Título: No Rio, fotografias aéreas das encostas ajudam prefeitura a prevenir tragédias
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2010, Brasil, p. A4

Cercada de morros por todos os lados e com muitas favelas, a cidade do Rio conseguiu reduzir expressivamente o número de mortos quando as tormentas chegam no verão. Chamada às pressas para ajudar a cidade de Angra dos Reis, a Geo-Rio é o órgão municipal responsável por essa mudança.

A empresa pública foi fundada depois de uma grande tragédia, em 1966. Em janeiro daquele ano, houve a maior precipitação pluviométrica desde 1883, quando começaram as medições. Foram 245 mm/dia. Mais de 200 pessoas morreram em deslizamentos de encostas e desabamentos, incluindo um edifício no bairro de Laranjeiras, Zona Sul. Naquela época, além dos barracos nos morros, os prédios construídos próximos a encostas não eram obrigados a fazer obras de contenção e ainda havia muitos casebres pendurados nas dezenas de rios que cortam a cidade e não eram canalizados.

Nos últimos dois dias de 2009, choveu 368 mm/h, mais que o dobro da média mensal nos últimos dez anos e um volume 50% maior daquele que provocou a tragédia de 1966. Ao todo, na cidade, morreram 11 pessoas. Segundo o presidente da Geo-Rio, Márcio Machado, que trabalha no órgão há mais de 20 anos, a fiscalização é constante, mas parte da população continua a construir moradias precárias em locais de risco.

Machado conta que os técnicos da Geo-Rio realizam fiscalizações aéreas sobre a cidade. As encostas são fotografadas a cada dois meses e tudo é analisado para checar onde estão os riscos, principalmente aquelas próximas às grandes vias da cidade. "Quando detectamos um risco, avisamos à Secretaria de Ordem Pública ou a de Obras para intervir", explica o presidente.

Ele conta que, desde 1966, também foi sendo construída uma legislação própria para que obras nessas regiões sejam aprovadas e que o órgão é sempre chamado para dar laudos e fiscalizar construções onde as encostas tenham mais de três metros de altura. No entanto, ele diz que a atuação dos diversos governos nas favelas foi o principal motivo para que as tragédias fossem sumindo da cidade. Só ele trabalhou por 15 anos na Rocinha. O projeto Favela-Bairro, iniciado no primeiro governo César Maia, em 1993, também foi responsável, já que urbanizou cerca de 60 comunidades, o que reduz o lixo lançado nas encostas e acaba por ensinar a população local a não degradar mais a região.

Para ajudar nessa prevenção, a Geo-Rio e a Defesa Civil municipal também montaram o Alerta-Rio em 1997. É um sistema de tempo real de coleta de chuva. "Hoje, duas horas antes de um grande temporal, temos um alerta. Conseguimos saber de onde vem a chuva", explica o presidente. Em seguida, as equipes de defesa civil e de limpeza urbana são dispostas pela cidade para atender emergências e fazer a desobstrução de bueiros e rios onde for necessário. Além disso, são 32 estações de coleta de chuva, que medem em tempo real, onde o temporal é mais forte. "Divulgamos os comunicados pela internet no site do sistema e também para toda a mídia, para que a população possa ser avisada."

Hoje, a Geo-Rio, única empresa do Brasil especializada em encostas, dá consultoria para Vitória (ES), Blumenau (SC), Leopoldina (MG) e Barra do Piraí (RJ).