Título: BC prevê déficit de US$ 40 bi em 2010
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2009, Finanças, p. C1

O Banco Central avalia que a retomada do crescimento da economia, do emprego e da renda levarão o Brasil a registrar déficit de US$ 40 bilhões e não mais de US$ 29 bilhões em suas transações correntes com o exterior, em 2010. A revisão da projeção foi anunciada ontem pelo chefe do Departamento Econômico da autarquia, Altamir Lopes. Como proporção do Produto Interno Bruto, o déficit do ano que vem, até então projetado em 1,76%, deverá atingir 2,08%.

Em 2001, o país gastou 4,19% do PIB além do que recebeu de outras nações. Desde então, não se vê fluxo tão negativo quanto o esperado para 2010 na conta de transações correntes. Por outro lado, a previsão de ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) também foi revista pelo BC, de US$ 38 bilhões para US$ 45 bilhões. Mesmo maior, portanto, o déficit a ser gerado pelas transações relativas a comércio, serviços, rendas e transferências unilaterais será integralmente coberto por investimentos diretos, que "representam financiamento da melhor qualidade", ponderou Altamir Lopes.

O chefe do Depec acredita que, em função da significativa melhora de seus indicadores macroecômicos, do consequente aumento de credibilidade internacional e da perspectiva de expansão de seu mercado interno, o Brasil continuará sendo, por muito anos, um país atraente para investimentos estrangeiros diretos. Diante disso, ele considera que "ter déficit anual de 2% do PIB em conta corrente é razoável e sustentável".

Da mesma forma pensa o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e diretor da consultoria Tendências. "O déficit em conta corrente é sustentável nos níveis projetados. O fluxo de capitais externos será mais do que suficiente para financiá-lo. O conforto é ainda maior quando se considera que os ingressos de investimentos diretos serão maiores do que o déficit", diz Loyola, para quem "ainda estamos longe de um nível que requeira maior cautela".

Ele destaca que o Brasil tem baixa taxa de poupança doméstica. Isso significa que, para incrementar sua taxa de investimento, precisa de poupança externa, o que implica ter déficit em conta corrente. Como se espera aumento da taxa de investimento, algo imprescindível para se crescer a taxas maiores, é razoável esperar que o país tenha déficit externo nos próximos anos, explica Loyola.

Ontem, o BC também reviu sua projeção de déficit corrente, para 2009, antes de US$ 18 bilhões e 1,22% do PIB. O esperado agora é que o país feche o ano com fluxo negativo de US$ 22 bilhões, 1,41% do PIB, nessa parte de seu balanço externo de pagamentos. A projeção anterior foi ultrapassada em novembro, quando o déficit corrente acumulado no ano atingiu US$ 18,07 bilhões. Medido em 12 meses, o fluxo líquido das transações foi negativo em US$ 21,19 bilhões ou 1,39% do PIB até novembro. Mesmo revisado, o déficit esperado para 2009 ainda é inferior ao de 2008, que foi de US$ 28,19 bilhões ou 1,72% do PIB.

Quanto a 2010, o economista André Perfeito, da Gradual Investimento, acredita que a revisão da projeção deve-se, em grande medida, ao temor do real valorizado e ao efeito disso na balança comercial. De fato, as novas previsões do BC indicam que, em vez de US$ 19 bilhões, o superávit comercial do país será de apenas US$ 15 bilhões em 2010. A receita esperada de exportações subiu de US$ 167 bilhões para US$ 170 bilhões. Mas as despesas esperadas com importação subiram ainda mais, de US$ 148 bilhões para US$ 155 bilhões.

André Perfeito não vê, porém, motivos para muita preocupação, entre outras razões, porque as reservas cambiais estão hoje em "robustos US$ 240 bilhões", o que permite ter déficit em conta corrente por muitos anos. Esse nível de reservas, diz ele, garante "tempo mais do que suficiente para que a economia mundial volte a crescer, a demandar produtos brasileiros e a puxar nossas exportações".

Já Altamir Lopes evitou atribuir o aumento da projeção de importações ao real valorizado. Disse que o BC espera mais importações porque crescimento econômico maior tende a elevar o consumo de bens importados, sobretudo os de capital, necessários ao investimento. Lopes evitou fazer juízo no nível da taxa de câmbio também ao falar do aumento nas despesas com serviço, entre elas gastos com viagens internacionais. Ele disse que, nesse caso, influenciam a revisão os indicadores internos de emprego e massa salarial.

Somados serviços e rendas, esses dois itens das transações correntes devem gerar despesa líquida de US$ 58,5 bilhões em 2010, na nova previsão do BC. Antes, esse gasto era projetado em US$ 51,5 bilhões. Aí incluídas, as remessas líquidas de lucros e dividendos deverão chegar a US$ 30,2 bilhões e não mais a US$ 26 bilhões. Segundo Lopes, a elevação desse tipo de despesa está associada ao próprio crescimento, que melhora o desempenho das empresas com participação estrangeira no capital. Em 2009, até novembro, os gastos líquidos com lucros e dividendos ao exterior foram de US$ 19,92 bilhões.