Título: O vice sai até dia 30
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 22/06/2010, Política, p. 4

Serra jura não estar estressado com a pressão de tucanos e do DEM pela definição do nome. A lista de favoritos inclui ¿candidatas¿

São Paulo ¿ O candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, vai tentar bater o martelo sobre o nome do vice até o dia 30. Ontem, ele reconheceu que vem sendo pressionado, mas garantiu que não está estressado com a indefinição. Os nomes mais cotados são os senadores tucanos Sérgio Guerra, Tasso Jereissati e Álvaro Dias. O DEM tem esperança de emplacar na chapa o deputado baiano José Carlos Aleluia. A possível escolha de um candidato do Nordeste seria uma estratégia para arregimentar votos na região em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem seu maior reduto eleitoral.

Para conquistar o voto feminino, principal alvo da sua concorrente Dilma Rousseff (PT), o tucano cogita ainda ter uma mulher na vice-presidência. As indicadas são a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) e Valéria Pires Franco (DEM-PA). ¿Também tenho uma enorme curiosidade para saber quem vai ser o meu vice¿, disse Serra, durante sabatina realizada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo.

Serra chegou a brincar quando falou da escolha do vice, dizendo que não faz questão de que seja um candidato discreto e que fale pouco, como foi Marco Maciel no governo Fernando Henrique Cardoso. ¿Qualquer indicação acaba em confusão. Por isso, prefiro esperar até o fim do mês. O meu vice pode falar muito, não tem problema. O Fernando Henrique que gosta de vice que fala pouco¿, ressaltou.

Em entrevista ao programa Roda Viva, Serra negou que a demora na escolha do vice tenha gerado reclamações de aliados. Na época da pré-campanha, ele era alvo de críticas dentro do próprio PSDB porque não estava nas ruas dando visibilidade à sua candidatura e porque demorou a deixar o governo de São Paulo.

O candidato assegurou que não vai acabar com o principal programa social do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Bolsa Família, como vêm dizendo seus adversários políticos. ¿O programa é manipulado politicamente, mas não vou acabar com ele. Vou aprimorá-lo¿, assegurou. Ao ouvir críticas ao Bolsa Família feitas por tucanos, Serra lembrou que Lula chamava o programa social de ¿Bolsa Esmola¿ na época de Fernando Henrique Cardoso.

Gays O tucano estava com aspecto de cansado durante as duas horas de entrevista e tinha a aparência de quem não havia dormido durante a noite. Ele respondeu a questões polêmicas. Afirmou ser a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo e da adoção de crianças por casais gays. ¿Tem tanto problema grave de crianças abandonadas no Brasil. Isso vale para qualquer tipo de casal, qualquer tipo de pessoa. Não vejo por que não aprovar isso¿, ressaltou.

Segundo Serra(1), o governo federal errou ao tratar da divisão dos royalties de petróleo em ano eleitoral. ¿Em minha opinião, a questão dos royalties nunca poderia ter sido levantada em ano eleitoral. Acabou criando a sensação de que o pré-sal está ali na esquina.¿ Serra disse também discordar do modelo de partilha dos royalties, já aprovado pelo Congresso, porque tira recursos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. ¿Você não pode chegar para a cidade de Campos e dizer que a partir de amanhã isso acabou. Vai criar um colapso¿, disse.

Sobre as eleições, Serra voltou a dizer que enfrentará uma corrida difícil e vai apostar todas as fichas na sua biografia política. Ele chegou a pedir aos eleitores que escolham o próximo presidente a partir da história dos candidatos, referindo-se veladamente à vida pública de Dilma, que é considerada curta para quem almeja ser presidente do Brasil.

1 - Alfinetada em Lula No início da noite, em Uberaba (MG), diante de plateia formada por produtores rurais e lideranças políticas da região do Triângulo Mineiro, José Serra criticou a aplicação de dinheiro público em instituições e organizações não governamentais (ONGs) ligadas ao MST. Serra foi a principal atração em evento fechado, promovido pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. ¿Sem produzir o país não vai para frente. O problema maior da reforma agrária é fazer com que os acampamentos produzam para diminuir as desigualdades sociais, mas não pode haver dinheiro público em movimentos sociais`.

Dilma e o ritual dos palanques duplos

Ivan Iunes

A candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) deu a tônica, ontem, do que deve ser a postura de campanha nos estados com o palanque governista dividido entre petistas e o PMDB. A presidenciável teve de se equilibrar para evitar saias justas na convenção peemedebista na Bahia que lançou o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) ao governo. Para evitar desconforto entre os dois partidos aliados, Dilma voltará ao estado no sábado para a convenção que lançará o governador Jaques Wagner (PT) à reeleição. A presidenciável desviou de responder a perguntas sobre o embate entre Geddel e o atual governador. ¿A gente sempre preferiu um palanque só. Não foi isso que aconteceu, então eu vou agora lidar com esse fato¿, resumiu a candidata.

Em acordo prévio firmado entre Geddel e Wagner, os dois candidatos prometeram à coordenação da campanha de Dilma que evitariam cruzar ataques durante as convenções, para preservar a presidenciável. No encontro de ontem, o deputado e integrantes de 11 partidos da coligação não citaram o atual governo baiano. ¿Não ficarei olhando se saiu de sua boca uma palavra de mais ou menos carinho. Faça o que a sua consciência indica¿, afirmou Geddel, em relação à disputa pelo apoio da candidata. Em retribuição, Dilma afirmou que estará em todos os palanques de apoiadores. Prefeitos e políticos que discursaram no evento antes da chegada da ex-ministra da Casa Civil, contudo, atacaram Wagner.

Inexperiência Aos militantes, Dilma Rousseff minimizou os ataques do candidato tucano, José Serra, que a acusou de não ter experiência administrativa suficiente para disputar o cargo. A petista apontou que os adversários estariam confundindo experiência administrativa com eleitoral, ao atacá-la. ¿Até lamento não ter experiência eleitoral, mas depois de estar à frente de todos os principais projetos do governo Lula, posso dizer que governar eu sei¿, afirmou Dilma. Hoje, a agenda da candidata segue no Nordeste, em Caruaru (PE). Ela vai dar entrevistas, almoçar com o governador, Eduardo Campos (PSB), e, segundo previsões dos assessores, participar do são-joão no município. Amanhã, vai a João Pessoa e deve visitar outra festa regional, em Campina Grande (PB).

Guinada à direita

Se Dilma preferiu o tom mais comedido ontem em relação aos ataques de Serra ao PT e à candidata, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, partiu para a linha de frente contra o candidato tucano à Presidência. Vaccarezza sustentou que o principal rival de Dilma na corrida pelo Palácio do Planalto deixou de lado ¿a pele de cordeiro¿, tirou o disfarce e passou a apresentar ideias do que chamou de velha direita.

¿Não sei se você lembra quando a Dilma disse que ele estava vestindo uma pele de cordeiro, mas de vez em quando as patinhas apareciam. Não deu certo. Então, ele tirou a pele de cordeiro e agora é a velha aliança à direta, que governou um país no período do PSDB com o antigo PFL (atual DEM)¿, afirmou.

Para Vaccarezza, a petista está tendo de lidar com um concorrente que não tem proposta e que tenta desviar a atenção do debate de planos. ¿O Serra deu uma guinada à direita em todas as questões: ataque à Bolívia, ataque ao Mercosul, ataque à independência do Brasil em relação aos EUA. A próxima vai ser a aceitação de um nome do DEM para vice.¿