Título: Petistas querem impugnar eleição no Rio
Autor: Moura , Paola
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2009, Política, p. A7

O deputado federal Luiz Sérgio venceu oficialmente a eleição para o diretório regional do PT no Rio. A vitória apertada, por 14.625 (51,94%) contra 13.530 votos (48,06%), fez o adversário Lourival Casula entrar com recurso pedindo impugnação de urnas porque teria havido fraudes em quatro municípios do estado.

Segundo o atual presidente do PT, Alberto Cantalice, as reclamações de Casula não são pertinentes. "Já viu alguém perder eleição e não reclamar? É natural que numa eleição apertada como esta haja este tipo de pedido", explica o presidente.

No entanto, o grupo de Casula diz que houve fraudes em Quissamã, Petrópolis, Angra dos Reis e Italva, onde os eleitores teriam sido impedidos de votar. O candidato ainda estuda também entrar na Justiça para impugnar o resultado da eleição.

Luiz Sérgio disse que a campanha foi difícil e que os candidatos participaram do processo com lealdade. Após a divulgação oficial do resultado, o deputado divulgou uma nota na qual disse que o debate "foi rico, franco e ajudou a mobilizar a militância numa demonstração de força e vigor do PT". Luiz Sérgio tenta agora unir o partido para a convenção em março que vai decidir sobre ter um candidato a governador, como quer o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, ou apoiar a candidatura à reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB). "Nossas lutas internas devem terminar aqui. O combate que nos espera é contra a direita e os setores conservadores que não se conformaram com o sucesso do governo ", afirma a nota.

No entanto, pelo visto, as lutas internas continuaram. O prefeito Lindberg diz que não vai desistir de se candidatar porque teria conseguido eleger 55% dos 400 delegados que votarão na convenção. "Eleger o presidente, seria bom, porque era simbólico. No entanto, ainda tenho a batalha pela frente. Não vou desistir", afirmou Lindberg.

O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), aliado do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel na disputa com o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, pela candidatura petista ao governo mineiro, caminhava ontem para a reeleição à presidência do diretório estadual. Até o fechamento desta edição, Reginaldo conseguia 52,2% ; ante 47,8% do secretário nacional de Comunicação da sigla, Gleber Naime, apoiado por Patrus, contados os votos de 465 das 625 cidades participantes. A expectativa de comparecimento era de 40 mil filiados.

O ex-prefeito, junto com a cúpula do seu grupo político, formada por Reginaldo pelos deputados federais Virgilio Guimarães e Miguel Corrêa Júnior e pelo vice-prefeito de Belo Horizonte, Roberto Carvalho, anunciou ontem que usará o resultado da disputa interna, além de sua melhor posição em pesquisas , como argumento para tentar convencer Patrus a não levar a competição para prévias no próximo ano.

Mas a provável vitória de Pimentel na eleição petista deve ocorrer com um resultado abaixo do que o grupo esperava. Os aliados de Pimentel esperavam ganhar a presidência estadual ainda no 1ºturno, com 60% dos votos. Conseguiram 47,6%, inferior à votação percentual de Reginaldo na eleição anterior, em 2007. No 2º turno, Gleber teve o apoio de todos os adversários eliminados na primeira rodada. Reginaldo cresceu graças ao comparecimento às urnas de filiados que não apareceram para votar há duas semanas, sobretudo em Belo Horizonte, reduto de Pimentel.

Ontem, a maior apreensão demonstrada por Pimentel e seus aliados era com a perspectiva de prévias no próximo ano. Independente do resultado, a prévia fará com que o PT defina seu candidato apenas entre maio e junho. O adiamento da decisão prejudica Pimentel , que avalia que começaria muito tarde a tarefa de dialogar com possíveis aliados.

"Quanto mais rápido resolvermos, melhor posicionados estaremos. Vamos tentar um processo de convencimento político, conversar com Patrus. Vai chegar uma hora em que precisaremos analisar o componente externo, que são a capacidade de atração de aliados e as pesquisas de intenção de voto", disse Pimentel. O grupo pimentelista acena com o oferecimento a Patrus de uma das vagas a senador na chapa majoritária do próximo ano. "Esta é uma das possibilidades", disse Reginaldo.

O principal ponto fraco de Pimentel é a sua dificuldade de interlocução com aliados potenciais do PT. Líder nas pesquisas de intenção de voto, o ministro das Comunicações , Hélio Costa (PMDB), sinalizou diversas vezes de que estaria disposto a apoiar uma candidatura de Patrus, mas não de Pimentel. Ontem, o ex-prefeito admitiu a hipótese de não conseguir unificar a base governista em Minas. "Vamos esperar a escolha do PMDB. O Hélio Costa vai avaliar a situação dele e decidir se irá compor conosco ou concorrer sozinho. Não passa pela minha cabeça que ele vá compor com o outro campo", disse Pimentel.

No próximo dia 14, o PMDB também escolherá em uma eleição interna a nova direção estadual do partido. Disputam o candidato apoiado por Costa, o deputado federal Antonio Andrade, e o deputado estadual Adalclever Lopes, que tem o ex-governador Newton Cardoso como principal apoiador. Caso Andrade ganhe, Costa terá carta branca para negociar qualquer aliança. Se prevalecer Adalclever, o interesse maior do PMDB será o de se aliar com o PT, independente de qual seja o candidato petista.

A tendência interna do PT Construindo Um Novo Brasil, ligada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-ministro José Dirceu, conquistou o comando de 21 dos 27 diretórios estaduais e distrital do partido, além da presidência do PT, com o ex-senador José Eduardo Dutra. O grupo petista ganhou em três dos quatro diretórios do partido que realizaram segundo turno no fim de semana. A eleição PT demonstrou a recomposição do antigo Campo Majoritário, enfraquecido em 2005 com a denúncia do mensalão, e consolidou a política de aliança com o PMDB defendida por Lula.

O PT fará hoje um balanço da eleição interna e tentará resolver impasses estaduais nas alianças com pemedebistas. O caso do Rio será amplamente debatido. A direção nacional tentará driblar a resistência de parte do diretório, que apoiou a candidatura de Lourival Casula, à aliança com o PMDB no Rio. "Um diretório estadual não vai lançar candidatura própria se não tiver a conivência do nacional", disse ontem o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza. "O resultado da eleição interna não vai influenciar a aliança com o PMDB. A política de aliança nacional foi definida antes dos acordos estaduais", disse Vaccarezza.

Hoje o partido dará início às comemorações dos 30 anos do PT, que será completado no próximo ano. A festa deverá se transformar em um grande ato político em favor da candidatura da ministra Dilma Roussef (Casa Civil) à Presidência.