Título: Chuvas fazem 81 vítimas e tragédia vai afetar turismo em cidades atingidas
Autor: Moura , Paola
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2010, Brasil, p. A2

As fortes chuvas que caíram em várias cidades do Sudeste desde 30 de dezembro causaram pelo menos 81 mortes - 68 no Rio de Janeiro, 10 em São Paulo e três em Minas Gerais - e a grande maioria por deslizamento de terra. Além das 46 em Angra dos Reis, 22 mortes ocorreram no Rio - 11 na capital, 9 na baixada Fluminense e duas em Niterói. Em São Paulo, foram seis mortes em Cunha e quatro em Guararema, e nos dois casos as vítimas eram da mesma família.

A maior tragédia aconteceu no município de Angra dos Reis, onde uma encosta desabou sobre parte de uma pousada e várias casas, algumas de veraneio, na Praia do Bananal na Ilha Grande, matando pelo menos 29 pessoas. Outro deslizamento de terra ocorreu sobre uma comunidade pobre no Morro da Carioca, no centro histórico da cidade, com 17 corpos já retirados pela equipe da Defesa Civil.

Três das cidades mais atingidas - Angra dos Reis, São Luis do Paraitinga e Cunha - têm no turismo uma importante fonte de receita para o município e emprego para a população. Além dos prejuízos já causados, as chuvas vão afetar a capacidade da população e dos empresários locais de recuperaram suas perdas no futuro próximo. Em São Luiz do Paraitinga, a prefeitura já descarta a realização do tradicional Carnaval de rua. Além disso, estradas foram afetadas pela queda de barreiras e de pontes, como a rodovia Oswaldo Cruz, e o acesso à cidade de Cunha - este parcialmente recuperado ontem.

Em Angra, o número de vítimas pode crescer porque pelo menos cinco pessoas continuavam desaparecidas até às 22 horas de ontem: três na Ilha Grande, e duas no Morro da Carioca. O prefeito de Angra dos Reis, Tuca Jordão (PMDB) decretou estado de calamidade pública. Ele afirmou que desde a virada do ano foram feitas 700 vistorias em áreas de risco e 95 cortes de árvores emergenciais.

O secretário de Obras e vice-governador, Luiz Fernando Pezão, que está em Angra desde a manhã do dia 1º, no entanto, teme que novas chuvas causem uma tragédia ainda maior na região. Segundo ele, são mais de 40 áreas de risco e a população ainda teme deixar suas casas. "As pessoas não querem sair de casa porque estão com medo de terem seus bens saqueados. Em muitas áreas estamos usando a polícia para obrigá-las a sair. No entanto, se voltar chover forte, a tragédia será ainda maior."

Pezão diz que por enquanto ainda não foram liberadas verbas para a região, mas o Estado abriu uma linha de crédito para moradores e comerciantes de Angra e da Baixada Fluminense por meio da InvestRio. O limite de crédito para pessoa física será de até R$ 5 mil e os juros são de 12,25% ao ano. Para pessoa jurídica, o limite será de até R$ 50 mil, e os juros variam entre 7,25% e 9,25% ao ano.

De acordo com o vice-governador, o governo deslocou 150 homens da Defesa Civil para a região e ofereceu ao prefeito a intensificação da construção de casas populares para retirar os moradores das encostas. "Mas ele precisa fazer a sua parte. Não pode mais permitir que as pessoas morem nessas áreas", critica o vice-governador.

Em São Luis do Paraitinga, em São Paulo, o rio subiu mais de 10 metros, inundou o centro histórico e destruiu a Igreja da Matriz, construída no século 19. Na cidade, cerca de 90 casarões são tombados pelo patrimônio histórico, e vários foram não apenas inundados, mas destruídos pelas águas. A inundação não fez nenhuma vítima, mas ontem um morador morreu quando trabalhava em uma obra de desobstrução de estrada. A Defesa Civil estima em 9 mil o total de desabrigados.

A cidade continuava isolada ontem e deve ter sua rotina bastante afetada, pois vive do turismo, impulsionado pelas construções históricas - a cidade foi fundada em 1769. De acordo com a prefeita Ana Lúcia Bilard Sicherle (PSDB), que decretou estado de calamidade pública, a cidade não terá o tradicional Carnaval de rua este ano. O governador de São Paulo, José Serra, foi ontem à cidade e prometeu ajuda financeira do Estado à cidade. (Com agências noticiosas)