Título: Brasil pede que países ricos cumpram com promessa de ajuda
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Fonte: Valor Econômico, 14/01/2010, Internacional, p. A12

O terremoto no Haiti cria sérios problemas para o país exatamente quando a situação política e econômica começava a dar sinais de estabilidade, lamentou o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Ele anunciou a doação, pelo governo brasileiro, de US$ 15 milhões em ajuda ao Haiti, a maior já concedida até hoje pelo Brasil. Segundo um ministro próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil deve reforçar o apelo para que os países ricos, como os EUA, concretizem a ajuda prometida há pelo menos dois anos ao país, que tem demorado a se efetivar. Amorim disse, porém, que não é o momento para cobranças.

"Não é fácil proceder essa ajuda, uma parte é a dificuldade de execução", comentou Amorim, lembrando a precariedade da estrutura governamental e física do país. "Estive no Haiti oito vezes, o governo não está aparelhado", disse. O governo brasileiro procura trabalhar em coordenação com o governo dos EUA: ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou com o americano Barack Obama sobre a possibilidade de ações conjuntas para socorrer os haitianos. "Os EUA disponibilizaram muitos equipamentos", afirmou Amorim.

O ministro lamentou que a catástrofe tenha interrompido o lento processo de recuperação da economia haitiana com a ajuda brasileira. Ele admitiu que foram adiados indefinidamente os planos de construção de uma hidrelétrica no país, projeto para o qual o governo brasileiro tentava atrair os EUA.

O período de férias evitou que mais brasileiros fossem afetados diretamente pelo terremoto, pois muitas das missões rotineiras no Haiti estavam interrompidas. Estavam no país cerca de 1.310 brasileiros, dos quais mais de 1.260 militares. O governo não pretende retirá-los do país, como é praxe em casos de risco. "Não é provável que haja riscos continuados, pelo menos assim espero", disse Amorim.

O Brasil enviou ontem uma avião da FAB com 13 toneladas de suprimentos, alimentos e água. Outro avião deve partir hoje, estabelecendo uma espécie de ponte aérea, que deverá envolver oito aeronaves. Amorim contou que a precariedade no sistema de comunicações tem dificultado o contato com os brasileiros e frustrou as tentativas de falar com autoridades haitianas. Com o terremoto, foi prejudicado o controle de voo, que é feito com ajuda dos EUA.

A debilidade das instituições e os danos a embaixadas e prédios da ONU devem tornar mais difícil a distribuição das doações que chegam ao país. O Ministério da Defesa brasileiro informou que usará, por enquanto, estoques de alimentos do governo, por não ter informações sobre a estrutura necessária para processar doações de particulares. O ministro Nelson Jobim viajou ontem ao Haiti.

"O Haiti já tem série de problemas não resolvidos, aquele povo não merecia mais uma desgraça na vida deles", desabafou Lula em cerimônia com governadores no Itamaraty. Ele pediu que os governadores, a exemplo do que fez Sérgio Cabral, no Rio, deixem preparada a infraestrutura hospitalar local, para o caso de serem solicitados a atender a vítimas do terremoto.

Apesar dos sérios danos à embaixada brasileira, os funcionários não se feriram. As atividades foram transferidas para um centro cultural recém-construído, que, apesar de ter rechaduras nas paredes, aparenta segurança. O governo criou uma central de informações para atender a parentes de brasileiros no Haiti e a vítimas do terremoto. A central, chamada de Núcleo de Assistência a Brasileiros, atende nos telefones: (061) 3411-8803/ 8805 / 8808 / 8817 / 9718 e (061) 8197-2284.

(Ccolaborou Cristiane Agostini)