Título: Reconstrução de São Luiz do Paraitinga deve levar anos
Autor: Máximo , Luciano
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2010, Brasil, p. A3

Em poucas horas de forte chuva no dia 1º, 80% dos prédios históricos de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, a 182 km de São Paulo, ficaram em ruínas. O centro da cidade fundada em 1792, principal destino turístico e fonte de renda local, com seu artesanato, Carnaval e festival de marchinhas, levará anos para ser restaurado.

Tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (Condephaat), mais de 70 das 90 casas e casarões feitos de taipa de pilão - mistura de barro e pedra -, incluindo a Igreja Nossa Senhora das Mercês, do século XVIII, e a matriz São Luiz de Tolosa, do século XIX, sucumbiram à potência da cheia do rio Paraitinga. Não foram registradas mortes na inundação - a Defesa Civil informou que uma pessoa está desaparecida -, mas o prejuízo é inestimável. O município encontra-se isolado, 600 imóveis ainda estavam debaixo d"água ontem, 2.300 pessoas ficaram desabrigadas e a prefeitura calculou os prejuízos em R$ 100 milhões.

"Temos duas tarefas pela frente. Primeiro restituir a normalidade da cidade: fornecimento de água, telefones, limpeza das ruas, atendimento de saúde; a solução para o patrimônio histórico não é tão óbvia, é preciso entender os prejuízos, discutir a intervenção com a comunidade, muitos prédios são privados", afirmou João Sayad, secretário Estadual de Cultura de São Paulo. Técnicos do Condephaat e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do governo federal, começam hoje a avaliar o planejamento da recuperação. Sayad reforçou a promessa do governador José Serra, feita no domingo, de reconstruir a cidade. "Os recursos virão no momento necessário", garantiu.

O município estava no fim do processo para adquirir o título de patrimônio histórico nacional, interrompido pelo desastre, dificultando a liberação de recursos federais. "O tombamento sofreu um abalo, mas segue, é de nosso interesse", explicou José Leme Galvão, arquiteto do Iphan, acrescentando que os estragos em São Luiz do Paraitinga são bem piores que os de Goiás Velho, arrasada por uma enchente em 2001.

Mara Solange Fantini, especialista em restauração de obras de arte, diz que a recuperação de São Luiz do Paraitinga levará anos. "Dá para se retomar muita coisa a partir de referências muito fortes, mas muita coisa lamentavelmente se perdeu. A restauração terá sequelas e será muito lenta, vai depender de trabalho especializado e de vontade política."