentamentos. "Se não agilizar isso, não tem como assentar. O dinheiro não tem chegado. Tem que prever isso no orçamento para essas ações", afirmou.

O MST reivindicou "projeções de assentamentos" para 2010. E acusou os dirigentes do agronegócio de querer sabotar a reforma agrária no Brasil. "Cobramos projeções de ações para 2010. O agronegócio quer retroceder mais, impedir ações do Incra e paralisar tudo", afirmou o coordenador do MST.

Uma nova reunião do fórum com ministros do governo está agendado para meados de dezembro, em Brasília. "Teremos desdobramentos com Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário". O secretário-executivo do MDA, Daniel Maia, esteve presente ao encontro no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória da Presidência da República.

Mesmo com seguidas reuniões, o governo tem se afastado de "radicalismos" dos movimentos sociais do campo, representado sobretudo pelas ações do MST. As relações dos dirigentes do MST com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão estremecidas desde antes da última invasão de terras em uma fazenda da Cutrale, no interior de São Paulo. Lula não recebe dirigentes do MST há mais de dois anos e tem escalado seus ministros para tratar das reivindicações do movimento. As reiteradas críticas à condução da reforma agrária resvalaram em questões pessoais, segundo fontes do governo. Dirigentes do MST têm criticado diretamente a figura do presidente Lula. Por isso, no episódio da criação da CPI do MST, os líderes do governo têm sinalizado uma "neutralidade", mas impediram, até agora, a instalação efetiva da comissão de inquérito. Agora, o MST busca pressionar por uma ação mais efetiva do governo. -------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 26/11/2009 12:20