Título: Morre o 'pai' da teoria econômica moderna
Autor: Lahart , Justin
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2009, Internacional, p. A11

Paul A. Samuelson, pesquisador cujo trabalho analítico criou a fundação da teoria econômica moderna, morreu ontem aos 94 anos. Samuelson, o primeiro americano a receber o Nobel de Economia e autor de um dos livros escolares mais conhecidos, "foi um dos maiores educadores que a economia já conheceu" e um "titã da economia", segundo Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve, o banco central americano.

"Paul Samuelson foi um teórico da economia prolífico e desbravador", disse Bernanke, que foi aluno de Samuelson no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (o MIT).

A carreira de Samuelson no estudo da economia durou oito décadas e prosseguiu até recentemente. Quando estava no nível médio, em 1932, ele foi parar numa palestra sobre economia na Universidade de Chicago e ficou fascinado. Quando passou a estudar na Universidade de Chicago, percebeu claramente as diferenças entre o que era ensinado na sala de aula e o que "ouvia do lado de fora da janela e o que ouvia nas ruas", disse ele em entrevista ao Wall Street Journal este ano.

Em 1935, ele foi fazer pós-graduação na Universidade Harvard, apesar dos protestos de seus professores em Chicago. Sua tese de doutorado, apresentada em 1941 e publicada posteriormente como "Fundamentos da Análise Econômica", examinou a estrutura matemática que está na base da economia. A abordagem apresentada no livro revolucionou o campo, ao ponto que os economistas atuais muitas vezes ainda se dediquem a encontrar a prova matemática de suas teorias.

"Para mim, a perda foi ainda maior", disse o economista da Universidade Princeton Avinash Dixit. "Meu estilo de pesquisa e as técnicas que dão suporte à maioria dos meus artigos são derivados de seus trabalhos pioneiros."

Samuelson começou a lecionar no MIT em 1940, no que se tornou o início de uma associação vitalícia com a universidade, que ajudou o curso de economia a se tornar um dos mais respeitados do mundo. Com seu livro didático "Economia", publicado em 1948 e durante anos o mais usado em qualquer tópico de estudo universitário, a abordagem analítica de Samuelson se tornou padrão nos cursos de graduação. Ele também introduziu o trabalho de John Maynard Keynes no currículo universitário. Agora em sua 19ª edição, o livro continua popular. Bernanke tem uma cópia assinada por Samuelson na prateleira de seu escritório no Fed.

"Simplesmente há um volume enorme de coisas que todo estudante de graduação aprende hoje em dia e que tomamos como normais, em que Paul teve um papel absolutamente crucial na codificação e descobrimento", disse o economista do MIT e presidente do Birô Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA James Poterba, que se lembra de carregar o livro de Samuelson quando estava no ensino médio. "É como tentar imaginar como as pessoas entendiam a mecânica antes de Newton."

Em 1970, ele se tornou o primeiro americano a vencer o Prêmio Nobel de Economia, no segundo ano em que o prêmio passou a ser oferecido. "A contribuição de Samuelson, mais do que a de qualquer outro economista contemporâneo, tem sido elevar o nível analítico e metodológico na ciência econômica", escreveu o comitê do Nobel. "De fato, ele simplesmente rescreveu elementos consideráveis da teoria econômica."

Samuelson, que foi a vida toda filiado ao Partido Democrata, foi assessor dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson, embora tenha se recusado a assumir um cargo oficial no governo. Samuelson veio de uma família de economistas famosos, como seu irmão Robert Summers, a cunhada Anita Summers e o sobrinho Lawrence Summers.

"Antes de tudo, ele era um acadêmico", disse Lawrence Summers, que preside o Conselho Nacional de Economia de Obama. "Ele costumava dizer que nunca passou uma semana inteira em Washington. Mas com suas pesquisas, seu ensino e escritos, teve um impacto maior na vida econômica deste país e do mundo do que qualquer autoridade do governo e vários presidentes."

Numa entrevista em março ao Wall Street Journal, Samuelson criticou as pessoas que estavam tentando combater a crise financeira. "O típico comentarista atual é alguém que poderia ser estudante no MIT há 25 anos. Admiro muito Ben Bernanke. Mas como nasceu em 1956, não sabe como foi. Se você nasceu depois de 1950, realmente não ficou com a Grande Depressão marcada em seus ossos", disse ele. "Ser um jovem brilhante no MIT não substitui isso."

"Para provar que Wall Street é um prenúncio de movimentações futuras do PIB, os comentaristas citam estudos econômicos alegando que as crises dos mercados previram quatro das última cinco recessões", escreveu ele em 1966. "Dizer isso é pouco. Os índices de Wall Street previram nove das cinco últimas recessões! E seus erros foram bonitos."

Ele continuou muito interessado no que estava acontecendo na economia durante este ano, levando em conta efeitos da pior crise desde a que marcou o início de sua carreira, nos anos 30, e tecendo análises. "Eu pensei desde o início que isso seria muito mais sério, porque foram pessoas como eu - no MIT e em Chicago - que criaram esses derivativos maravilhosos", disse ele. "Da maneira como foram formulados pelos engenheiros financeiros, eles eram incompreensíveis para qualquer presidente de empresa. Eles não sabiam nem com quem realmente estavam dividindo a banheira."