Título: DEM vai expulsar Arruda e manter vice
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2009, Política, p. A7
A executiva nacional do DEM vai expulsar dos seus quadros, na próxima semana, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. O partido deve, por enquanto, preservar o vice Paulo Octávio, também filiado à legenda.
Octavio teve seu nome citado em gravações como um dos beneficiários do suposto esquema de pagamento de propinas descoberto pela Polícia Federal na operação Caixa de Pandora. Apesar disso, não surgiram até o momento, na avaliação do partido, indícios fortes contra a conduta do vice-governador. O DEM ainda não abriu processo disciplinar contra o presidente licenciado da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente, flagrado colocando notas de dinheiro nas meias.
O partido também não fez recomendações para que os secretários de Transportes, Alberto Fraga, ou de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Cássio Taniguchi, entreguem seus cargos. "O Arruda é o ícone", disse o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO).
A justificativa para a celeridade do processo contra Arruda é que as imagens de vídeo mostrando o governador do Distrito Federal recebendo dinheiro são muito fortes. No caso de Paulo Octávio, até o momento não apareceram elementos como aqueles. As citações feitas por terceiros não são suficientes, segundo parlamentares do DEM, para ele ser condenado pela legenda. "Tanto judicialmente quanto politicamente a situação dos dois é diferente", afirmou o senador Demóstenes Torres (GO). Para outra liderança partidária, mexer em mais peças no momento atrapalharia a governabilidade, "prejudicando ainda mais a população do Distrito Federal".
Demóstenes admitiu que, durante a reunião da Executiva, na terça-feira, alguém chegou a propor que o processo de expulsão fosse estendido a todos os envolvidos no processo. "Eu me propus a redigir uma petição conjunta. Mas a maioria decidiu que era melhor não fazermos isso. Se chegar alguma representação contra Paulo Octávio ou novos fatos surgirem, inevitavelmente teremos que analisar a questão", completou o senador goiano.
Para a cúpula do partido, expulsar o único governador do partido, um ano antes da eleição, é uma prova de maturidade que não se repete em nenhuma outra legenda e serve como a resposta para a crise ética que atingiu o partido. "Vamos cortar o nosso maior representante", disse Caiado. "O partido não pode ser responsabilizado pelo desvio de um representante individual".
Apesar de estar no DEM desde 2001, Arruda não chega a ser um político considerado demista, ao contrário de Paulo Octávio, que está há anos no partido. Arruda foi pivô da renúncia do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (BA) durante o escândalo de violação do painel, o que lhe vale a antipatia da ala baiana da legenda. Ao assumir o governo, na avaliação de importantes lideranças, ele preferiu "unir-se ao grupo político local, com o qual montou o atual esquema de corrupção", afirmou um parlamentar do DEM.
Nem mesmo o fato de Arruda ter trazido para seu governo diversas estrelas nacionais do partido, como Cássio Taniguchi e Jaime Lerner (ex-prefeitos de Curitiba) e José Jorge (ex-ministro das Minas e Energia e atual ministro do TCU), sensibilizam o partido. "Não há nada contra esses nomes. Há contra Arruda."
Escolhido pelo comando do DEM para relatar o processo disciplinar de Arruda, o ex-deputado José Thomaz Nonô deve apresentar um parecer favorável à cassação do governador do Distrito Federal. Nonô começará a apurar hoje, em Brasília, as denúncias de irregularidades cometidas por Arruda. Para o relator, a tarefa designada pela cúpula do DEM "não é complicada, mas sim delicada". "É simples, é fácil, não precisarei fazer uma grande prospecção jurídica nesse caso", comentou Nonô. "Vou fazer um juízo político sobre atos políticos".
O governador apresentará sua defesa a Nonô. "Vou comparar os fatos, as imagens, com a defesa apresentada por Arruda", disse o relator. "Se a explicação dele me convencer, serei obrigado a dizer que ele agiu corretamente. Agora se os argumentos não forem bons, se for uma ´conversa para boi dormir´, vou recomendar a expulsão", comentou. "Preciso ter as duas faces da moeda: já tenho a acusação, mas preciso da defesa dele", disse Nonô.
O relator afirmou que não vai ouvir "nada, nem ninguém" além de Arruda. Nonô tem experiência em acompanhar processos políticos com visibilidade na opinião pública. Em seis mandatos como deputado federal eleito por Alagoas, ele comandou a Comissão de Constituição e Justiça durante a apuração do escândalo dos anões do Orçamento e presidiu a sessão da Câmara que cassou o mandato de Roberto Jefferson (PTB), pivô do mensalão envolvendo o governo federal. Ele foi primeiro vice-presidente da Casa na gestão de Severino Cavalcanti (PP-PE) e foi o primeiro deputado da Casa a ocupar a chamada Liderança da Minoria. Em 2001, presidiu o Conselho de Ética da Câmara, instalado na gestão de Aécio Neves (PSDB).