Título: Governo nega morte de brasileiros no Suriname
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2009, Internacional, p. A11

O governo brasileiro divulgou nota na noite de ontem na qual diz que não há relato de morte de brasileiros no confronto ocorrido com habitantes da cidade de Albina, no Suriname, na noite de Natal. A nota confirma que há quatro brasileiros feridos internados em estado grave na capital do país, Paramaribo.

"Não houve comprovação de mortes de brasileiros. As declarações dos nacionais ouvidos em Albina coincidiram com as dos brasileiros que se encontram em Paramaribo, no sentido de que não testemunharam nenhum assassinato de brasileiro. A maioria dos relatos se referia à violência das agressões e à brutalidade do ataque, mas sem qualquer menção a mortes", diz a nota oficial do governo. Logo após o confronto, houve relatos que indicavam que até sete brasileiros poderiam ter morrido.

O Itamaraty confirmou que uma brasileira, Denicléa Furtado Teixeira, ferida com gravidade numa mão, fio atendida na cidade vizinha de Saint-Laurent du Maroni, na Guiana Francesa. Ela estava grávida de três meses e abortou "em função do trauma emocional".

Cinco brasileiros que vivem no Suriname retornaram à noite ao Brasil, num avião da Força Aérea Brasileira, após ataque que deixou ao menos 25 pessoas feridas. O grupo chegou a Belém (PA) com ferimentos leves. O avião que trouxe os brasileiros havia levado ao Suriname, pela manhã, uma missão diplomática para verificar a situação da comunidade brasileira em Albina, cidade a cerca de 150 km da capital Paramaribo, junto à fronteira com a Guiana Francesa.

A nota do governo brasileiro confirma que o motivo do incidente teria sido uma briga entre um brasileiro e um surinamês, por causa de dinheiro. O brasileiro teria matado o surinamês com uma facada, por volta das 22h30 da véspera de Natal. Em retaliação, centenas de moradores locais foram ao acampamento dos brasileiros horas depois, armados de facões, e agrediram quem estava por lá. O conflito praticamente destruiu a vila onde os brasileiros viviam.

O brasileiro que teria causado o incidente estaria foragido na Guiana Francesa, segundo autoridades do Suriname. E estavam detidos 22 surinameses suspeitos de participar do ataque aos brasileiros.

Essa região do Suriname é marcada pela violência e pela informalidade. Moradores da região norte do Brasil emigram para a antiga colônia holandesa para trabalhar na mineração de ouro. Tanto o trabalho de mineração quanto a permanência dos brasileiros na região são ilegais. Atualmente, entre trabalhadores da mineração e outros imigrantes, há uma comunidade de mais de 15 mil brasileiros no Suriname, segundo a embaixada brasileira - o país tem cerca de 500 mil habitantes. Recentemente, o governo do país facilitou a legalização dos brasileiros no país.

Diplomatas entrevistaram ontem cerca de 50 brasileiros para diagnosticar o problema enfrentado pela comunidade no país na noite de Natal. Do grupo ouvido, apenas cinco decidiram retornar imediatamente ao Brasil.

O secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, conversou na noite de sábado com a ministra interina de Negócios Estrangeiros do Suriname, Jane Aarland, e ouviu que o governo do país empregaria "todos os esforços para garantir a integridade física dos brasileiros."