Título: Empresários temem que denúncias paralisem obras no Distrito Federal
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2009, Política, p. A8

O setor empresarial do Distrito Federal teme que a crise política, iniciada com a divulgação de vídeo mostrando o governador José Roberto Arruda (sem partido) comandando um suposto esquema de propina para parlamentares aliados, paralise as obras e a economia da cidade. Com uma dependência acentuada do governo local - dados da Federação das Indústrias de Brasília (Fibra) mostram que 25% da riqueza produzida vem do poder público - e mais de 2 mil obras em andamento em diversos pontos, os empresários querem evitar um colapso na capital federal. "Se essa crise paralisar os investimentos, vai afetar o caixa das empresas, levar a demissões e prejudicar os cidadãos", disse o presidente da Fibra, Antônio Rocha.

Entre as milhares de obras em andamento na cidade há a Linha Verde, um corredor de seis pistas de rolamento, diversos viadutos e retornos ligando o Plano Piloto às cidades-satélites mais populosas do Distrito Federal; recapeamento e duplicação de pistas em vários pontos do Distrito Federal; instalação de sistemas de drenagem pluvial; além de pequenas obras, como reformas em escolas, hospitais e construção de postos e delegacias policiais.

Assim que os primeiros vídeos surgiram, alguns empresários que têm contratos com o governo procuraram a Secretaria de Obras. O medo era de que o escândalo levasse à suspensão do pagamento das faturas e a atrasos na execução. A segunda peregrinação dos empreiteiros aconteceu quando o secretário Márcio Machado - já exonerado - foi filmado recebendo propinas do então secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa.

Um servidor que pediu para não ser identificado confirmou ao Valor que um fornecedor que realiza obras em seu setor, avisou, na semana passada, que só voltará a trabalhar após ter a garantia de que receberá seu pagamento. Um parlamentar federal disse que, apesar da boa vontade de todos, o ritmo das obras e serviços está mais lento. "As pessoas estão fazendo as coisas meio sem gosto. Todos estão tensos em relação ao futuro", afirmou.

Nas duas últimas semanas, a Fibra realizou duas grandes reuniões para discutir a crise política. A primeira, na quinta-feira, dia 3, reuniu 25 entidades de diversos setores da economia brasiliense e o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Adriano Amaral. Na sexta-feira, dia 11, nova reunião. A pedido da Fibra, além de Amaral, participaram também os secretários de Obras, Jaime Alarcão; de Agricultura, João Sampaio; de Governo, Flávio Giussani; e de Ciência e Tecnologia, Izalci Lucas.

Para o presidente da Fibra, é fundamental que o governo dê sinais de que não ficará inerte do ponto de vista econômico. "Em cidades como São Paulo, a riqueza gerada pelo poder público local é de 9%. Aqui, o percentual é muito mais alto". O presidente da Fibra lembrou que o GDF é um cliente importante em diversas áreas, como construção civil, informática e prestadores de serviço de maneira geral.

O temor do setor produtivo não envolve apenas o risco de uma paralisia nas obras que já estão em andamento na cidade. Há questionamentos também sobre projetos recém iniciados, como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), uma das principais obras do governo incluídas no PAC da Copa do Mundo. Ligando o Aeroporto até o fim da Asa Norte e com um entroncamento da Esplanada dos Ministérios até a Rodoferroviária - passando ao lado do Estádio Nacional de Brasília, sede de jogos da Copa -, a obra está orçada em R$ 1,55 bilhão. A primeira parte custará R$ 780 milhões e precisa estar pronta até o fim de 2010. O cronograma final é 2012.

Outra dúvida envolve as obras que necessitam de financiamento externo. Ao longo dos três anos de gestão Arruda, vários empreendimentos foram financiados pelo Banco Mundial, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pela Corporação Andina de Fomento - esses últimos mais voltados para a construção de sistemas pluviais para evitar enchentes. Segundo empresários ouvidos pelo Valor, empréstimos desta natureza dependem da confiança de quem empresta e da credibilidade de quem recebe os recursos.

Quanto aos projetos futuros são, na visão dos empresários locais, a possibilidade de que eles se concretizem torna-se quase nula. Investimentos como a chamada Cidade Digital - uma área destinada a abrigar 2 mil empresas de tecnologia e com um orçamento total de R$ 3 bilhões - dificilmente vão se materializar durante a atual gestão. Na semana passada estava agendada uma viagem de empresários e secretários de governo para a Ásia, principalmente para Cingapura, onde conversariam com governantes e investidores.

A comitiva adiou a viagem para a terceira semana de janeiro. A avaliação do governo é de que, nesse momento de crise, não valia a pena deslocar vários secretários para fora do país. Outro projeto que foi adiado indefinidamente é o Interbairros, que criaria um corredor de trânsito de aproximadamente 40 quilômetros, com lojas, áreas de lazer e apartamentos, a um custo de R$ 20 bilhões, idealizado inicialmente para ser financiado pelo modelo de parceria público-privada (PPP).