Título: Arruda desfilia-se para evitar expulsão
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2009, Política, p. A13

Diante da iminente expulsão do DEM, marcada para hoje, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, desfiliou-se ontem do partido. Acusado de participar de um suposto esquema de corrupção, o único governador eleito pela legenda em 2006 afirmou que não pretende deixar o cargo, terminará mais de 2 mil obras em construção e declarou que não será mais candidato enquanto as "atuais regras eleitorais" vigorarem. A decisão de Arruda fez com que o partido encerrasse a apuração do eventual envolvimento de outros filiados no "mensalão do DEM", citados em gravações entregues à polícia, tais como o vice-governador Paulo Octavio e o ex-presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente.

Arruda fez o anúncio de sua desfiliação partidária um dia antes de a Executiva do DEM reunir-se e decidir sobre a permanência dele no partido. Em suas contas, ele percebeu que mais de 80% dos dirigentes votariam pela expulsão. Arruda recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar suspender o processo de cassação no DEM, mas foi derrotado: a ministra Cármen Lúcia negou o pedido de liminar.

Pouco antes da divulgação oficial do resultado do TSE, o governador já sabia que seu pedido não seria aceito. Por volta do meio-dia, ligou para aliados como o ex-deputado Roberto Brant e pediu a presença deles na sede do governo, para anunciar a desfiliação. Arruda fez um pronunciamento rápido, de seis minutos, e disse que foi vítima de "uma farsa" montada por seus adversários políticos para retirá-lo da disputa pela reeleição em 2010. O governador disse ter tomado a decisão para "evitar o constrangimento" de dirigentes do partido", que teriam de decidir "entre saciar a sede por atos radicais e midiáticos ou julgar com amplo direito de defesa" e cumprimento do Estatuto do DEM. Arruda garantiu que terminará as obras em curso do governo e que continuará a "preparar" a capital para a Copa do Mundo de 2014. Sem legenda, disse que não disputará a eleição de 2010, nem sairá candidato enquanto não "mudarem os usos e costumes da política".

Ao justificar-se em relação às denúncias que recaem sobre ele, o governador disse que elas estão relacionadas ao "corte de despesas" e à demissão de funcionários do governo anterior, de Joaquim Roriz (PSC, ex-PMDB), contrariarando "interesses pessoais, políticos e empresariais". O " mensalão do DEM" foi divulgado com a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. No inquérito, Arruda é apontado como o comandante de um esquema de distribuição de propina a deputados distritais e aliados. Sobre as imagens em que aparece recebendo recursos, o governador disse ontem que elas fazem parte de um "triste espetáculo de cenas e imagens montadas com óbvias motivações políticas". "Fatos ocorridos há mais de três anos, ainda no governo anterior, foram embaralhados para incutir na opinião pública a impressão de que tudo se passa no tempo presente", declarou.

A decisão de Arruda surpreendeu dirigentes do DEM. Na noite anterior, ele falou a integrantes da cúpula que continuaria lutando para manter-se na legenda. A recomendação de seus aliados, no entanto, era para que se desfiliasse para diminuir o desgaste político.

O relator do caso de Arruda no partido, o ex-deputado José Thomaz Nonô não havia recebido nenhuma declaração de defesa do governador. Nonô não havia feito seu parecer e, com a decisão de Arruda, o partido suspendeu não só a reunião de hoje da Executiva como também decidiu não deliberar sobre denúncias que recaem sobre Paulo Octavio e Leonardo Prudente. Para o presidente do partido, deputado Rodrigo Maia, "não há nenhuma prova do envolvimento" de outros dirigentes do DEM em um suposto esquema de corrupção e por isso não é preciso continuar com a apuração de irregularidades pelo comando partidário.

"Acho que foi um desfecho menos constrangedor", disse ontem Nonô. "Foi melhor assim". A cúpula do partido comemorou a decisão, por considerar que se descolará das denúncias envolvendo o governador que continuarão a ser investigadas. O temor de dirigentes do DEM era de que o governador fosse cassado em um processo de impeachment enquanto ainda estivesse filiado à legenda. "Agora podemos mostrar que em nenhum momento o partido vacilou", considerou Nonô.

José Roberto Arruda ainda enfrenta problemas na Câmara Legislativa. Dos onze pedidos de impeachment apresentados, três foram admitidos.