Título: Por 2010, oposição reduz pressão contra Arruda
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2009, Especial, p. A20

O governador José Roberto Arruda (sem partido-DF) deve ganhar um novo aliado na luta contra o impeachment. Além de ter maioria na Câmara Legislativa, Arruda poderá contar com a pouca disposição dos partidos em afastar um governador que não disputará a reeleição em 2010. Integrantes de diversos partidos ouvidos pelo Valor admitiram que tirar Arruda do cargo, neste momento, fortaleceria politicamente outros personagens confirmados para a sucessão, como Paulo Octávio (DEM-DF), Joaquim Roriz (PSC) ou Agnelo Queiroz (PT).

O raciocínio político é pragmático. Se Arruda for afastado, assumirá o Palácio do Buriti o vice-governador Paulo Octávio. Com dinheiro em caixa e um rol de mais duas mil obras em execução pela cidade, Paulo Octávio torna-se um nome fortíssimo para governador. "Arruda era uma candidato muito mais denso, não há dúvidas. Mas sem ele, Paulo Octávio torna-se viável", afirmou um parlamentar da cúpula do DEM.

Paulo Octávio, porém, ainda pode ter seu nome envolvido diretamente na Operação Caixa de Pandora - até o momento, a única citação envolvendo o nome do vice-governador foi feita pelo diretor da Construtora Paulo Octávio, Marcelo Carvalho, filmado pegando propina com o ex-secretário de relações institucionais do DF, Durval Barbosa. Paulo Octávio divulgou nota dizendo não ter autorizado ninguém a pegar dinheiro em seu nome. Ao partido, garantiu que Carvalho tem condições plenas de explicar suas palavras se for intimado pela Justiça.

Caso isso aconteça, a Câmara Legislativa poderá ser convocada a fazer uma eleição indireta para escolha de um governador-tampão com mandato de um ano. "O clima na Câmara é muito polarizado entre PT e o grupo ligado ao ex-governador Joaquim Roriz. Uma eleição indireta para governador, feita pela Casa, fatalmente trará vantagens para qualquer um dos grupos", completou um observador das questões políticas do Distrito Federal (DF).

Um líder da esquerda local declarou que até os partidos de oposição ao GDF começam a diminuir sua pressão pró-impeachment em busca de uma conciliação política. "A desfiliação de Arruda, que o impede de ser candidato no próximo ano, deu a ele uma sobrevida que parecia impossível", comentou.

O governador conseguiu adiar para janeiro qualquer processo na Câmara. Ainda aprovou, com o voto da oposição, o Orçamento de 2010. "Seria besteira da oposição não aprovar o orçamento. O salário do funcionalismo pode ser pago pelo sistema de duodécimos, mas os investimentos seriam cortados. A cidade seria punida, não Arruda", afirmou um parlamentar federal que ajudou nas negociações com a Câmara Legislativa.

O futuro líder do PT na Câmara Legislativa, Paulo Tadeu, tem medo de que o pragmatismo acabe por fortalecer o governador. Ele não acredita que Arruda vá ficar sangrando por tanto tempo. "Se as pessoas esquecerem e não pressionarem mais, ele vai sair inaugurando obras e fazendo campanha para eleger o sucessor. Ele ainda tem a máquina administrativa sob controle", lembrou Tadeu. Um ex-companheiro de DEM afirmou que Arruda, ao se desfiliar para escapar de um processo de expulsão no partido, chegou ao fundo do poço. O que, paradoxalmente, pode ser bom. "Qualquer movimento que ele fizer será positivo. Se esquecerem dele, aí sim Arruda está no lucro", acrescentou um integrante da Executiva Nacional do DEM.

Um mistério nesse debate é qual será o papel exercido pelo ex-governador Joaquim Roriz. Há dois meses, durante conversa com um parlamentar federal, Roriz fez uma declaração que parecia loucura. "Arruda não será candidato à reeleição". Na mesma conversa, Roriz foi questionado se concorreria em 2010. "Não sei. Minha motivação pra concorrer seria derrotar esse menino (Arruda). Se ele não for candidato, não sei se serei", teria dito ele, segundo relato desse interlocutor ao Valor.