Título: Verão do Sudeste pode ser o mais chuvoso da década
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2010, Brasil, p. A4

O ano de 2009 foi o quarto mais chuvoso nos últimos 30 anos em São Paulo e o verão de 2009 e 2010 deve ser um dos mais chuvosos da década na Região Sudeste. Em apenas 38 dias desde 1º de dezembro já choveu o que costuma chover nos dois meses completos na capital paulista. Na região de Angra dos Reis (RJ), onde deslizamentos deixaram mais de 50 vítimas, as precipitações do período superam o volume dos últimos dez anos, e em mais de duas vezes o que choveu no ano passado.

Segundo especialistas, o aumento no volume de chuvas está relacionado a aspectos locais, como o crescimento da mancha urbana e o consequente aquecimento do ar na região. Uma tendência global de aquecimento tem impactos pouco significativos nas precipitações, diz Augusto José Pereira Filho, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP). "A diminuição das áreas vegetadas faz com que o solo absorva menos calor, o ar fica mais quente e há mais chuva", diz Pereira Filho.

Por conta dessas condições, acompanhamento realizado pelo IAG mostra que, nos últimos 70 anos (de 1936 a 2005), houve uma alta de 2,1 C da temperatura do ar na região metropolitana de São Paulo, e um aumento de 335 milímetros (mm) do volume de chuvas.

Outras alterações verificadas são sobre a precipitação média diária, que aumentou significativamente no período chuvoso, tornando as chuvas de verão mais intensas na região. O estudo atribui esse aumento aos efeitos de ilha de calor e da circulação de brisa marítima.

A mudança no clima e no regime de chuvas não é perceptível se for olhada anualmente, pois em alguns anos chove mais e em outros, menos. Neste verão está chovendo muito. O período mais chuvoso dos últimos 30 anos foi o de 1983, com uma precipitação acumulada de 2.236 mm.

Com um volume total de 1.883,6 mm, além de 1.983, 2009 ficou atrás apenas de 1991 e 1996. Dessa forma, é possível perceber que anos muito chuvosos são alternados por outros mais secos, com o aumento do volume de chuvas verificado apenas num longo período.

Além dessa tendência de aumento das chuvas nas áreas urbanizadas, o país está desde o meio do ano passado sob influência do fenômeno climático El Niño, um aumento anormal da temperatura das águas do Oceano Pacífico que muda padrões de transporte de umidade e o regime de chuvas. No Norte e Nordeste, chove menos. No Sul e Sudeste, chove mais. Os último período em que houve El Niño foi de 2006 para 2007, com menos efeito sobre aumento das chuvas, porém, do que agora.

Soma-se neste verão um fluxo de umidade vindo da região amazônica maior do que o normalmente observado e cujas causas ainda em análise pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Também é observada uma alta da temperatura do Oceano Atlântico.

"A previsão é de mais chuvas até março. Se continuar chovendo desse jeito, este verão vai se enquadrar entre os mais chuvosos da história", diz Lincoln Muniz Alves, meteorologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe. As chuvas estão muito concentradas nos primeiros dias deste verão. Já choveu de 60% a 80% acima da média histórica (1961 a 1990) na capital de São Paulo, considerando a média histórica de 180,3 mm em dezembro e 238,3 mm em janeiro.

No período anterior - verão de 2008/2009 - choveu de 20% a 40% abaixo da média. Em 2007/2008, porém, choveu 40% a 60% acima da média, o que mostra que não existe uma tendência de aumento de chuva ano a ano. "Não há perigo do ano que vem ser pior, não há essa lógica", diz Alves.

Na região de Angra dos Reis, o volume de chuvas acumulado do dia 1º de dezembro de 2009 até o dia 6 de janeiro chega a 405,81 mm, diante de 218 mm no mesmo período anterior e 171 mm no de 2007/2008. Segundo Pereira Filho, do IAG, o perigo para as encostas de morros, mais do que a força da chuva, é a sua duração. "A duração é pior que a intensidade, porque vai encharcando o solo até ele ceder", diz o professor.

A Região Sul também está vivendo um dos seus verões mais chuvosos. Desde o período de dezembro de 2002 a fevereiro de 2003 não eram verificadas chuvas acima da média histórica no Estado do Rio Grande do Sul. Em São Paulo, o último verão com chuvas acima da média foi o de 2006/2007, com precipitações mais concentradas na Região Oeste, porém.