Título: PMDB aguarda explicações de Lula
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2009, Política, p. A8

O PMDB ainda aguarda uma explicação pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a declaração de que o partido deveria apresentar uma lista tríplice para a escolha do vice de Dilma Rousseff. A esperada conversa entre Lula e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), prevista para acontecer na noite de segunda-feira, não aconteceu. A reunião entre a cúpula dos dois partidos, que acontece às quartas-feiras, foi cancelada e só deve ser retomada em fevereiro. "Se a reunião ocorresse, passaria a ideia de que tudo está bem. Mas não está", resumiu o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), essa confusão favorece apenas àqueles que são contrários à aliança entre PT e PMDB. "Os pemedebistas que querem levar o partido a apoiar o governador José Serra [PSDB-SP] ou os que defendem a candidatura própria para presidente com certeza vão usar esse episódio em seus Estados".

Lideranças pemedebistas entendem a demora do presidente Lula em explicar-se em relação às suas declarações. Para eles, Lula não quer passar a impressão de que está "cedendo a um ultimato do PMDB". De acordo com um principais articuladores da aliança com o PT, Lula cometeu o deslize, o PMDB respondeu à altura e aguarda os esclarecimentos presidenciais. "Em política não existe gesto sem consequência. Mas esperamos que o tempo resolva essas coisas", disse Cunha.

Se Lula ainda não se pronunciou, as principais lideranças da campanha presidencial petista - incluindo a pré-candidata Dilma Rousseff - passaram o fim de semana ligando para os pemedebistas justificando que as palavras do presidente Lula foram equivocadas. O principal argumento é que ele estava ao vivo em uma emissora de rádio maranhense, ao lado do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e não quis desagradar ninguém. Por isso, teria sugerido que o PMDB apresentasse uma lista tríplice com nomes de possíveis candidatos a vice para serem aprovados pela chefe da Casa Civil.

Além de Dilma, esse argumento foi dado aos pemedebistas pelo ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pelo presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP) e pelo líder petista na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). Segundo um petista ouvido pelo Valor, a maior prova de que Lula cometeu uma gafe foi Dilma ter ligado para Temer para se justificar. "Ela não faria isso sem consultar o presidente. Ela não diria que o presidente falou demais se não tivesse o aval de Lula."

Durante o recesso de janeiro, as lideranças de ambos os partidos continuarão conversando mas, formalmente, o grupo que articula a campanha presidencial de Dilma só voltará a se encontrar em fevereiro, mês em que o PT realizará o seu congresso nacional para confirmar a candidatura Dilma e definir a política de alianças regionais. No início de março, será a vez do PMDB realizar a convenção que deverá reconduzir Temer à presidência da legenda.

Para Henrique Alves, os dois encontros partidários, superadas as divergências regionais, serão fundamentais para consolidar ou enterrar a aliança PT-PMDB. Apesar de a convenção do PMDB que definirá a aliança acontecer só em junho, a expectativa é que na eleição para o Diretório Nacional as forças políticas da legenda comecem o enfrentamento. "Ninguém vai esperar até junho para debater isso. A aliança será o grande palanque da eleição do Diretório Nacional do PMDB em fevereiro", confirmou Cunha.

Para Henrique Alves, se a aliança de fato se concretizar, "algo pelo qual todos nós lutamos", não há outra alternativa de vice além de Michel Temer. "Temer é parlamentar, presidente da Casa e presidente do partido. Isso até constrange aqueles que são contrários à aliança. Ao olharem para a chapa de Dilma, verão que o presidente do nosso partido estará como vice dela", disse Henrique Eduardo Alves.