Título: Preocupação com Dubai esfria e investidor volta atenção para risco
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2009, Finanças, p. C2

O começo do novo mês trouxe nova demanda por ativos de risco, à medida que os temores em torno dos problemas da dívida de Dubai perdiam força e passavam para segundo plano e à medida que a perspectiva para a economia global e a política do banco central retornavam ao centro das atenções.

O ouro também retornou às manchetes, rompendo a cotação de US$ 1,2 mil a onça pela primeira vez.

Uma grande quantidade de estatísticas animadoras vindas do setor industrial de todo o mundo, mais especialmente da China, proporcionaram aos investidores alguma tranquilidade de que a recuperação global estaria no rumo certo.

Mas iniciativas divergentes vindas dos bancos centrais do Japão e da Austrália serviram como um lembrete dos ventos políticos contrários ainda enfrentados pelos mercados.

O Banco do Japão, na esteira de uma reunião imprevista, anunciou que injetaria uma quantia adicional de 10 trilhões de ienes (US$ 115 bilhões) no sistema bancário por meio de empréstimos de três meses a uma taxa fixa de 0,1%.

A medida foi muito menos agressiva do que muitos esperavam, e foi amplamente considerada como um gesto simbólico de um banco central sob crescente pressão do governo.

Alguns analistas indicaram que a providência do Banco do Japão sublinharia tensões mais amplas no sistema financeiro global, apesar da melhora no ambiente econômico e da liquidez abundante.

"A cautela não decorre do fato de o Banco do Japão estar procurando expandir seu balanço patrimonial num momento em que os demais grandes bancos centrais estão considerando estratégias de saída, mas da bola de neve negativa dos fluxos de crédito, da atividade econômica abaixo da média e das inadimplências crescentes, que tornaram o afrouxamento quantitativo uma característica aparentemente permanente da política do Japão, com pouco efeito", disse Lena Komileva, responsável pelo setor de economia de mercados do G-7 no Tullett Prebon.

"Dinâmicas semelhantes estão despontando por todos os lugares. Este não é mais um problema do Japão, é um problema no estilo do Japão, que atravessa o mundo industrializado", disse.

O Reserve Bank (banco central) da Austrália forneceu um contraste sombrio na frente política, à medida que ele elevou as taxas de juros em 25 pontos-base, para 3,75%, no terceiro aperto seguido. O banco central australiano projetou que o crescimento retornaria a um nível próximo do juro de longo prazo no próximo ano e, fundamentalmente, que a inflação se situaria dentro da sua variação de meta.

A perspectiva para a economia da Austrália foi reforçada por um vigoroso relatório dos gerentes de compra da China para o mês de novembro

Nos mercados de divisas, a iniciativa do banco central da Austrália, embora amplamente esperada, ajudou a empurrar o dólar australiano mais para cima.

O índice de volatilidade Vix - acompanhado de perto como um indicador da aversão ao risco - caiu 8,8%, para 22.35, mas permaneceu longe do nível mais baixo de 2009, pouco acima de 20, obtido na semana passada.

As ações registraram alta em todos os setores, com o índice S&P500 subindo 1,2% no meio do pregão de ontem em Nova York, apesar de o índice de atividade industrial do ISM ter sido ligeiramente mais fraco que o esperado em novembro. Melhores notícias viera de um indicador positivo para outubro para vendas pendentes de residências nos Estados Unidos.

Na Europa, o índice FTSE Eurofirst 300 aumentou 2,61%, no seu maior ganho em um único dia em mais de quatro meses, enquanto o Nikkei 225 em Tóquio subiu 2,4%, à sua mais alta cotação em duas semanas, em antecipação ao encontro do banco central.

Os papéis dos mercados emergentes apresentaram seu melhor desempenho em três semanas.

Os índices de crédito caíram, refletindo o relaxamento das tensões de Dubai. O índice Markit iTraxx Crossover composto na sua maioria de créditos altamente especulativos caiu 9,5 pontos-base para 531.5 pontos-base.

Os bônus do governo dos Estados Unidos caíram, com os papéis para dez anos em alta de 5 pontos-base, em 3,25%.

Nas commodities, o dólar mais fraco ajudou o ouro a atingir US$ 1.201,40 a onça (e fechar em US$ 1.192,50 no mercado de Londres) , enquanto o petróleo ficou acima de US$ 78 o barril. O índice Baltic Dry, que mede os custos de frete de commodities, caiu pela oitava temporada.