Título: Sem compromisso
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 17/06/2010, Mundo, p. 26

Irã anuncia construção de mais um reator para pesquisas médicas. Estados Unidos e Europa vão reforçar o regime de restrições.

Ao anunciar que construirá em breve um reator de pesquisa mais potente que o de Teerã, o governo iraniano mostrou ontem que a aprovação de mais uma rodada de sanções pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, há uma semana, não abalou os planos do país de seguir com seu programa nuclear. A implantação do novo reator, que deve ficar pronto em ¿não mais que cinco anos¿, faz parte de um projeto para enriquecer urânio no teor requerido por reatores de fins medicinais. O material radioativo teria uso também ¿em outros países da região¿, segundo o chefe do programa nuclear, Ali Akbar Salehi. O Parlamento iraniano, por sua vez, aprovou um projeto de lei pedindo que o governo reduza a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) após a decisão sobre as sanções. No campo oposto, os Estados Unidos e a União Europeia endurecem ainda mais as restrições já em vigor contra Teerã.

¿Estamos preparando a construção de um reator mais potente que o de Teerã, onde produziremos radioisótopos para medicamentos¿, disse Salehi, segundo a TV estatal Press TV. ¿Temos planos para lançar uma série de reatores no norte, sul, oeste e leste do Irã, para desenvolver medicamentos e, portanto, atender às demandas não apenas do nosso país, mas também de outras nações da região e do mundo islâmico¿, completou o diretor da agência atômica iraniana.

A construção começaria em março de 2011, segundo a TV, mas o local da futura instalação não foi divulgado. O Irã dispõe atualmente de um reator de pesquisas de 5 megawatts na capital, Teerã ¿ ele foi construído antes da Revolução Islâmica de 1979. No último sábado, o chefe do programa iraniano já havia anunciado que o país tem a intenção de construir, em 2011, uma nova unidade para enriquecimento de urânio. De acordo com Salehi, após a aprovação das sanções o Irã resolveu responder às potências ocidentais com uma ¿dupla estratégia¿. ¿Ela se baseia, por um lado, na continuidade de um diálogo honesto (com a comunidade internacional), e por outro na continuidade do nosso desenvolvimento nuclear, que é um meio de resistir às pressões dos nossos inimigos¿, justificou.

O Parlamento iraniano quer que, além da continuidade do programa nuclear, o governo de Mahmud Ahmadinejad também feche mais o país para inspeções. Segundo a agência de notícias Isna, o Legislativo aprovou um pedido para que o Executivo restrinja a colaboração com a AIEA aos ¿limites mínimos¿ especificados pelo Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares, do qual o Irã é signatário. Quanto às sanções impostas pela ONU, o presidente do Parlamento, Ali Larijani, foi claro: ¿Se vocês estão pensando em inspecionar aviões e navios iranianos, tenham a certeza de que o Irã vai adotar uma resposta à altura em seus navios no Golfo Pérsico e no Mar de Omã¿.

Mais punições Ontem, o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, anunciou que seu governo endurecerá ainda mais as restrições contra empresas iranianas, depois da aprovação da quarta rodada de sanções no Conselho de Segurança. ¿Continuaremos a ter o foco na Guarda Revolucionária do Irã. Vamos continuar a expor os esforços (do regime islâmico) em driblar as sanções internacionais¿, disse Geithner. Entre as dezenas de empresas sancionadas estão o Banco Postal do Irã, a Sepanir Oil and Gas Engineering e cinco companhias que operam navios da Iran Shipping Lines. ¿Nossas ações hoje são desenhadas para impedir que outras instituições financeiras internacionais e governos façam negócios e assim apoiem as atividades ilícitas do Irã¿, completou.

Hoje, chefes de Estado europeus se reunirão para aprovar sanções unilaterais mais rigorosas que as votadas pelo Conselho de Segurança no último dia 9. O texto inclui restrições ao setor energético, excluído das sanções da ONU por pressões da Rússia e da China, e ao comércio. Segundo a agência Reuters, seriam proibidos ¿investimentos, assistência técnica ou transferência de tecnologia, equipamento ou serviço, particularmente de refino e de liquefação¿. Também o setor de transportes estaria sujeito a punições.

Potências arrogantes O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, disse ontem que seu governo continua disposto a dialogar com as potências mundiais sobre seu programa nuclear, mas ¿sob condições¿ que serão anunciadas em breve. ¿(O Irã) vai preservar o direito de tomar fortes medidas contra qualquer governo, de qualquer canto do mundo, que violar um milímetro que seja dos direitos iranianos sob o pretexto da resolução (da ONU)¿, disse Ahmadinejad. Em discurso durante visita à cidade de Shahr-e-Kord, transmitido ao vivo pela TV estatal, ele criticou mais uma vez as ¿potências arrogantes¿ que votaram favoravelmente às sanções no Conselho de Segurança. ¿Vocês mostraram um mau temperamento, renegaram suas promessas e recorreram a maneiras diabólicas¿, acusou. ¿Imporemos condições (para as negociações) para que, se Deus quiser, vocês sejam punidos um pouco e se sentem à mesa de negociações como crianças bem comportadas¿, provocou Ahmadinejad

Sanções à Coreia do Norte são estendidas

Um dia após o embaixador da Coreia do Norte na ONU alertar que o país reagiria militarmente se o Conselho de Segurança condenasse o regime comunista pelo susposto afundamento de um navio de guerra sul-coreano ¿ uma declaração considerada provocativa pelos Estados Unidos ¿, o presidente Barack Obama renovou as sanções unilaterais adotadas em represália ao programa nuclear norte-coreano. ¿A emergência nacional declarada em 26 de junho de 2008 (pelo então presidente George W. Bush) e as medidas adotadas nessa data devem continuar em efeito além de 26 de junho de 2010¿, anunciou Obama, que em 2009 já tinha prorrogado a vigência das punições por um ano.

¿O risco de proliferação de material físsil (da Coreia do Norte) continua representando uma ameaça extraordinária à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos¿, afirmou o presidente. Benjamin Chang, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, viu na decisão uma mostra de empenho em evitar a disseminação de armas atômicas. ¿Ao tomar essa decisão, nosso objetivo continua a ser o de empregar todas as ferramentas disponíveis para alcançar a eliminação completa e verificável das armas e programas nucleares da Coreia do Norte¿, disse Chang.

As sanções implementadas por Bush há dois anos restringem o comércio com a Coreia do Norte e definem um regime de inspeção de carga em embarcações provenientes do país comunista. Também determina que norte-americanos estão ¿proibidos de registrar navios de origem norte-coreana, possuir, alugar, operar ou fazer seguro de qualquer embarcação com a bandeira desse país¿. As medidas deixariam de vigorar no próximo dia 25.

Relação tensa As relações entre Coreia do Norte e EUA se desgastaram desde que o país, já sob a liderança de Kim Jong-il, decidiu reativar seu programa nuclear, em 2002. Na época, Bush incluiu o regime de Pyongyang no que chamou de ¿eixo do mal¿, ao lado do Irã e do Iraque de Saddam Hussein ¿ todos acusados de possuir ou desenvolver armas de destruição em massa e ter ligação com grupos terroristas. Apenas seis anos depois, Bush retirou o país da lista, como recompensa pela divulgação de um relatório parcial das atividades nas instalações nucleares.

A situação, apesar dos esforços diplomáticos, piorou após Pyongyang ter realizado seu segundo teste com uma bomba atômica, no ano passado. Obama considerou, na época, que a ação era uma ¿ameaça à paz¿. O Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs sanções ao país.