Título: Só entro na disputa se for pelo governo
Autor: skaf , Paulo
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2009, Política, p. A12

Sábado, 9h. O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, 54 anos, chega a um hotel na entrada de Campinas. Prefeitos e lideranças políticas de mais de 50 municípios da região o esperam. Saudado como o futuro governador de São Paulo, Skaf assume o microfone e, por cerca de 40 minutos, discursa em defesa de sua filiação ao PSB, questionada dias antes por dirigentes do partido.

Na página do PSB na internet, o 1 vice-presidente do PSB, Roberto Amaral reagira à declaração de Skaf de que o "S" do PSB era " só uma letrinha, que aparece em quase todas as legendas".

Ao lado de Skaf em Campinas, o líder do PSB na Assembleia Legislativa, Jonas Donizette, que, junto com o líder do PSB na Câmara Federal, Márcio França, compõe a dupla que faz a mais intransigente defesa da filiação de Skaf.

Donizette também enfrentou resistência quando entrou para o PSB. Vindo do PSDB, é vice-líder de governo de José Serra na Assembleia Legislativa de São Paulo. Além de Skaf, trouxe para o partido o empresário Alexandre Eugênio Serpa, diretor da Fiesp, que concorrerá a deputado estadual em São Paulo.

Donizette e França enfrentam, por exemplo, o coordenador da secretaria sindical do PSB, Marionaldo Fernandes, e o secretário estadual, Jadirson Parantinga, que interpuseram recursos contrários à filiação de Skaf. Marionaldo, inconformado, acredita haver só um motivo que explique a entrada de Skaf: "Ideologia em comum não é. Não houve nenhuma discussão que consultasse as bases do partido. Só pode ser por dinheiro."

Tais manifestações não têm impedido que Skaf se movimente e angarie apoio para uma eventual candidatura sua ao Palácio dos Bandeirantes. Encontros com correligionários pelo interior do Estado se tornaram corriqueiros.

Nas andanças pelo interior do Estado, Skaf tem afiado o discurso de candidato. Sempre didático, discorre longamente sobre suas realizações à frente da Fiesp e, em especial, sobre a implantação do ensino integral nas escolas da rede Sesi-SP, do qual é presidente do conselho regional.

Em entrevista ao Valor, Paulo Skaf, evita polemizar sobre a disputa interna no partido. Explica como pretende ser candidato da coalizão governista em São Paulo colocando-se contrariamente a bandeiras como a jornada de trabalho de 40 horas. É taxativo sobre a porta de entrada que escolheu na política, a disputa pelo governo de São Paulo: "A chance de eu ser candidato a deputado ou senador é zero. Nem com a hipótese de ministérios eu trabalho. Não sou um político de carreira, não estou desesperado por um cargo". A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida na sede da Fiesp na tarde de terça-feira.

Valor: A entrada de empresários na política não tem sido favorecida na história recente. O que o faz acreditar que, no seu caso, será diferente?

Paulo Skaf: Sempre gostei da política, desde moleque, do tempo do colégio, sempre me meti em grêmio estudantil. Na minha vida, nada foi fácil. Casei cedo. Aos 28 anos eu já era pai de cinco filhos. Servi ao Exército, sou oficial da reserva. Comecei a trabalhar cedo. Não era nem que meu pai pedisse ou precisasse, foi uma opção. Fui presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) numa época em que a cadeia têxtil estava desunida. Conseguimos essa união, indo do produtor de algodão à modelo que desfila na passarela. Como presidente da Abit eu já tinha um trânsito na política. Tanto que, na minha posse na Fiesp [em 2004], todo mundo estranhou porque compareceram o presidente da República, o vice, 12 ou 13 governadores de Estado e mais ou menos o mesmo número de ministros. Na Abit, havia uma gestão que estava há muito tempo, se reconduzindo há 30 anos e eu consegui costurar uma grande aliança, saímos com uma chapa única, entramos num acordo e nem chegou a haver disputa.

Valor: Mas sua eleição não levou a um racha na Fiesp?

