Título: Porto de Santos deverá triplicar carga até 2014
Autor: Rodrigues , José
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2009, Empresas, p. B6

O porto de Santos viu sua movimentação saltar de menos de 55 milhões de toneladas em 2003 para 80 milhões de toneladas em 2008, um aumento de quase 50% em um período de apenas cinco anos. A ameaça de um crescimento explosivo na movimentação levou o porto a se preparar com um estudo detalhado sobre a evolução de sua demanda nos próximos anos, e os investimentos necessários para atendê-la. Fruto de um convênio entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Secretaria Especial de Portos (SEP), o estudo aponta que a autoridade portuária precisa buscar instalações capazes de movimentar, em 15 anos, 230 milhões de toneladas - o triplo do volume atual.

O documento, inédito pela abrangência, inclui simulações matemáticas sobre tendências da economia mundial, com taxas de crescimento do PIB de cada país, do câmbio, valores de mercadorias e custos do transporte em diferentes modais, entre outros indicadores. O estudo já indica carências no porto, como na área de granéis líquidos, fertilizantes, e enxofre, e dá suporte a planos para mudar o acesso a Santos, fundado no transporte rodoviário e prestes a entrar em colapso.

Vencedores de uma concorrência pública, os grupos Louis Berger, norte-americano, e Internave, brasileiro, acabam de entregar à Codesp o resultado de cerca de um semestre de trabalho, ao custo de US$ 1,3 milhão, dos quais o BID responde por US$ 1 milhão e a SEP, US$ 300 mil. O Valor teve acesso aos principais dados do denominado Plano de Expansão do Porto de Santos, que dá à Codesp a munição necessária para elaborar seu próximo Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ). "É um presente que a Codesp ganhou, não vai para a prateleira. Estamos aferindo números e cenários apresentados para levar ao Conselho de Autoridade Portuária (CAP) o novo PDZ até o final de primeiro semestre de 2010", estima o engenheiro Renato Barco, diretor de Planejamento Estratégico e Controle da Codesp.

Ao mesmo tempo, a estatal recebeu um projeto do Laboratório de Transportes da USP, traçando a política a ser implantada para melhorar a acessibilidade ao porto. Em ato público, em data a ser marcada, com a presença do ministro Pedro Brito, titular da SEP, será apresentado o novo projeto que, segundo Barco, está relacionado ao projeto financiado pelo BID.

"É preciso viabilizar a carga que está para chegar a Santos, esse o desafio, e para isso buscamos a contribuição da USP", explica o diretor da Codesp. Barco adianta que um dos principais focos do projeto é o do aumento do modal ferroviário no transporte de cargas para o porto, hoje em torno do equivalente a 15%. Prevê ainda a conveniência de uso de alternativas para a carga chegar e sair dos terminais privados, como dutovia, malha hidroviária da Baixada Santista e esteiras rolantes para minérios.

O horizonte total do trabalho da Louis Berger e Internave vai até 2024, dividido em três períodos de cinco anos, com previsões pessimista, otimista e "base". No cenário otimista, a previsão é de 229,73 milhões de toneladas, enquanto na pessimista, 137,42 milhões de toneladas e no conceito "base", 180,75 milhões de toneladas. Santos espera fechar 2009 com 82,1 milhões de toneladas, mais 1,2% sobre o ano passado.

O estudo já aponta faltas e carências de cais, a exemplo dos setores de líquidos a granel, enxofre e fertilizantes, cujas embarcações têm se acumulado na barra de Santos à espera de berços de atracação. Outros confrontos indicam que a taxas de utilização de cais para líquidos e enxofre são as maiores do porto, ou seja, os respectivos berços de acostagem estão sendo ocupados sem folgas. "O pessoal do líquido está sofrendo", reconhece Barco, enquanto admite como certa a expansão do píer da Alemoa, com mais dois berços, bem como áreas na ilha Barnabé, outro local que abriga a recepção de granéis líquidos de origem mineral. As importações de GLP, com crescimento de 226% de janeiro a outubro, e as exportações de gasolina, com crescimento de 33,6%, e diesel, com 45,4%, são exemplos da forte demanda do setor.

Para os granéis sólidos, há uma temporária acomodação para produtos como o complexo da soja e do açúcar - apenas o açúcar teve expansão expressiva em 2009, com a estimativa de atingir 17 milhões de toneladas, recorde histórico. Mas para o enxofre o déficit de instalações já neste ano chega a um milhão de toneladas, número que poderá chegar três milhões de toneladas em 2024. Para fertilizantes, déficits de instalações estão previstos para o terceiro quinquênio do período, a partir de 2019. A Codesp revela que está com dificuldade para encontrar área apropriada de expansão para fertilizantes, enquanto prevê destinar uma nova área, na margem esquerda - Conceiçãozinha - para outros tipos de granéis sólidos.

O setor de carga geral, no qual estão os contêineres, deve apresentar um avanço, até 2024, de 214%, no cenário otimista, passando dos atuais 2,9 milhões de TEUs (unidades de 20 pés), para 9,01 milhões de TEUs. Em termos de peso, os contêineres a serem operados dentro de 15 anos, com 84,35 milhões de toneladas, significarão um montante superior a toda a carga movimentada no porto de Santos em 2009.

Mas no setor de contêineres o crescimento já está equacionado. Como a base de dados foi o ano de 2008, a quebra de cerca de 15% em 2009, prevista pela Codesp, dá um fôlego para o futuro próximo, à espera da recuperação da economia mundial. Os principais projetos do setor indicam aumentos de desempenho em alguns terminais, como da Santos Brasil, que deve pôr em função seu Tecon 4, o reordenamento do cais da Libra, com unificação de áreas, e a ampliação do Tecondi, este para atingir cerca de 700 mil TEUs. Além disso, novos terminais devem aumentar a oferta de capacidade: o Embraport deve, a partir de 2014, entrar no ramo, com capacidade para movimentar 1,85 milhão de TEUs, e a Brasil Terminais Portuários (BTP), com 1,79 milhão de TEUs (um terço em 2014). A área denominada Prainha, na margem esquerda, a ser ainda licitada, está dimensionada para 600 mil Teus.