Título: Cabral comemora texto e prefeitos aguardam conclusão
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2009, Política, p. A10

Depois de esbravejar em Brasília dizendo que o Rio de Janeiro estava sendo roubado e chamando a redução de "gatunagem", o governador Sérgio Cabral mudou o discurso ontem com a aprovação do texto-base do projeto da partilha. "Acho que saiu um resultado onde o Brasil ganhou e o Rio participa como agente protagonista das receitas do pré-sal. O Congresso mais uma vez, não falhou. Demonstrou sua sensibilidade. Não deixou que alguns oportunistas maculassem sua capacidade de resumir o sentimento nacional." Já os prefeitos do Rio e de Niterói que capitaneavam um grupo de sete municípios que conclamaram o governador a defender o Estado, não quiseram se manifestar sobre o assunto, quando procurados pelo Valor. Aguardam a votação dos destaques previstos para a próxima semana.

Destaque articulado em plenário (ver reportagem acima) esteve prestes a ser votado. O deputado Chico Alencar (P-SOL-RJ) disse que um dos autores do destaque, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) teve um momento de Robin Hood e que os deputados do baixo clero se levantaram para apoiá-lo. Foram necessárias manobras regimentais do DEM e do PSDB para impedir a votação.

Já o deputado Hugo Leal (PSC-RJ) contou que alguns parlamentares, como o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) se exaltaram. Este último chegou a gritar "Agora vamos lá! Agora é guerra!" Para todos os três, se a sessão não tivesse sido suspensa, a emenda teria sido aprovada, tamanho era o clima emocional naquele momento.

Ainda nesta semana, Cabral chegou a afirmar que nunca havia existido um presidente com tanto carinho pelo Rio, referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, os deputados que representam a bancada revelaram que o próprio governador chegou a telefonar para alguns deles para pedir que aceitassem o acordo que prejudica municípios. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), repetiu várias vezes que a redução era uma "tunga" aos municípios produtores.

Segundo Hugo Leal, a proposta final foi imposta pelo governo federal. Os líderes do governo informaram que aquele era o percentual máximo possível de se chegar. O deputado criticou a posição do governador em toda a negociação: "Ele teve o timing errado. Devia ter negociado antes e gritado agora. Jogou gasolina no problema duas vezes."

Para o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES) nem Cabral, nem o governador Paulo Hartung (PSB-ES) tiveram a coragem de enfrentar o governo federal, já que são seus aliados. Apesar disso, Vellozo Lucas diz que o maior culpado das perdas para os municípios produtores é o governo federal. "Eles inventaram este projeto e promoveram o conflito federativo", acusa o deputado.

Outro crítico é Chico Alencar. Ele acredita que, na verdade, tudo foi feito como uma política de redução do dano. "Você coloca mais e depois reduz", referindo-se à primeira proposta. Segundo ele, como havia um acordo acertado com o governador e a proposta foi colocada em votação, nada mais havia a fazer, já que os não produtores são maioria.