Skaf: Quando fui candidato pela Fiesp, era um empresário médio, do setor têxtil, que não tinha uma tradição na casa, da chapa de oposição [Cláudio Vaz era o candidato da situação, apoiado pelo presidente Horácio Lafer]. Fui eleito com 60% dos votos, e reeleito com 99,5%. A possibilidade de eu chegar à presidência da Fiesp parecia bem mais difícil do que uma eventual candidatura a um ...(hesita) a um cargo maior agora. Tudo é uma questão de destino. Estou feliz aqui, sou realizado com o meu trabalho na Fiesp, onde poderia ficar até 2015, se reeleito.

Valor: O senhor aceitaria outra porta de entrada na política que não a do governo do Estado?

Skaf: O partido que me convidou, o PSB, o fez já com essa possibilidade, de me candidatar ao governo de São Paulo. Não sou hipócrita, gosto das coisas com transparência. Mas o momento para que isso se materialize é no ano que vem.

Valor: Por que o PSB?

Skaf: Fui convidado por quase todos os partidos: PSDB, PP, PR, vários. O PMDB me convidou e o Quércia foi muito franco comigo, ao dizer "tenho compromisso com o PSDB e serei candidato ao Senado. Não teremos candidatura majoritária". O PSB é um partido emergente, que sinaliza crescimento, tem bons quadros. Esta história [de filiação] começou no fim de 2008, com o Márcio França, que foi o primeiro a fazer um convite. Fiquei pensando durante as férias, isso vazou na imprensa em janeiro, aí vieram convites de todo lado. Tomei a decisão, e te confesso, fiquei feliz. Se eu não tivesse me filiado, talvez estivesse arrependido agora. Acho que o Brasil vai passar por um momento especial no ano que vem, O PIB vai chegar a 6%, os próximos anos serão de grandes investimentos. É pré-sal, é Copa, Olimpíadas, hidrelétricas, indústria, investimentos estrangeiros... ter a oportunidade de desempenhar um papel importante, num Estado como São Paulo. Por que em São Paulo, um Estado rico temos regiões pobres? Família rica não pode ter irmão pobre. Ouvi esses dias, numa reunião no PSB sobre 2010, de uma liderança "é 2010 e 2018. 2010 no Bandeirantes e 2018 no Planalto". Isso me deixa muito feliz.

Valor: A candidatura do deputado Ciro Gomes hoje parece mais provável no PSB. O senhor trabalha com a possibilidade de se candidatar a outro cargo?

Skaf: Não. O Ciro já se manifestou inúmeras vezes que será candidato à Presidência e que não quer ser candidato em São Paulo. Reconhece que não tem muito a ver, que seria forçar a barra. Se o Ciro quiser ser candidato ao governo aqui, vai ser, não criarei problemas, mas não é o cenário que vejo. Eu sinto, por parte do partido, que ele será candidato à Presidência. A chance de eu ser candidato a deputado ou senador é zero. Zero. Nem com a hipótese de ministérios eu trabalho. É questão de opção. Não sou um político de carreira, não estou desesperado por um cargo.

Valor: A união ente o PT e o bloquinho (PSB, PDT, PCdoB) em São Paulo não o prejudica, já que tende a Ciro?

Skaf (hesita, escolhendo as palavras) Eu creio que, quando você analisa projetos maiores, não se pode pôr questões menores pesando mais do que merecem. Do PDT, não sinto essa resistência ao meu nome. E no PT, sinto que a primeira resistência era a não ter candidatura própria, e isso foi quebrado com a possibilidade do Ciro. O PT está consciente da importância de ter uma união em São Paulo, seja pensando no Estado, seja pensando nas alianças para a candidatura da ministra Dilma Rousseff. Do meu lado, eu teria braços abertos para essas alianças todas, ficaria muito satisfeito de contar com esses partidos.

Valor: O senhor chegou a conversar com alguém do PT a respeito?

Skaf: A gente tem conversado muito por aí, com todo mundo. Todo mundo é todo mundo (hesita). Sempre há eventos com deputados, governadores, o que mais acontece é gente querendo conversar comigo sobre política. E se não houver essa possibilidade de aliança, o PT terá o candidato deles, nós teremos o nosso.

