Título: Com crise, mil bancos podem falir
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2009, Finanças, p. C1

Até agora, 106 bancos regionais já quebraram nos Estados Unidos no rastro da crise global e o número total pode chegar a mil antes que o declínio da economia chegue ao fim, segundo projeção do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), num documento confidencial ao qual o Valor teve acesso. Em agosto, a entidade que representa os maiores bancos do mundo projetava só para este ano a falência de 500 bancos nos Estados Unidos, adicionais aos 57 que tinham fechado até então suas portas, do total de 8 mil bancos do país, por causa da recessão pior do que a prevista.

Para a entidade, os bancos nos EUA e na Europa vão continuar tendo de fazer depreciações "significativas", sobretudo por causa dos calotes nos créditos. As provisões por perdas e depreciações, somadas a mais exigências de capital, implicarão mais necessidade de recursos pelos bancos ao longo de 2010, sobretudo para as instituições da zona do euro.

Após dois anos de crise, a taxa anual de créditos "podres" por bancos americanos excedeu bastante o nível visto na Grande Depressão. À medida que a grande desalavancagem dos bancos se mantém, seus empréstimos declinarão ainda mais, num volume maior do que na recessão anterior, tanto nos EUA como na zona do euro, segundo o IIF.

Para essa espécie de Febraban global, o desafio para os EUA e a Europa, ao decidir quando retirar os estímulos fiscal, monetário e financeiro, será reconciliar uma certa melhora nos mercados financeiros com perspectivas econômicas incertas e fragilidade de muitos bancos.

Enquanto grandes bancos internacionais, ativos em "investment banking" e mercado de capital, têm anunciado lucros substanciais até agora no ano, um grande número de outros bancos mais focados em empréstimos a companhias e a consumidores continuam "atolados" com perdas de créditos.

Os bancos sob pressão tendem a ser os menores, como os regionais nos EUA, e a falência de alguns deles não tem impacto maior na economia ou no sistema financeiro. No entanto, alerta o IIF, à medida que o número de falências chega a várias centenas, o impacto será evidentemente outro. Além de dificuldades para recuperar créditos, os bancos vão ter de afrontar novo regime regulatório global com imposição de mais capital mínimo e colchão de liquidez, "provavelmente resultando em menor retorno das ações".

O IIF nota que outras propostas em discussão podem aumentar os custos de dinheiro para os bancos nos países desenvolvidos.

Já o desafio nos mercados emergentes é visto como diferente. Seus bancos passaram pela crise financeira global e pela recessão numa situação relativamente melhor do que as instituições de economias avançadas, e agora têm "perspectivas de crescimento robusto".

No entanto, alerta o IIF, a liquidez doméstica e taxas de juros ainda estão em níveis de crise e a expansão do crédito foi acelerada. O fluxo de capital aumentou em mais de US$ 53 bilhões entre janeiro e setembro, batendo recorde. Com isso, os mercados de ações nos emergentes valorizaram 63% em um ano até outubro, comparado a 23% das bolsas de economias desenvolvidas. Alguns ativos na Ásia e na América Latina também bateram recordes. A resposta do Brasil ao forte fluxo de capital, com taxação de 2% do IOF, é considerado um "paliativo temporário". O IIF estima que a experiência brasileira vai ser interessante de ser acompanhada.

No contexto global atual, enquanto o apetite pelo risco continua a aumentar e os sinais de recuperação econômica crescem, a abundância de liquidez fornecida pelos bancos centrais em todo o mundo se tornou um problema crescente, estima a entidade dos bancos.

Por isso, sugere prudência. Nota que os ganhos de empresas até agora superaram em 85% as expectativas dos mercados. Mas as perspectivas de aumento de ganhos para os próximos trimestres continuam incertas, conforme as medidas de estímulos começam a diminuir.