Título: Denúncias ameaçam posse de tucano no governo catarinense
Autor: Jungerfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2009, Política, p. A11

Prestes a assumir o governo de Santa Catarina, em substituição ao governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), que sai para se dedicar à sua candidatura ao Senado, o vice-governador do Estado, Leonel Pavan (PSDB), enfrenta inquérito da Polícia Federal e denúncia do Ministério Público estadual que o acusa de três crimes, entre eles, de ter cometido corrupção passiva.

A denúncia, formalizada em meio à preparação de seu programa de governo, não o levou a pisar no freio. Não tem comentado publicamente as denúncias a não ser por comentários evasivos como o do seu site pessoal - "É na dificuldade que o administrador público se destaca" - ou no twitter onde, na última quarta-feira, um dia depois da denúncia, registrava: "Este episódio está me fazendo conhecer lobos em pele de carneiro", sem explicar exatamente ao que se referia. Em um blog que também mantém ativo, Pavan postou a nota oficial, em que se defendia da acusação da Polícia Federal e da denúncia do MP-SC.

O nome de Pavan surgiu durante investigações da Polícia Federal em relação a crimes tributários cometidos de empresas de transporte interestadual de combustíveis no norte de Santa Catarina e que derivou posteriormente na Operação Transparência. O nome de Pavan surgiu a partir dessas investigações. Os crimes em que ele foi denunciado são: corrupção passiva, advocacia administrativa e violação de segredo profissional. A corrupção e a advocacia teriam relação com o pedido de um pagamento de R$ 100 mil para Pavan por parte da Arrows Petróleo do Brasil Ltda para que tivesse suas notas fiscais eletrônicas suspensas e para que tentasse impedir o cancelamento da sua inscrição estadual, usando a influência do seu cargo e de alguns servidores públicos. Pavan teria ainda informado à empresa, que tem débitos de R$ 13 milhões com o governo, sobre possíveis investigações em curso.

Procurado pelo Valor, Pavan não concedeu entrevista. Em rara presença na imprensa estadual (RBS) desde que o caso se tornou público, Pavan informou na sexta-feira que poderá "reanalisar a questão entre assumir, estar num governo interino e estar governando sob o fio da navalha", mas disse que não descarta assumir o governo definitivamente em 1º de abril.

Entre alguns correligionários, os comentários são de que, a mando do PT, a Polícia Federal estaria agindo politicamente, o que a instituição tem negado sucessivamente. A oposição tem batido na tecla de que as denúncias tornam "inviável Pavan assumir o governo do Estado".

A presidente do PT-SC, Luci Choinacki, diz que, "no mínimo, é constrangedor alguém suspeito sentar nesta cadeira (de governador)". Ela vê similaridades no episódio de Pavan com o caso José Arruda (DEM), em Brasília, e com as denúncias que envolvem Yeda Crusius (PSDB), governadora do Rio Grande do Sul. Os correligionários catarinenses de Pavan têm evitado dar entrevistas.

O vice-governador começou a carreira como vereador e depois foi prefeito por três vezes (1988, 1996 e 2000) de um dos mais importantes destinos turísticos de Santa Catarina, a cidade de Balneário Camboriú. Foi deputado federal e então senador, cargo que renunciou em 2006 para assumir como vice de Luiz Henrique. Naquele ano, Pavan fez parte de uma aliança inédita no Estado, que uniu PMDB, PSDB e DEM.

Um partidário próximo disse que dificilmente Pavan não assumirá a cadeira de governador no dia 5 de janeiro, mesmo depois da denúncia, porque este acerto foi feito com o atual governador ainda em 2006, por ocasião da aliança. Não só terá o comando, como também terá uma cota de correligionários tucanos que entrarão em 2010 para o governo. "Pavan tentará fazer um governo de impacto para chamar atenção", disse. "Ainda mais agora, que precisa correr atrás do prejuízo da sua imagem, uma vez que parte em desvantagem em relação a Raimundo Colombo, pré-candidato do DEM ao governo do Estado, e com quem disputará em abril a preferência dos militantes da aliança como o nome a sair para a eleição ao governo estadual", acrescentou.

A posição do governador Luiz Henrique, já colocada durante a última semana, é de que Pavan irá assumir, mesmo diante do episódio, pois não houve condenação. Tratam-se, por enquanto, de denúncia e de indiciamento.

Gaúcho de 55 anos, Pavan chegou a Santa Catarina com poucos meses de idade, indo morar no oeste do Estado. Em 1981, começou a carreira política em Balneário Camboriú, tendo o setor turístico e imobiliário como seu principal aliado. Sua família é conhecida por ter sido dona de uma churrascaria no município, onde ele trabalhava de garçom.

Conhecido por ser um "italianão", bem humorado e às vezes um tanto explosivo, que "diz o que nem sempre deveria dizer", nas palavras de um amigo próximo, Pavan passa a semana em Florianópolis, mas costuma aos fins de semana ir para Balneário. Dentre suas atividades, há tempo para jogos de bocha, tradição no município.

O presidente em exercício do PSDB catarinense, Marco Tebaldi, afirma que o partido "está dando apoio" ao vice-governador no episódio da denúncia e "acredita na sua inocência". Como característica à frente do governo, Tebaldi acredita que Pavan deverá ser um governador "mais popular", "mais emotivo" e mais "aguerrido" que Luiz Henrique.

Nas últimas eleições no seu reduto eleitoral, Pavan teve alguns contratempos e precisa mudar o quadro em 2010. Na eleição de 2006, a tríplice aliança não foi vencedora ao governo do Estado em Balneário Camboriú, que preferiu o PP de Esperidião Amin. Em 2008, o candidato de Pavan à prefeitura local, Dado Cherem (PSDB), perdeu para Edson Periquito, do PMDB.