Valor: Como o senhor pretende estruturar uma eventual campanha, do ponto de vista financeiro?

Skaf: Penso que todos que fazem uma doação, por menor que seja o valor, se sentem mais envolvidos na campanha. Esse é o segredo, mobilizar amigos que tenham essa disposição e, dentro da lei, criar essa rede de apoiadores com pessoas físicas, jurídicas, com empresas.

Valor: O fato de o presidente ter projetado sua origem humilde na grande identificação popular que desfruta não pode levar o eleitor a rechaçar candidatos egressos do meio empresarial?

Skaf: Não concordo com isso. Tasso Jereissati, por exemplo, é uma empresário que se tornou governador e sua gestão foi um divisor de águas para o Ceará. O Blairo Maggi, no Mato Grosso, começou uma eleição com 2% das intenções de voto, venceu e fez muito bem ao Estado. Eu fui um dos poucos empresários que, em 2002, apoiaram a eleição do presidente Lula. Na época, se juntassem os empresários que davam apoio a ele, não preenchia isso aqui [aponta para a mesa com oito cadeiras]. Eu sabia que o Lula era uma pessoa carismática, inteligentíssima. E a sociedade está interessada em ver a novidade. Quer uma renovação que inspire confiança e traga resultados concretos.

Valor: Como foram as articulações no episódio que derrubou a cobrança da CPMF?

Skaf: Em primeiro lugar, a Constituição mandava acabar com a CPMF. Queriam recriar uma coisa que, pela Constituição, tinha que morrer. Uma coisa que nasceu para uma finalidade que nunca cumpriu. Resolvemos comprar a briga. Propus em reunião com a diretoria da Fiesp, tive apoio. Depois, muitas entidades foram se alinhando conosco. Aproveitando algumas viagens que tinha de fazer aos Estados, levava sempre esta bandeira da CPMF. Na época, precisávamos de apoio da base do governo no senado, porque só os votos da oposição não bastavam. E no fim, tudo o que previmos de fato aconteceu. O fim da CPMF não prejudicou o PAC ou o Bolsa Família.

Valor: Como vê a discussão sobre a redução da jornada de trabalho?

Skaf: Eu trabalho 80 horas por semana, sem exagero, de segunda-feira a sábado. Não vejo problema em uma jornada como é a atual, porque ela é de até 44 horas por semana. E a jornada média, no Brasil, é de 41 horas, porque muitos setores já negociaram essa mudança. No setor automobilístico, são 40 horas. Petroquímico e farmacêutico, menos ainda, 38 horas. A lei, como é hoje, é flexível, não limita a negociação. E na vida real, vários setores que quiseram e puderam negociaram isso. A flexibilidade é saudável. A imposição de uma redução pode gerar é desemprego. Uma empresa pequena, com cinco funcionários, se tiver de admitir mais uma pessoa, terá um aumento de 20% de sua folha, e dependendo de suas condições, ela pode até ter de fechar as portas por isso. A maior parte das empresas com jornadas de 44 horas são de pequeno e médio porte. Na França, por exemplo, essa medida gerou desemprego. Não acho oportuno nem de interesse da sociedade mexer nisso agora. E pode gerar exploração política, com muita gente defendendo essa redução por conta das eleições no ano que vem.

Valor: O senhor admitiu ter sugerido à empreiteira Camargo Corrêa que desse apoio financeiro aos diretórios do PSDB no Pará e do DEM no Rio Grande do Norte. Como presidente da Fiesp, tal atuação não pode ser considerada antiética?

Skaf: Ninguém pode me impedir, como cidadão e mesmo como presidente da Fiesp, de sugerir a uma empresa, caso ela se disponha, a dar esse apoio porque foi tudo dentro da lei, com recibo, a Fiesp não deu um tostão, nem pode. Não é nada que fuja à legalidade ou à ética. Eu, há 12 anos, me relaciono bem com os partidos políticos e representantes. E seleciono aqueles melhores, sérios, que trabalham a favor de setores produtivos. Não há campanha sem recursos, então quando chega época da eleição, sou muito procurado.