Título: Nem maioria no Senado facilitou a vida do presidente
Autor: Luce , Edward
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2010, Especial, p. A14

Ronald Reagan disse certa vez que a política é a segunda mais velha profissão do mundo. O comportamento do Senado americano no ano passado proporcionou abundante ilustração para esse comentário de Reagan.

Diferentemente da Câmara, onde uma maioria simples é exigida, no Senado, com 100 cadeiras, há uma demanda cada vez maior por uma supermaioria de 60 votos. E, no primeiro ano, em vez de garantir um bloco confiável para a agenda de Obama, a bancada de 60 assentos animou muitos senadores democratas a se comportar como se pudessem ser reis por um dia. Os democratas perderam essa maioria com a eleição de um republicano para uma vaga aberta.

O projeto de lei de Obama para o sistema de saúde foi a principal, embora não única, baixa do frenesi "esfomeado" dos senadores.

"Em vez de ser um grupo de irmãos, os democratas no Senado transformaram-se num pelotão de fuzilamento", diz Andy Stern, importante sindicalista. "O Senado dos EUA deveria ser a maior instituição deliberativa do mundo. Mas, no ano passado, sua imagem foi de instituição de terceira categoria, palco de bate-boca de políticos interesseiros."

Alguns analistas culpam Obama por não ter enviado ao Senado um detalhamemento da lei que desejava ver aprovada. Isso, dizem eles, deu ao Senado margem de manobra para permitir que interesses especiais selecionassem o que desejavam. Entretanto, dada a natureza do Senado e de interesses diversificados da coalizão democrata, parece improvável que, se Obama tivesse sido mais preciso, isso teria feito grande diferença.

O espetáculo beirou o cômico. Em novembro, Mary Landrieu manteve refém o projeto de lei, até que Harry Reid, o lider da maioria no Senado, inseriu uma emenda de US$ 300 milhões para o Estado dela, a Louisiana. Apelidada "compra da Louisiana", em referência à aquisição - por Thomas Jefferson, por US$ 15 milhões - desse território da França em 1803, a barganha de Landrieu definiu um tom seguido por outros.

Pouco antes do Natal, Ben Nelson obteve belos US$ 100 milhões para o Nebraska nos termos da seção do projeto de lei intitulado "tratamento equitativo para determinados Estados". "Bem, você sabe, veja, eu não pedi um favor especial nesse caso", disse ele.

Por outro lado, Joe Lieberman, de Connecticut, conquistou para si apenas notoriedade quando ameaçou torpedear a legislação proposta ao combater a inclusão de uma opção já inócua de seguro-saúde público. Seu resíduo foi devidamente eliminado.

E o pior para Obama é que é quase certo que que seu partido vá perder ao menos 3 ou 4 assentos no Senado em novembro. Isso daria ainda mais poder a republicanos moderados, como Susan Collins e Olympia Snowe, do Maine, ambas também extremamente habilidosas em arrancar concessões casuísticas.