Título: Países ricos acenam só com verba de curto prazo
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2009, Especial, p. A12

O maior obstáculo para um acordo internacional do clima já apareceu no primeiro dia da CoP-15, a conferência das Nações Unidas que começou ontem, em Copenhague: a falta de recursos para financiar o o desafio de conter e se adaptar às mudanças climáticas.

Ontem se falava da opção "fast start", uma espécie de fundo rápido e ágil que ajude os países mais pobres e vulneráveis a se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas. O fundo teria ¿ 10 bilhões, que viriam dos países ricos. O dinheiro já estaria disponível em 2010.

O "Financial Times Deutschland" publicou que a União Europeia estaria pronta a colocar entre ¿ 1 bilhão e ¿ 3 bilhões no tal "fast start". O problema é que esse volume de recursos é pequeno frente às estimativas de US$ 100 bilhões (do Banco Mundial) a US$ 200 bilhões (da ONG Oxfam) ao ano que seriam necessários para adaptação e mitigação dos gases-estufa.

"Um dos problemas da CoP-15 é que falta engajamento dos países industrializados no financiamento de ações dos países em desenvolvimento, seja em adaptação à mudança do clima, seja na redução das emissões de gases-estufa", diz Sergio Serra, um dos negociadores do Brasil. Ele cita frase da ministra do Ambiente da Dinamarca, Connie Hedegaard, que preside a CoP-15: "No money, no deal". Sem dinheiro, não há acordo.

"Não é possível sair da CoP só com financiamento de curto prazo", disse Luis Alberto Figueiredo Machado, chefe da delegação brasileira. Os recursos de longo prazo, que interessam a países como o Brasil, servem para investimentos que reduzem a emissão de gases-estufa. Sobre estes, os países ricos ainda não se manifestaram.

Se o pacote financeiro não sair, é possível que também não saia o mecanismo de redução de emissões relacionado com florestas, conhecido por Redd. São tópicos discutidos separadamente na CoP-15, mas que estão intimamente ligados. Além disso, não agrada ao Brasil acertar a proteção das florestas antes que os países ricos definam metas mais ambiciosas de cortes de emissão e coloquem os recursos financeiros sobre a mesa. Se isso não ocorrer simultaneamente, os países com floresta perdem o poder de barganha para outros temas críticos no acordo.

Enquanto o dinheiro não sai, a pressão da Europa sobre os EUA continua. "O final do jogo será apresentado pelos EUA e a China", disse o ministro do Ambiente sueco, Andreas Carlgren. "É importante o que eles já apresentaram, mas quando as propostas são analisadas, percebe-se que, com elas, ainda não reduziremos as emissões a ponto de conseguir ficar no aumento de 2ºC em 2100", prosseguiu, falando em nome da UE.

Em seguida, ele alfinetou os EUA. "Pode-se ver que a curva de emissões dos EUA tende a ir para baixo, o que é promissor. Mas ainda digo que a meta é muito baixa."

Depois criticou a China. "Parece que, em algumas circunstâncias, a proposta da China pode significar um aumento das suas emissões. E isso, é claro, não está nas ambições globais." Se a China crescer ao ritmo da última década, sua proposta representa um aumento de até 130% nas emissões. "A questão, neste momento, não é esta", rebate um diplomata do G-77, grupo dos países em desenvolvimento mais a China. "A China não tem como reduzir suas emissões agora, elas vão crescer. A questão é evitar que elas cresçam 300%."

China e EUA respondem por metade das emissões do planeta. A UE teme que, se os dois tiverem meta de emissão mais branda que outros países, possam produzir de modo mais barata e competitiva.

A jornalista viaja a Copenhague com bolsa da Climate Change Media Partnership