Título: DEM dá oito dias para que Arruda se defenda
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2009, Política, p. A6

A Executiva Nacional do DEM deu ontem um prazo de oito dias (até 9 de dezembro) para que o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), defenda-se das denúncias de comandar um esquema de corrupção no governo local. A defesa deve ser feita por escrito e, no dia 10, a Executiva reúne-se novamente para votar o pedido de expulsão do governador. A decisão de ontem contrariou o desejo dos líderes do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO) e no Senado, José Agripino Maia (RN), que queriam expulsar Arruda na reunião de ontem. "Faltou coragem ao partido", lamentou um integrante da Executiva Nacional.

O partido precisa agora escolher um novo relator do processo disciplinar para o caso, já que o deputado José Carlos Machado (DEM-SE), indicado ontem, renunciou à função pouco depois de ser escolhido. Alegou não ter conhecimentos jurídicos para o trabalho.

Ontem, a exemplo de todas as outras reuniões realizadas desde que a crise no governo do Distrito Federal começou, a de ontem também foi extremamente tensa. A favor de Arruda, pronunciaram-se apenas os deputados Alberto Fraga e Osório Adriano, ambos do DF. Fraga disse que as imagens gravadas mostrando o atual governador do DEM pegando R$ 50 mil com o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, foram feitas antes de ele tomar posse e que as provas depois do início do mandato não são conclusivas. Os dois parlamentares também lembraram que o próprio estatuto do partido obriga a concessão de um prazo de defesa em processos de expulsão partidária.

Os líderes Agripino e Caiado, além do senador Demóstenes Torres, chegaram atrasados à reunião porque estavam redigindo uma petição pedindo a punição a Arruda. "Só nós defendemos isso aqui dentro. Os demais quiseram uma solução alternativa, que foi dar um prazo de defesa. Mas a proposta nem chegou a ser votada e o presidente Rodrigo Maia (RJ) avocou para si a decisão de conceder o prazo", afirmou Caiado.

Este prazo foi criado quando o então PFL debatia a expulsão do ex-deputado Hildebrando Paschoal, acusado de fazer parte de um grupo de extermínio no Acre. "O Arruda sabe que tem esse direito. Se a gente expulsasse ele hoje (ontem), ele entraria no Supremo Tribunal Federal alegando perseguição e essa novela continuaria", confirmou um deputado demista.

A esperança dos parlamentares é de que o próprio governador se convença, antes do término do prazo para sua defesa, que o melhor caminho é o pedido de desligamento da legenda. "O Arruda queria ser absolvido pelo DEM, depois das ameaças que fez na reunião de segunda na residência oficial de Águas Claras. Mas o partido optou por deixá-lo sangrando até o dia 10, ele não aguenta", apostou um parlamentar federal que conhece de perto o governador do Distrito Federal.

Mais cedo, Arruda divulgou nota afirmando que apresentará provas irrefutáveis de sua inocência e negando que tenha feito qualquer ameaça a integrantes de seu partido. "Ao contrário de versões maldosas veiculadas em alguns veículos de comunicação, a reunião transcorreu em um clima de elegância e respeito mútuo, sem nenhum tipo de pressão. O que o governador do DF pediu foi que o partido desse a ele amplo direito de defesa, respeitando os prazos estatutários", diz a nota.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), reconhece que o estrago na imagem pública do partido já aconteceu. "As cenas são chocantes, mas o partido tem que agir com responsabilidade. Qual outra legenda puniu seus integrantes envolvidos em escândalos? "questionou. Além do desgaste político, o episódio também abriu uma crise entre o DEM e o PSDB. Maia (RJ) deixou claro que o PSDB - que decidiu ontem abandonar o governo de Arruda - jamais se dispôs a abrir processo disciplinar interno contra a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius. Um integrante da executiva lembrou que o próprio Rodrigo foi a Porto Alegre manifestar apoio à governadora tucana. "Acabou a disposição de um projeto único para 2010", resumiu ao Valor um dirigente graduado do partido.