Título: Pequenos dominam o mercado de tratores
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2009, Agronegócios, p. B12

O perfil das vendas de tratores em 2009 passou por um processo de mudança no mercado interno. As grandes máquinas que foram responsáveis pela abertura do Cerrado e expansão da agricultura nos últimos anos deram espaço aos tratores de pequeno porte, direcionados para a agricultura familiar e aos pequenos produtores.

Dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam que as máquinas de até 99 cavalos dominaram o comércio de tratores neste ano e responderam por 76% do total, quase 20 pontos percentuais acima da fatia do ano passado, quando tinham 58% do total de vendas.

Esse crescimento se deu exatamente sobre os tratores com potência entre 100 e 199 cavalos, que perderam espaço, saindo de uma fatia de 41% em 2008 para 21% neste ano. Já os gigantes com potência superior a 200 cavalos se mantiveram praticamente estáveis neste ano, com uma fatia de 2% no total das vendas.

Os planos de incentivo de compra de tratores por produtores da agricultura familiar que o Governo Federal e alguns Estados criaram a partir do ano passado explicam a mudança. Aliado a isso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), reduziu de 10,5% para 4,5% a taxa de juros cobrada no Finame Agrícola, o que favoreceu os agricultores que não se enquadravam nas regras da agricultura familiar. "Não fossem os programas, o mercado de máquinas acumularia uma queda de quase 30% este ano", afirma Milton Rego, vice-presidente da Anfavea.

Para atender esse novo perfil de cliente, a Valtra desenvolveu e colocou no mercado um novo trator com essas características em quatro meses. "O modelo começou a ser desenvolvido no primeiro trimestre e hoje já um dos mais vendidos da categoria", afirma Valdir Melo, gerente de planejamento de marketing para América Latina da Valtra.

Diante do atual cenário, a potência média dos tratores vendidos no Brasil também mudou. Enquanto em 2004, no auge da expansão do agronegócio no Brasil, a potência da frota de tratores superava os 100 cavalos, a expectativa é de que essa média fique abaixo dos 85 este ano.

Mais do que mudar o perfil do consumidor de tratores neste ano, os programas estatais permitiram uma retomada nas vendas no período. Dados divulgados pela Anfavea na última sexta-feira mostram que de janeiro a novembro, as vendas totais de máquinas agrícolas, incluindo tratores e colheitadeiras, somaram 49.854 unidades, desempenho 1,8% inferior às 50.764 registradas no mesmo período do ano passado. Considerando apenas os tratores, no entanto, as vendas atingiram 41.383 unidades. O resultado é 2,1% superior ao obtido entre janeiro e novembro de 2008, quando foram negociados 40.520 tratores.

Para Carlito Eckert, diretor comercial Massey Ferguson, uma parcela significativa da demanda de tratores neste ano foi em razão dos planos de incentivo do governo. A Massey, aliás, liderou as vendas na faixa até 99 cavalos. A empresa é responsável por um em cada três tratores vendidos no Brasil dentro do segmento.

Na vice-liderança, a New Holland prevê para 2010 o crescimento de pelo menos um ponto percentual sobre a fatia de 28% obtida até o momento, mantendo a trajetória de vendas do segundo semestre. "Terminamos o ano de uma forma muito melhor do que começamos. O setor de máquinas ficou menos vulnerável e é possível dizer que estamos satisfeitos com o resultado de 2009", afirma Francesco Pallaro, vice-presidente da New Holland para América Latina.