Título: Comitê vai renegociar dívida com Dubai
Autor: Khalaf , Roula
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2009, Finanças, p. A5

Alguns dos maiores bancos do mundo uniram-se a detentores de bônus insatisfeitos na organização de uma resposta ao pedido da estatal Dubai World por uma reestruturação de dívidas de US$ 26 bilhões.

Um grupo de bancos credores - HSBC, Standard Chartered, Royal Bank of Scotland (RBS), Lloyds e bancos locais - formou um comitê de direção, segundo informou uma fonte a par dos acontecimentos. O comitê espera se reunir com representantes da Dubai World no próximo domingo ou na segunda-feira.

Desde que o departamento das finanças do governo de Dubai assumiu na semana passada o controle da administração da Dubai World e chocou a comunidade financeira internacional ao pedir uma suspensão dos pagamentos da dívida até maio, o foco das atenções está no adiamento do pagamento de um bônus islâmico (sukuk) de US$ 4 bilhões da Nakheel, a incorporadora imobiliária da Dubai World.

Mas novas preocupações surgiram na segunda-feira, quando a Dubai World emitiu comunicado afirmando que a reestruturação que está em andamento diz respeito a um grupo de companhias com dívidas totais de US$ 26 bilhões e que ela já começou as negociações com os bancos.

O comunicado de ontem deixou entre alguns banqueiros a impressão de que a reestruturação poderá envolver mais que um adiamento de seis meses nos pagamentos das dívidas. O tamanho da dívida junto aos bancos ainda não está claro. Mas alguns analistas afirmam que ela pode chegar a US$ 16 bilhões.

Acredita-se que bancos ocidentais, asiáticos e do Oriente Médio estejam expostos à Dubai World, mas analistas afirmam que até 40% dos empréstimos podem estar em poder de bancos locais dos Emirados Árabes Unidos.

"Os bancos agora tentarão descobrir o que exatamente está sendo reescalonado", disse um analista. "Os bancos vão fazer a mesma pergunta que os detentores de bônus estão fazendo - quais são as obrigações, quais são os ativos -; todo dia surge uma coisa nova."

"O conselho básico foi que a reestruturação diz respeito ao adiamento de pagamentos, mas a Dubai World está agora sinalizando que se deve esperar o pior", disse ontem um banqueiro experiente da região. "Haverá vendas de ativos, mas no final das contas os números não contribuirão para nada que se possa parecer com uma recuperação plena. Existe um grande rombo e haverá grande sofrimento."

Esse banqueiro disse que a Dubai World também poderá ser apenas a primeira dor de cabeça e que a Dubai Holding, outro grande conglomerado do emirado, também deverá tentar a reestruturação de suas dívidas. A Dubai World disse que a reestruturação afetou sua controladora e suas duas unidades imobiliárias, a Nakheel e a Limitless. Suas entidades economicamente mais viáveis estão excluídas.

Mas a Dubai World vem discutindo com bancos estrangeiros um pacote de refinanciamento desde o terceiro trimestre, segundo pessoas a par das negociações. Como parte das discussões de reestruturação, chamada de "Project Eagle", os bancos vêm rolando dívidas que estão vencendo semanalmente, enquanto intensificam os "esforços por mais informações" da companhia, afirma um banqueiro.

No entanto, uma fonte familiarizada com as negociações disse que os bancos reclamaram quando foram solicitados a ampliar os prazos de vencimento até o fim do ano.

Alguns banqueiros a par do processo, mas que não estão envolvidos diretamente, afirmam que os bancos estrangeiros estão apostando que o governo vai interferir e pagar os credores para evitar o embaraço de um default. Alguns até acreditam que o emirado de Abu Dhabi poderá bancar a reestruturação.

Hassan Heikal, diretor do banco de investimento regional EFG-Hermes, disse que os bancos globais que estão abalados com a intervenção do governo de Dubai, terão que reescalonar os empréstimos. "Não há outra solução."