Título: Incorporação de dados explica erro nas projeções
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2009, Brasil, p. A4

Grande parte do erro constatado nas previsões dos analistas e do governo em relação ao PIB do terceiro trimestre de 2009 deve ser creditada às mudanças nos cálculos do IBGE, provocadas tanto pela inclusão de novos dados nos números passados, como por reações do modelo de cálculo da série com ajuste sazonal -a que compara um período com o imediatamente anterior- à variação brusca dos números provocados pela crise.

Roberto Olinto, coordenador das contas nacionais anuais, e Rebeca Palis, coordenadora das contas nacionais trimestrais do IBGE, explicam que, no terceiro trimestre, há normalmente uma revisão, porque são incorporados às contas trimestrais, dados das contas anuais, mais completas.

Os números novos refletem, por exemplo, alterações em 2008 a partir das ponderações por setor do PIB de 2007, após a incorporação de dados como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e as pesquisas anuais por setor (indústria, comércio, serviços e agropecuária). Tudo isso é resultado do aperfeiçoamento nos cálculos das contas nacionais feito pelo IBGE em 2006. Com as mudanças, o PIB do terceiro trimestre de 2008 cresceu 7,1% sobre o terceiro de 2007, ante os 6,8% anteriormente calculados, elevando a base de cálculo e pressionando para baixo o número deste ano.

Segundo Olinto e Rebeca, há nas mudanças também forte influência da brusca oscilação da curva de desempenho da economia sobre o modelo de cálculo do PIB trimestral com ajuste sazonal. Quando há forte instabilidade, a reação do modelo é colocar os números sob suspeita, acionando um filtro chamado "outlier", como se aquele número fosse uma espécie de peixe fora d"água. Rebeca explica que nesses momento, sem que haja qualquer interferência dos técnicos, o modelo torna a série instável, "sujeita a revisões com a entrada de qualquer novo dado".

Economistas ouvidos pelo Valor concordam que as revisões responderam por boa parte dos erros de projeções do PIB do terceiro trimestre cometidos por consultorias e bancos. Outro fator que influiu nas estimativas foi a expectativa que a economia estava se acelerando de forma mais intensa e mais rápida do que se imaginava, diz Sérgio Vale, da MB Associados.

A queda de 1,2% do PIB trimestral, na comparação com igual período de 2008, e a alta de apenas 1,3% na margem pegaram o mercado de surpresa. Expectativas na média projetavam taxa negativa de 0,2% e crescimento de 2% para as taxas interanual e dessazonalizada. Para Bráulio Borges, da LCA Consultores, os erros de estimativas ocorreram porque as séries do passado, sobre as quais os analistas fazem as projeções, mudaram bastante no terceiro trimestre.

"É comum esta revisão mais profunda no terceiro trimestre, mas desta vez houve mais mudanças. Por exemplo, o consumo do governo na série nova do PIB cresceu muito menos do que se imaginava com a série antiga e a própria variação mudou", diz Borges. "O consumo do governo na série antiga de 2008 fechado tinha crescido 5,7% e, com a revisão, baixou para 1,6%. O mesmo aconteceu com o consumo das famílias. Na série antiga do PIB de 2008, cresceu 5,4%, e na série nova avançou 7,1%."