Título: Alimentos caem e aliviam inflação
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 17/06/2010, Economia, p. 18

A alta nos preços dos serviços, devido ao aquecimento da economia e ao aumento da renda, tende, porém, a fazer pressão duradoura sobre os indicadores de custo de vida

Os consumidores brasileiros têm se beneficiado nas últimas semanas do alívio que os preços de alimentos está proporcionando aos orçamentos domésticos. Como prega o dito popular, no entanto, a boa notícia não deve durar muito nem tão pouco a deflação registrada nesses produtos deve acorrentar o dragão da inflação este ano.

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) registrou uma pequena queda de 0,04% no período, resultado que não era alcançado desde setembro de 2008, segundo a Fundação Getulio Vargas. Entre a última semana e a anterior, o que mais influenciou o indicador foi o grupo alimentação, que registrava uma queda de 0,46% e aprofundou ainda mais para deflação de 1,05%.

O Índice Geral de Preços (IGP) coletado até o dia 10 deste mês (IGP-10) também aponta uma redução de 0,01% nos preços ao consumidor, nos quais também se destacam os alimentos, com queda de 1,05%. Entre os produtos que mais seguraram a inflação individualmente estão a batata, que teve queda de 19,50% pelo IPC-S, e o tomate, com tombo de 17,81%.

Núcleo avança O recuo não é suficiente, segundo a economista do banco Santander Tatiana Pinheiro, para reverter a trajetória de aumento da inflação. ¿A evolução dos preços no ano está agora muito mais por conta de serviços do que alimentação¿, analisou. Pinheiro destacou que no primeiro semestre havia uma leitura no mercado que considerava a inflação dos alimentos pouco preocupante, por ser passageira, mas segundo a economista, o que se observa agora é que o chamado núcleo da inflação (que desconsidera alimentos e preços administrados) continua avançando, a despeito da queda de preços alimentícios.

A elevação nos preços de serviços, motivada pelo aquecimento da economia e incremento da renda nas diversas camadas da população, desafia o Banco Central com uma tarefa um pouco mais complicada no controle inflacionário, porque tende a ser mais duradoura do que a de alimentos. Esses últimos têm uma produção cíclica e quando há condições mais favoráveis de clima e colheita, o arrefecimento dos preços é mais imediato.

A queda de preços alimentícios deve se manter nas próximas semanas e, posteriormente, seguir uma trajetória de estabilidade, segundo avaliação do coordenador do IPC-S, Paulo Picchetti. ¿Se não houver nenhum evento climático crítico, é possível que a pressão dos alimentos se limite só ao primeiro semestre¿, considerou.

Além dos alimentos que já estão em deflação, como as hortaliças, legumes e frutas, o feijão deve ser o próximo a levar os preços para baixo. O produto registrava inflação de 8,69% na última semana e passou para 4,39%. Importante destacar que o feijão tem grande influência no indicador cheio, por pesar muito no orçamento das famílias.