Título: Trabalhador paga a conta
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Fonte: Correio Braziliense, 17/06/2010, Economia, p. 23

Reforma trabalhista na Espanha e aumento da idade mínima de aposentadoria na França: ajuste nas contas públicas sobra para o cidadão.

O arrocho prometido por vários países europeus para enfrentar a crise começa a se transformar em medidas concretas. Ontem, a Espanha emitiu um decreto modificando as leis trabalhistas. Já a França anunciou que vai aumentar em dois anos a idade mínima para a aposentadoria. Apesar do rigor fiscal, os investidores continuam desconfiados, especialmente depois que novos rumores envolvendo Espanha e Portugal correram pelo mercado, dando conta da necessidade inevitável de ajuda financeira para honrarem seus compromissos. Tanto que os spreads dos títulos espanhóis sobre o bônus de referência da Alemanha alcançaram o maior nível desde que a moeda comum foi adotada.

Rápido, o primeiro-ministro português, José Sócrates, avisou que seu país não precisa de nenhuma ajuda para resolver seus problemas econômicos. A declaração foi dada ao chegar a Bruxelas, na Bélgica, na véspera de um encontro entre líderes da União Europeia. ¿Não precisamos de nenhuma ajuda. Sabemos exatamente o que devemos fazer¿, afirmou.

Já o porta-voz da Comissão Europeia, Amadeu Altafaj, desmentiu a notícia publicada por um jornal espanhol de que a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Tesouro dos Estados Unidos estivessem esboçando um plano de socorro à Espanha, incluindo uma linha de crédito de até 250 bilhões de euros (US$ 335 bilhões). Ele considerou a notícia como ¿muito estranha¿ e acrescentou: ¿Eu posso negá-la firmemente¿.

Austeridade Enquanto os investidores continuam desconfiados, as autoridades espanholas lutam para pôr em prática as promessas anunciadas. Ontem o governo da Espanha divulgou decreto flexibilizando as regras trabalhistas do país. Analistas acreditam que a lei sobre a reforma trabalhista será ratificada pelo Parlamento no dia 22. ¿Nós continuaremos a trabalhar intensivamente para ter tanto apoio quanto possível¿, disse a vice-primeira-ministra da Espanha, Maria Teresa Fernández de la Vega.

Na linha de tentar conquistar a confiança dos investidores, a França também anunciou medidas de austeridade. A ideia é que os franceses terão que trabalhar dois anos mais antes de se aposentarem e os ricos pagarão mais impostos, em um esforço para tirar o orçamento de bem-estar social do vermelho. A idade mínima de aposentadoria será gradualmente elevada a 62 anos até 2018, contra os atuais 60 anos, disse o ministro do Trabalho, Eric Woerth. ¿Trabalhar mais é inevitável¿, afirmou ele. ¿Todos os nossos parceiros europeus fizeram isso... Não podemos não nos juntar ao movimento.¿

FMI: riscos à economia

O aumento nas preocupações do investidor com a saúde fiscal de países europeus impõe um ¿importante risco de enfraquecimento¿ da economia global, avaliou o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em comunicado preparado para o encontro entre os ministros de Finanças do G-20 em 4 e 5 de junho, mas publicado somente agora, o FMI pediu uma ação urgente para restaurar a confiança e reparar a sustentabilidade fiscal nas economias avançadas.

¿A menos que sejam rapidamente resolvidos por uma crível ação política, os estresses no mercado financeiro podem ter efeitos concretos sobre o crescimento¿, afirmou o organismo. O freio no crescimento em economias desenvolvidas, por estresse financeiro ou por cortes fiscais mais agressivos, provavelmente vai respingar em outras economias do G-20, acrescentou o Fundo. O FMI disse que a maioria dos países mais ricos não precisam apertar suas políticas antes de 2011 e não devem oferecer mais estímulos.

A nota é similar a um comunicado do G-20 divulgado após o encontro de junho, no qual os ministros de Finanças das principais economias do mundo definiram um compromisso sobre a velocidade dos cortes orçamentários necessários para acalmar os mercados, preocupados com a crise de dívida na Europa. O Fundo pediu que os países desse grupo se comprometam agora com críveis planos de ajuste fiscal a médio prazo, incluindo uma legislação que criaria metas plurianuais. O FMI afirmou ainda que ações fiscais devem ocorrer junto a reformas no sistema bancário e medidas para impulsionar o crescimento e tornar as economias mais competitivas. Contudo, o organismo alertou que as autoridades devem evitar medidas unilaterais ¿que podem ter consequências não pretendidas¿.

Mercado A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em ligeira alta de 0,48%, aos 64.750 pontos, com um volume financeiro de R$ 9,73 bilhões. Seguiu o movimento da Bolsa de Nova York, que encerrou o dia praticamente estável, com valorização de apenas 0,05%. O dólar caiu 0,17% e foi negociado no fim desta quarta-feira a R$ 1,79.