Título: China faz concessão e admite ficar sem ajuda financeira
Autor: Harvey , Fiona
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2009, Especial, p. A5

A China sinalizou ontem que está abandonando a sua demanda de receber ajuda do mundo desenvolvido para o combate às mudanças climáticas. Essa é aparentemente a primeira concessão importante de um dos principais protagonistas da cúpula climática de Copenhague.

Porém, na mesma entrevista ao "Financial Times", o principal negociador chinês acusou os países ricos de estarem se preparando para culpar a China por um fracasso em Copenhague.

No momento em que as negociações entram na sua semana final, He Yafei, o vice-chanceler chinês, disse que o financiamento dos países ricos deve ser direcionado aos países mais pobres.

"Recursos financeiros para os esforços dos países em desenvolvimento [para combater as mudanças climáticas] são uma obrigação legal", afirmou He. "Isso não significa que a China tomará uma parte [desses recursos]. Provavelmente, não."

"Nós não esperamos que que venha dinheiro dos EUA, do Reino Unido [e de outros] para a China."

A China se comprometeu a cortar suas emissões por unidade do PIB em 40% a 45% até 2020, mas vinha até agora pedindo financiamento dos países desenvolvidos para ajudá-la a atingir essa meta.

Os países ricos, particularmente os EUA, querem que a China e outros países pobres aceitem que suas propostas de corte de emissões tenham efeito de compromissos internacionais obrigatórios e que sejam "mensuráveis, reportáveis e verificáveis", o que daria uma garantia de que essas medidas estão de fato sendo adotadas.

"Nós não precisamos que os países em desenvolvimento garantam o resultado de suas medidas [de corte de emissões], mas precisamos que elas sejam [verificáveis]", disse uma autoridade de um país desenvolvido.

Num sinal das tensões que ainda permanecem nas negociações, o chinês He insistiu que isso não pode ser feito. "Isso é uma questão de princípio", disse ele, reiterando que a China não vai se curvar a essas exigências.

Mas ele argumentou que, se as negociações naufragarem por causa desse ponto, será porque os países desenvolvidos rejeitaram um compromisso nesse tema.

"A China não será um obstáculo [a um acordo]. O obstáculo agora são os países desenvolvidos", disse ele. "Sei que as pessoas dirão, se não houver acordo, que a culpa é da China. Mas isso é uma armadilha dos países desenvolvidos. Eles têm de olhar para suas próprias posições e não usar a China como uma desculpa. Isso não é justo."

Ele disse que a China vai cumprir as suas promessas. O fato de que o país não quer ter um compromisso obrigatório internacionalmente "não significa que a China fará menos", disse He.

Mais de cem líderes mundial, incluindo o presidente dos EUA, Barack Obama, devem se juntar às negociações na quinta-feira, numa tentativa de resolver essas amplas divergências.

Os governos de países desenvolvidos estão buscando um compromisso e citam a adesão da China a padrões de monitoramento e de divulgação de dados em outras questões como um possível arranjo para que a China e outros países em desenvolvimento possam ser vistos como estando comprometidos.

He minimizou as divisões que emergiram no G-77, o grupo dos países em desenvolvimento, alguns dos quais se opõem à China e concordam com um acordo que seja um compromisso internacional para todos. "Você ouvirá diferentes vozes entre os países em desenvolvimento", disse ele. "Isso é natural. Cada país tem as suas circunstâncias únicas e nós entendemos isso."

Ele acrescentou que é "risível" que os países desenvolvidos ofereçam uma meta de ajuda financeira ao mundo em desenvolvimento somente para os próximos três anos, mas não além disso.