Título: Piñera, a esperança da oposição do Chile para voltar ao poder
Autor: Moffett , Matt
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2009, Internacional, p. A14

Sebastián Piñera, candidato de centro-direita à Presidência do Chile, parece prestes a conseguir algo que nenhum candidato de oposição conseguiu neste país em décadas - vencer uma eleição.

Se o bilionário, que lidera as pesquisas, mantiver sua dianteira durante a eleição do dia 13 e durante um provável segundo turno, em janeiro, ele será o primeiro líder de direita do Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. Pode também ser o mais rico presidente eleito de um país latino-americano, e o mais novo empresário a conquistar a Presidência numa região que muitas vezes viu os industrialistas com desconfiança.

Piñera, um economista de 60 anos formado em Harvard, mantém uma margem ampla, embora os oponentes tenham suscitado questões sobre suas transações empresariais, entre elas alegadas irregularidades na compra de ações da chilena LAN Airlines. Piñera, que se negou a dar entrevista para esta reportagem, negou qualquer irregularidade.

Durante a campanha, Piñera argumentou que o Chile ficou estagnado durante o recente domínio de um partido e propôs recolocar o país na via rápida da economia, uma plataforma que é especialmente atraente para as empresas. Uma vitória de Piñera poderia injetar energia na economia ao mesmo tempo em que mostraria que a direita e a esquerda podem alternar o poder pacificamente no Chile.

Numa pesquisa do Centro de Estudos Públicos, Piñera tinha 36% das intenções de voto, em comparação com 26% para Eduardo Frei, o candidato da Concertación, a coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde o fim da ditadura Pinochet. Marco Enríquez-Ominami, um jovem ex-parlamentar da Concertación que faz uma campanha insurgente, conseguiu 19% na pesquisa.

Se nenhum candidato obtiver a maioria no primeiro turno, os dois mais votados se enfrentarão em nova votação em janeiro. A pesquisa aponta que Piñera ganharia o segundo turno contra Frei por 43% a 37%.

A Concertación consolidou muitas políticas pró-mercado introduzidas durante a ditadura e que transformaram o país num modelo latino-americano. No relatório de competitividade mundial de 2009-10 do Fórum Econômico Mundial, o Chile ficou classificado em 13º lugar no ranking geral e em primeiro na América Latina.

Piñera argumenta que, apesar do status do país, seu crescimento econômico médio de 3,5% nos últimos dez anos foi a metade da década anterior. Para estimular o crescimento, ele propõe incentivos fiscais, agressiva construção de infraestrutura, leis trabalhistas mais flexíveis e uma sacudida na estatal de cobre Corporación Nacional del Cobre de Chile, ou Codelco, que pode ter uma parte vendida a fundos de pensão.

Empresários parecem estar tendo um papel político maior na América Latina, onde a pobreza de grande parcela da população tradicionalmente os levou a manter discrição. Ricardo Martinelli, dono de uma grande cadeia de supermercados, venceu as eleições presidenciais do Panamá em maio. Nas eleições de junho na Argentina, Francisco de Narváez gastou muito de sua própria fortuna, obtida com empresas de comunicações, confecções e imobiliária, para conquistar uma vitória surpreendente ao Congresso, derrotando o ex-presidente Néstor Kirchner.

Com participações em empreendimentos que vão da LAN ao time de futebol Colo Colo, Piñera tem um patrimônio estimado em cerca de US$ 1 bilhão, de acordo com a revista "Forbes". Piñera vem de uma família de políticos - seu pai foi um diplomata e seu irmão, José, um ministro de gabinete no governo Pinochet - e teve uma longa carreira no Senado.

Durante a campanha, ele viu suas propostas de governo eclipsadas algumas vezes por certos negócios polêmicos.

Em julho de 2006, Piñera, na época um membro do conselho da LAN, gastou cerca de US$ 18 milhões por um bloco de 0,9% das ações da companhia. A compra ocorreu 29 minutos depois de uma reunião do conselho na segunda-feira em que os resultados financeiros do primeiro semestre foram aprovados. Os resultados não foram divulgados ao mercado até o fim do pregão de terça-feira, e a ação iniciou o dia na quarta-feira 3% acima da cotação de compra de Piñera.

Em 2007, as autoridades chilenas do mercado o multaram em cerca de US$ 700 mil por causa de uma infração administrativa decorrente da compra. As autoridades chilenas não o consideraram culpado de uso de informação privilegiada, o que seria um crime, mas decidiram que Piñera havia infringido seu "dever de abstenção" na compra de ações antes que os resultados fossem tornados públicos.

A defesa de Piñera argumentou que a compra foi determinada por um modelo de investimento que era ativado a certas cotações e que os resultados semestrais eram muito pouco notáveis para impulsionar de maneira significativa os papéis. Piñera afirmou que o caso teve motivação política, mas pagou a multa sem a contestar.

Em abril, Piñera colocou cerca de US$ 400 milhões de sua fortuna num fideicomisso cego. Ele disse que venderia sua participação de 26% na LAN antes de assumir a Presidência.

Piñera concorreu com a atual presidente chilena, Michelle Bachelet, nas eleições de 2005, mas o magnata educado em Harvard não conseguiu bater o apelo "pé no chão" de Bachelet.

Agora, ele está se beneficiando dos problemas da Concertación, que enfrenta a fadiga do eleitor e divisões internas, apesar da taxa de aprovação de 77% de Bachelet. Não há uma escolha óbvia para assumir o papel dela na coalizão. A constituição chilena impede que ela tenha dois mandatos seguidos.