Título: Cenário ainda embolado
Autor: Boechat, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2010, Cidades, p. 27

A definição da chapa PMDB-PT na corrida ao Buriti fez com que PSDB, DEM e PPS acelerassem a discussão em torno dos nomes para a disputa de 3 de outubro. Grupo não fala em aliança com Roriz

Após a oficialização da parceria do PMDB com o PT, no último sábado, as legendas regionais de outros partidos começam a se movimentar. O grupo formado pelo Democratas (DEM), pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e pelo Partido Popular Socialista (PPS) lançará candidatos a governador, às câmaras federal e distrital e ao Senado. Será uma alternativa às chapas encabeçadas pelo petista Agnelo Queiroz e por Antônio Carlos de Andrade, o Toninho, do PSol.

Entre os favoritos da nova coligação na corrida ao Palácio do Buriti estão o ex-secretário de Saúde Augusto Carvalho (PPS), o ex-secretário de Transportes Alberto Fraga (DEM), o senador Adelmir Santana (DEM), Maria de Lourdes Abadia (PSDB), que almeja o Senado, e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Maurício Corrêa (PSDB). As negociações em torno de novas parcerias e da escolha do nome ao Executivo local continuarão até o próximo dia 30, quando acaba o prazo para a formação das chapas.

O encontro de representantes do DEM, do PPS e do PSDB realizado na casa de Adelmir, na QI 25 do Lago Sul, durou grande parte da manhã de ontem. A maior preocupação do grupo é montar um palanque eleitoral para o candidato tucano à presidência da República, José Serra, e fazer frente à coligação do PT nos âmbitos local e nacional. ¿Não há dúvida que os fatos da convenção de sábado mudaram o cenário político¿, explicou Adelmir Santana ao se referir à divisão do PMDB em relação à chapa puro-sangue do atual governador, Rogério Rosso, e ao cargo de vice-governador do petista Agnelo com Tadeu Filippelli. ¿O PMDB saiu rachado. Vamos buscar união com a maior quantidade de partidos possível. Ainda existem algumas legendas importantes, que têm patrimônio eleitoral e estão soltas na disputa¿, explicou Adelmir Santana.

Agravante Uma questão em aberto ainda paira sobre os representantes dos partidos: o envolvimento de Roriz no pleito de outubro. O partido dele, o PSC, faz parte da coligação nacional com o PSDB e o DEM em torno da candidatura de José Serra. Mas, em âmbito regional, a situação ainda está indefinida. Um fator agravante é a possível impugnação da candidatura do ex-governador devido ao projeto do Ficha Limpa. ¿Havia sinais do PSDB em relação ao Roriz. Mas a posição nacional do DEM está contra. De qualquer forma, o prazo da campanha é de três meses. Se o embate dele com a Justiça se prolongar, poderá prejudicar a campanha. Temos que levar tudo isso em consideração¿, explicou Adelmir.

No último fim de semana, os partidos políticos deram um passo a mais em relação às eleições de 3 de outubro. Na noite de sábado, o PMDB oficializou o nome de Tadeu Filipelli como vice-governador de Agnelo Queiroz. O PSB, o PDT e o PCdoB apoiaram a dobradinha, mas lançarão candidatos ao Senado e às Câmaras Federal e Distrital. O PSol foi o único a lançar uma chapa puro-sangue. Toninho será o nome na disputa à cadeira máxima do Executivo do Distrito Federal e formará palanque para Plínio Sampaio, candidato à presidência da República. A convenção do PT está marcada para o próximo dia 27. E as convenções dos partidos de direita ainda não têm data marcada.

Cicatrizes abertas no PMDB

Esta semana servirá de termômetro para os próximos meses do governo de Rogério Rosso. Após lançar chapa com Ivelise Longhi para o Buriti, o governador criou situação desconfortável dentro do partido e com outras legendas. Na convenção realizada no último sábado, alguns militantes se confrontaram. E o clima continuou tenso depois que o resultado apontou ampla maioria a favor da dobradinha Agnelo-Filippelli. Nos bastidores, Rosso sugere mudanças no governo, principalmente na pasta de obras, onde Filippelli ainda conta com alguns aliados. Deputados distritais amenizam a situação. Os petistas alegam que o problema é interno do PMDB. E os peemedebistas acreditam que a união do partido será retomada até as eleições.

Logo após sair o resultado, por volta das 19h de sábado, Filippelli se defendeu. ¿Não faz sentido eu mudar. Em momento nenhum deixei de falar com ele (Rosso). Qualquer coisa que tenha surgido, partiu dele. Eu não patrocinaria uma divisão em momento algum¿. Ele ainda cogitou abrir um processo contra o governador na Comissão de Ética do PMDB, que poderia provocar até mesmo a sua expulsão. Isso porque Rosso garantiu que não concorreria na convenção, quando foi eleito para o mandato-tampão. Mas, segundo pessoas próximas a Filipelli, nada foi concretizado até agora. ¿Nada que uma noite de sono não resolva. É melhor deixar a semana começar para as cabeças esfriarem. Na hora, todos estavam de cabeça quente¿, disse um dos assessores do deputado.

O distrital Cabo Patrício (PT) garantiu que não há clima ruim. ¿Na política, é importante a palavra. Quando você faz um compromisso, tem que cumprir até o fim. E quando não cumpre, é ruim. Mas tudo isso é passado, acabou na convenção¿, defendeu. Segundo ele, os peemedebistas devem conversar entre si para resolver os problemas. E a Câmara Legislativa deve se focar nos projetos em votação. O deputado Rôney Nemer votou na aliança de Filippelli com Agnelo, mas garantiu apoio aos próximos meses de Rosso no governo. ¿O clima esquisito tem de se desfazer amanhã (hoje) mesmo. Precisa de um tempo para cicatrizar as feridas, mas acredito na sobriedade e no espírito público dos dois¿. Rosso tirou o domingo para descansar.