Título: Candidatura Alencar muda alianças em MG
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2010, Política, p. A5

Depois de apresentar uma melhora em sua luta contra um câncer do abdômen, o vice-presidente José Alencar (PRB) já é cortejado como candidato ao Senado por Minas Gerais. Na semana passada, estiveram com o vice uma delegação de petistas ligados a um dos pré-candidatos do partido ao governo, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, além de políticos aliados ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, como a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG).

Oficialmente, foi anunciado que o vice-presidente será um articulador para o palanque único da candidata do presidente Lula à Presidência, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Em termos concretos, Alencar recebeu a garantia de uma das alas que disputam a candidatura petista em Minas de que terá lugar na chapa. "Ele terá pleno apoio do PT", afirmou um dos participantes do encontro, o deputado federal Virgílio Guimarães. "Na negociação da aliança, uma vaga do Senado já será do PRB", disse Pimentel, que deve se reunir com o vice-presidente nesta semana.

O encontro da semana passada diminuiu a distância entre Pimentel e o vice-presidente, que em 2008 apoiou Jô Moraes para a Prefeitura de Belo Horizonte, contra Marcio Lacerda (PSB), o candidato da aliança entre Pimentel e o governador mineiro Aécio Neves (PSDB), que terminou eleito. A própria Jô Moraes já não demonstra resistência em apoiar Pimentel, se este for o candidato petista. "O episódio de 2008 está superado", disse a parlamentar.

A candidatura de Alencar ao Senado torna ainda mais difícil a composição entre o PT e o PMDB, já que tornaria uma eventual reeleição para o Legislativo do senador e ministro das Comunicações, Hélio Costa, muito difícil. Neste ano, serão dois os senadores eleitos por Minas Gerais, mas há consenso de que o franco favorito para uma das vagas é o governador Aécio Neves, que retirou a pré-candidatura presidencial no mês passado.

Pré-candidato do PMDB ao governo estadual, Hélio Costa deve insistir na candidatura própria, na esperança de que o presidente Lula interfira no processo e faça o PT retirar as duas candidaturas ao governo estadual, em nome da aliança nacional entre os dois partidos.

Para os articuladores da aliança governista em Minas, a presença de Alencar na chapa compensa qualquer perda. "Política não é uma relação matemática. Portanto, não necessariamente as duas alas do PT e o PMDB ficariam com as três vagas fortes da chapa majoritária (governo, vice e Senado). A candidatura de Alencar impulsiona terrivelmente a campanha de Dilma, mais do que qualquer outro somatório partidário", disse Jô Moraes.

Dentro do PT, a candidatura de Alencar ao Senado deve transitar sem dificuldades entre os aliados do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que disputa a pré-candidatura ao governo estadual com Pimentel. Patrus e Alencar estiveram no palanque de Jô em 2008 e o ministro já afirmou, em mais de uma ocasião, que não se interessa em disputar o Senado, caso não vença a disputa interna contra Pimentel no PT.

No campo adversário, uma candidatura de Alencar diminui as chances do ex-presidente Itamar Franco (PPS) e do ex-governador e atual senador Eduardo Azeredo (PSDB), possíveis colegas de Aécio Neves na postulação pelas duas vagas ao Senado. Na história das eleições mineiras, apenas uma vez, em 1986, uma mesma chapa elegeu os dois candidatos ao Senado. Na ocasião, os pemedebistas Ronan Tito e Alfredo Campos.

Candidato derrotado ao governo mineiro em 1994 e senador eleito em 1998, o vice-presidente é um político sem grupo partidário em Minas Gerais. Seu partido, o PRB, é irrelevante. Apesar disso, Alencar é tido como virtualmente eleito. Não há pesquisas que meçam a sua popularidade no Estado, mas é consenso em Minas que a ampla exposição midiática de seu enfrentamento contra o câncer elevou muito o seu prestígio.

Em entrevista aos "Diários Associados", publicada no Natal, Alencar afirmou que está vivenciando "um verdadeiro milagre" com a redução de seus tumores após o tratamento quimioterápico no segundo semestre do ano passado. Neste mês, o vice-presidente deve ser novamente avaliado pela equipe clínica do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. De acordo com o que o vice declarou repetidas vezes, esta avaliação será a decisiva para definir a sua disposição de se candidatar. Caso o prognóstico não seja bom e levando-se em conta seus 78 anos de idade, Alencar deve desistir de se candidatar.