Título: Declarações de Lula levam PMDB a aumentar pressão por apoio no RJ e MG
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2009, Política, p. A6

O PMDB intensificou a cobrança por apoio do PT no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Nos dois Estados a aliança regional está em risco, com a perspectiva de lançamento de candidatura própria petista. A reivindicação ganhou força com o mal-estar gerado entre os partidos a partir de uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cobrou do aliado uma lista tríplice para que o PT escolha quem deve ser o candidato a vice da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na disputa presidencial, em 2010. Pemedebistas argumentam que os diretórios do Rio e Minas têm o maior peso na Convenção Nacional do partido, instância que definirá se a legenda apoiará Dilma, e ameaçam com uma eventual ruptura se não houver um aceno do presidente Lula nesses Estados.

Os pemedebistas ligados ao governo federal ficaram irritados com a declaração de Lula, feita na semana passada, que colocou em jogo a indicação do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Dirigentes pemedebistas classificaram como "ingerência" de Lula e , em contrapartida, afirmaram que o pré-acordo entre os dois partidos poderá se desfazer. "A declaração de Lula representou um retrocesso na negociação dos dois partidos", disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN). "Há Estados com problemas na aliança e declarações como essa colocam em risco a aprovação do acordo na convenção", explicou Alves, um dos principais articuladores da indicação de Temer como vice de Dilma. "A aliança não está certa, depende ainda de ser aprovada na convenção", reforçou. "E da mesma forma como o PT insiste na indicação de Dilma para a Presidência, insistimos na indicação de Michel Temer", disse.

A presidente interina do PMDB, deputada Iris de Araujo (GO), reforçou: "Houve um estremecimento da relação entre PMDB e PT. Pré-acordo não significa um acordo firmado e precisamos construir um ambiente propício. Tudo pode influenciar na decisão final", afirmou. "Para selar a aliança, é preciso vitória na convenção e ainda precisamos aparar as arestas", comentou o deputado Eduardo Cunha (RJ). Os delegados indicados pelos diretórios do PMDB do Rio e de Minas correspondem a cerca de 25% do total dos representantes que votarão na convenção do partido. O diretório mineiro tem quase o triplo de delegados de São Paulo - diretório comandado pelo ex-governador Orestes Quércia, que apoia o PSDB.

Com o mal-estar, o PMDB cancelou a reunião marcada para esta semana para tratar de problemas na aliança nos Estados. Desde a declaração de Lula, no fim da semana passada, dirigentes e ministros petistas, como o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ligaram para pemedebistas para tentar amenizar o problema. Temer e seus aliados, no entanto, esperam uma manifestação pessoal do presidente Lula para melhorar a situação.

Hoje as bancadas do PMDB no Congresso se reunirão na casa do deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) e tratarão das articulações para a Convenção do partido, em 2010, e a aliança com o PT na sucessão presidencial.