Título: China tenta limitar crédito para conter superaquecimento
Autor: Dyer, Geoff
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2010, Internacional, p. A7

A China aumentou o compulsório dos bancos, valor que os bancos devem manter como reservas, no mais nítido sinal, até agora, de que o banco central está tentando apertar as condições monetárias, em meio ao temor crescente com superaquecimento e inflação resultante do boom de crédito.

O Banco do Povo da China (o BC chinês) também aumentou um pouco ontem as taxas de juros no mercado interbancário, pela segunda vez em menos de uma semana, partindo para uma queda de braço com os bancos comerciais no que diz respeito a empréstimos de curto prazo.

Economistas disseram que os anúncios feitos ontem foram uma advertência aos bancos contra a agressividade na oferta de crédito no país, após relatos na mídia estatal de que os empréstimos, só na primeira semana de 2010, atingiram os 600 bilhões de yuans (US$ 88 bilhões), não muito abaixo da média mensal no ano passado.

"Essa é uma advertência aos bancos comerciais", afirmou Tom Orlik, da consultoria Stone & McCarthy, em Pequim. "O banco central disse que o nível elevado dos empréstimos bancários precisa acabar, mas os bancos comerciais não parecem estar levando isso muito a sério".

As exigências de reservas foram elevadas em 0,5 ponto percentual, ao passo que as taxas de juros de títulos com maturação em um ano aumentaram 0,08% e as taxas sobre títulos de três meses subiram 0,04%.

As decisões ressaltam a tarefa cada vez mais delicada com que se defronta o BC chinês para gerenciar as consequências da enxurrada de crédito na China, quando a concessão de empréstimos mais do que duplicou, de 4,2 trilhões de yuans em 2008 para mais de 9 trilhões de yuans no ano passado.

No entanto, não está claro se a atitude cada vez mais agressiva do banco tem apoio da maioria no Politburo, onde alguns líderes parecem favorecer a manutenção de uma política monetária frouxa para garantir crescimento elevado.

Um economista de uma importante universidade em Pequim disse que as recentes decisões de política econômico-monetária podem refletir uma cisão entre o banco central chinês, que é focado na inflação, e em outras áreas governamentais, que defendem a manutenção de agressivas concessões de empréstimos. "Eu não diria que existe uma política unificada sobre qual deveria ser a ? estratégia de saída ? ", disse.

O banco central está diante de uma série de sinais preocupantes de pressões inflacionárias, entre eles uma rápida expansão da oferta monetária, tendo a medida de base monetária M1 registrado aumento de 34,6% em dezembro, ano sobre ano.

Os preços das casas estão subindo rapidamente em muitas cidades e os afluxos de capital parecem ser fortes devido às expectativas de que a moeda chinesa vai começar a se apreciar novamente neste ano.

Dois economistas alertaram nesta semana para o risco de inflação e disseram que a economia pode crescer 16% neste ano, caso o governo não retire algum estímulo. "Se o governo mantiver o vigor do estímulo macroeconômico como em 2009, haverá notável superaquecimento da economia em 2010", disse He Fan e Yao Zhizhong da Academia Chinesa de Ciências Sociais, num artigo de jornal.