Título: PSDB sai do governo e cobra apuração rápida
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2009, Política, p. A6

O PSDB deixou na mão do Democratas a decisão sobre o futuro da aliança entre os dois partidos. Numa reunião curta e objetiva, os tucanos declararam esperar que as "denúncias" contra o governador José Roberto Arruda "sejam apuradas com toda a energia" e determinaram "o imediato afastamento do Governo do Distrito Federal de todos os membros do partido".

Com a decisão tomada desde a véspera, os tucanos contrariaram a fama de indecisão que os acompanha. E deixaram implícito que esperam do Democratas o afastamento do governador José Roberto Arruda, envolvido num suposto esquema de recebimento e pagamento de propinas já batizado de "Mensalão do DEM". Ao agir de maneira rápida, os tucanos evitaram problemas internos como sugeria o quórum da reunião da Executiva Nacional realizada ontem.

Desde às 14h os tucanos lotavam a sala do líder Arthur Virgílio (PSDB-AM), à espera do presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PE). Guerra chegou com o semblante fechado, anunciou a nota a ser divulgada - sobre a qual já conversara com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ) - e não deu margem para maior discussão. O semblante fechado de Guerra não expressava a gravidade da situação, mas uma indisposição estomacal que o levou a deixar rapidamente a sala de reuniões.

A cúpula dos dois partidos, por enquanto, avalia que o episódio Arruda não deve ter desdobramentos no sentido de impedir a coligação entre PSDB e DEM na eleição presidencial de 2010. Mas as reações em cada legenda não deixam de refletir a divisão entre as pré-candidaturas tucanas de Aécio Neves e de José Serra. O governador de São Paulo, aliado ao prefeito da capital, Gilberto Kassab, desde o início foi duro em relação a Arruda.

Com a decisão, a Executiva do PSDB tenta marcar distanciamento em relação à suposta distribuição de recursos ilegais entre aliados do governo de Arruda. Tenta também circunscrever as denúncias a um episódio paroquial. A avaliação dos tucanos é que o eleitor de Brasília é politizado e saberá distinguir os fatos na hora de votar, em 2010.

Em público, Sérgio Guerra declarou que a decisão dos tucanos não tem "nada a ver com aliança nacional", nem "com questões dos outros Estados". "É apenas um episódio local", disse ontem, ao final da reunião do comando partidário. "Não se trata de relações entre partidos, mas sim de posições que partidos tomam em defesa da democracia no pais", afirmou o presidente do PSDB.

O líder do PSDB na Câmara, José Anibal (SP), procurou minimizar o impacto da crise sobre a aliança nacional entre os dois partidos. "Não vai prejudicar nem a aliança nem a oposição", disse. "Mas queremos mostrar que não compartilhamos desse tipo de procedimento", afirmou.

O comando do PSDB ameaçou os secretários do GDF Márcio Machado (Obras), José Humberto (Governo ) e Valdivino de Oliveira (Fazenda) de expulsão do partido, caso não saiam do governo. Machado é presidente do diretório tucano do Distrito Federal. "Nós consideramos absolutamente grave todas as irregularidades apontadas", disse Guerra. "O PSDB não está mais no governo do DF", afirmou. Segundo Guerra, os envolvidos em irregularidades serão submetidos ao Conselho de Ética.

Ontem, além do PSDB, o PV anunciou a saída do governo. Também já deixaram a gestão o PPS, PSB e PDT.